Manuel Serrão: o “principal mentor” da fraude terá vivido em hotel pago por fundos europeus

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// RTP / Flickr, Sugo Cork Rugs

Esquema alegadamente fraudulento conseguiu 39 milhões de euros para 14 projetos cofinanciados por fundos europeus.

O MP considera o empresário Manuel Serrão “o principal mentor” do alegado esquema fraudulento que permitiu a obtenção, desde 2015, de quase 39 milhões de euros para 14 projetos cofinanciados por fundos europeus.

O empresário portuense e vogal da Associação Selectiva Moda, é o principal suspeito e o “mentor” do alegado esquema na obtenção de subsídios comunitários, e que levou a Polícia Judiciária a realizar 78 buscas no âmbito da Operação Maestro, na qual são também suspeitos o jornalista Júlio Magalhães, e os empresários António Sousa Cardoso e António Branco e Silva.

A Selectiva Moda tem como objetivo valorizar a industria têxtil portuguesa no exterior, organizando ou participando em exposições, salões, certames ou feiras de artigos têxteis e moda, em Portugal e no estrangeiro.

O MP diz estar ainda indiciado que Júlio Magalhães “também faturou serviços a sociedades controladas por Manuel Serrão, os quais não apresentam correspondência com a realidade“.

Quanto ao Jornal T, fundado em 2015, para divulgar a indústria têxtil e de vestuário portuguesa, dirigido por Manuel Serrão, conta com colaborações permanentes de Júlio Magalhães e da designer Katty Xiomara — também alvo das buscas.

“Suscita-se a suspeita de que alguns dos colaboradores do jornal são, em simultâneo, funcionários da Selectiva Moda e da [empresa] Nicles, sendo na redação desse jornal que têm os seus postos de trabalho, indiciando-se que as suas remunerações possam estar a ser imputadas em projetos cofinanciados da Selectiva Moda, nos quais a Nicles figura como fornecedora”, frisa o MP.

8 anos num hotel

O Ministério Público (MP) suspeita do “comprometimento” do presidente do Compete 2020, Nuno Mangas, e de uma antiga vogal, assim como de diretores da AICEP, no alegado esquema fraudulento que permitiu obter 39 milhões de euros em fundos comunitários.

Segundo documentos judiciais a que a agência Lusa teve acesso, o MP diz que “no caso das operações sob investigação no âmbito da Operação Maestro”, coube à AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, “a análise técnica e acompanhamento dos 14 projetos em causa de que a Associação Selectiva Moda – controlada pelo empresário Manuel Serrão – foi beneficiária, procedendo à verificação dos pedidos de reembolsos e apuramentos das despesas financiadas”.

Essas despesas foram depois “validadas pela autoridade de gestão do Compete 2020 — Programa Operacional Temático Competitividade e Internacionalização, com vista ao respetivo reembolso”.

“Indicia-se o comprometimento de funcionários da AICEP, caso de Ana Isabel Rodrigues Gonçalves Pinto Machado (diretora da Direção de Verificação de Incentivos da AICEP até final de 2023), [de] Mónica Brígida Gomes Machado Moreira Begonha (atual diretora da Direção Comercial da AICEP e anterior colaboradora da AEP [Associação Empresarial de Portugal]”, sublinha o MP.

A investigação aponta ainda o “comprometimento” de vários elementos do Compete 2020. “Bem como membros da Comissão Diretiva do Compete 2020, como Nuno Oliveira Mangas Pereira (presidente da Comissão Diretiva) e [de] