O caso da avó: Mariana Mortágua “mentiu descaradamente” na TV – mas há pormenores por explicar

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Filipe Amorim / Lusa

O Novo Regime de Arrendamento Urbano, ou “Lei Cristas”, volta a ser assunto mais de uma década depois. Foi um truque ou não?

A primeira semana de debates televisivos, na campanha eleitoral para as eleições legislativas de Março, teve uma protagonista inesperada.

Não é nenhuma líder partidária, não é uma deputada, não é nenhuma antiga ministra.

É uma avó.

Logo no segundo dia de debates, entre Mariana Mortágua e Luís Montenegro – provavelmente o melhor até agora – a coordenadora do Bloco de Esquerda falou sobre a sua avó quando o assunto foi o arrendamento em Portugal.

“Eu lembro-me de uma lei das rendas, em que as pessoas idosas recebiam uma carta, e, se não respondessem durante 30 dias, a renda aumentava para qualquer valor e podiam ser expulsas. Eu vi idosos a serem expulsos, eu conheço o pânico que era receber uma carta do senhorio. Eu vi o sobressalto da minha avó ao receber cartas do senhorio, porque não sabia o que é que lhe ia acontecer, e essa foi uma responsabilidade do PSD, que esvaziou as cidades”.

Esta passagem do debate refere-se à “Lei Cristas”, dos tempos da ex-ministra Assunção Cristas. A liberalização do mercado de arrendamento em Portugal (fruto de pressões externas, da troika) trouxe o Novo Regime de Arrendamento Urbano, em 2012: descongelou os contratos anteriores a 1990 e facilitou despejos de quem não pagasse. Os senhorios podiam enviar cartas com aumentos de rendas antigas, dando ao inquilino 30 dias para responder.

Mas havia duas alíneas importantes: uma delas é que quem tivesse rendimentos abaixo de 2.500 euros não podia ser despejado ou ver a renda muito aumentada; e o segundo aviso – este interessa mais neste caso – é que quem tivesse mais de 65 anos estava protegido de despejos e de grandes aumentos nas rendas.

Mariana Mortágua tem 37 anos. Parte-se do princípio que a avó da deputada tinha mais de 65 anos (mesmo tendo sido há cerca de uma década); por isso, não poderia ser despejada.

No entanto, o Polígrafo sublinhou entretanto que, apesar da lei, o senhorio podia enviar uma carta na mesma. A inquilina é que tinha 30 dias para reagir e recusar o aumento/despejo porque tinha mais de 65 anos (ou por outro motivo). Ou seja, o “sobressalto” pode ter acontecido.

E ainda havia uma excepção: quando o senhorio indicava que era preciso fazer obras profundas na habitação. Se fosse obrigatório deixar a casa vazia temporariamente, poderia haver um despejo e a suspensão da execução do contrato.

Entretanto, nesta quinta-feira Mariana Mortágua já apareceu noutro debate, com Rui Tavares. Mas não esclareceu o assunto porque “não faz sentido” apresentar casos particulares. Disse apenas: “A minha avó sentiu esse sobressalto e não foi a única com a lei cruel aprovada em 2012”.

O comentador Bernardo Ferrão avisa na SIC Notícias: “Quando um político traz um caso destes para cima da mesa, porque há muita gente a sofrer com o preço das casas, é preciso que a Mariana Mortágua saiba explicar o caso e dar todos os dados do caso”, explicou Bernardo Ferrão.

Henrique Pereira dos Santos foi mais longe (neste e noutros assuntos), no jornal Observador, atingindo também os jornalistas: “Mariana, como vários outros políticos, usam frequentemente este truque porque sabe que mentir descaradamente é mediaticamente irrelevante, desde que a mentira esteja ao serviço do lado certo“.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

14 Comments

  1. Na era dos comentadeiros, os portugueses estão fartos de novelas e de pressões veladas e tendenciosas
    Deixem de se comportar como famintos ansiosos, que aparam o que o guardanapo não limpa, mas desprezam o sobrante que mataria a fome.
    Quero lá saber da avó da Mariana! Sei, porque acompanhei, que muitas avós foram vítimas dessa política desumana, e é isso que importa discutir.
    “Cresce e aparece”, diz o povo.
    É indispensável que apareçam e estamos gratos ao 25 de Abril por tê-lo permitido, mas por favor, tratem primeiro de crescer. A sério!
    Estamos fartos de sentir vergonha alheia.

  2. Mentirosa sem vergonha esta Morta de Água, uma aldrabona politiqueira rasca, aprendeu com o aldrabao mor o Costa, só espero que o bloco desapareça da assembleia brevemente..

  3. Mas isso não contradiz o que disse a Mariana Mortágua (nem o comentário anterior) que o facto de receberem a carta causou algum sobressalto nas pessoas… até porque poderia haver a hipótese do senhorio alegar que a casa precisava de obras profundas…

  4. Receber cartas com contas para pagar ou responsabilidades da sempre sobressaltos a toda gente!! Essa conversa fiada da avó é a mesma conversa que outros políticos usam para transcrever deter
    Determinadas situações, o mal aqui está que ela mentiu sobre o que realmente aconteceu a uma pessoa com 65 anos! E mentiu para fazer campanha política contra o grande inimigo, a direita!

    Estes extremismos metem nojo, mas infelizmente não são diferentes da direita e centro! Afinal de contas o centro é o conhecido com mais corruptos e ladroes , com varias bancas rotas e primeiros ministros corruptos! Casos que á 20 anos eram inéditos agora são quase o normal de um país na ruina.

  5. Rui,
    Há alguma lei que impeça avós de terem menos de 65 anos?
    Eu leio as notícias, mas, mais que ler notícias, tenho memória e não abdico dela, em troca de nenhuma notícia. Quem não tinha filhos ou alguém que ajudasse, ficava em pânico, chorava, lamentava-se e mais nada fazia, a não ser render-se e ficar sem casa. Está a ver pessoas idosas e pobres a recorrerem aos advogados?
    Nos bairros castiços de Lisboa, onde viviam os mais idosos, foi uma rasia. Um verdadeiro assalto à paz e aos direitos da peste grisalha
    Pergunte aos mais velhos o que sobre o assunto aparecia nas notícias todos os dias.
    Pode crer queva grande parte dos AL, nasceram à custa das lágrimas de muitos que não mereciam

  6. Ah Grande Lucinda! O que é propriedade privada deve acabar rapidamente. O problema é quando já não houver ninguém a criar riqueza, quero ver o que vão distribuir.
    Julgo que o problema deste país é a falta de equilíbrios, ou seja nem estado a mais nem estado a menos; Investimento privado com uma regulação firme do estado, o que não acontece, senão vejamos o caso da CGD que tem uma grande participação do estado, diz que representa o estado e, no entanto, quem precisa de um crédito à habitação, por exemplo, encontra ali não as melhores condições (o tal efeito regulador) mas sim uma das piores ofertas do mercado.
    Voltando ao caso da habitação, se calhar o caso que vou descrever irá mais de encontro com as ideias da menina Mortágua. O que se passou foi que um senhorio, em Ermesinde, arrendou um T2 por € 350,00 por mês (imagine-se a fortuna atendendo ao local) e além de ficar sem receber vários meses e com a casa toda rebentada, agora quando de dirigiu às Águas de … para ligarem a água para poderem efetuar as reparações e dela usufruírem, foi informado que a água só seria ligada quando fosse efetuado o pagamento de mais de € 600,00, que o último inquilino deixou por pagar.
    Agora tirem as vossas conclusões.

  7. A tal lei Cristas parece ser de 2012. Mas porque é que o PS com o apoio do Bloco da Mortágua e o PCP não mudaram a lei quando estavam coligados? E porque é que o PS que está no poder há 8 anos ainda não alterou a lei?
    Em oito anos podia-se ter alterado muita coisa, a começar pelo que achava mais importante alterar. Só que o PS não fez sequer uma reforma. Foi navegar à vista, “pró voto”. E nos dois últimos anos com maioria absoluta implodiu!

  8. A questão passa pela ressecção de uma carta errada perante a lei, que infelizmente neste país ofende bastante o recebedor, já por si idoso e fruto duma literacia que náo existiu, nem existe ainda no país atual. Admito neste caso e anos depois, fazer idêntico comentário se o caso tivesse acontecido com a minha avó. Aliás a importância do assunto náo é nenhuma, serve apenas os fracos jornalistas e falsários , prolixos na comunicação dos nossos dias, bem como o circo de acusações mutuas que substituiu os programas ,no deprimente circo da campanha eleitoral, Em vez de informar insulta-se , agride-se, manipula-se a vida de cada um nos seus atos íntimos e pessoais. Á “democracia” da vergonha e da corrupção , junta.se uma campanha imprópria de gente civilizada . O país , pequenino, náo consegue sair da pequenez cultural e politica. Quem tem um pouco de seriedade, conhecimento e capacidades para governar o país, afasta-se desta pacovice, como os se afastam os doutores saídos das universidades, quando náo tem empregos nem remunerações decentes na pátria Mãe do 10 de Junho. Vão pelo mundo fora , para trocar esta vida reles por um viver mais decente e respeitado.

  9. Eu acho sempre uma delicia quando se defende os arrendatários.
    Porque são idosos e porque são pobres e porque são mais coisas e tal.
    E os proprietários desses prédios?
    Não têm boca?
    Como é que faziam para viver com as rendas absurdas anteriores a essa lei?
    Pessoas que investiram, hipotecaram, e trabalharam para pagar a construção de um prédio para alugar e depois ficaram 40 anos a receber 30 euros…
    1- As casas são um bem comercial. São a habitação de uns e o suor dos outros. Por isso o mercado tem mais é que ser aberto. Ninguém reclama se o banco lhe ficar com o carro porque não pagou o leasing. Porque ha-de ser diferente com a renda da casa??? Não tem que ser imediato. Mas também não tem que demorar uma eternidade o despejo. A única coisa mais idiota que isso é essa lentidão também acontecer nos espaços comerciais e de serviços.
    2- Há casas que cheguem para todos e o preço nem sequer precisa de subir tanto assim. É gentilmente mandar embora todos os que para cá vieram sugar o pouco que temos e a coisa volta rapidamente à normalidade de quantidade e valor.
    3- O que me custa a entender sobre o Bloco e os seus lidera (com alguma excepção ao primeiro que ainda dizia algumas coisas sustentadas e com saber), é como há gente que se identifica com tamanhos charlatões…

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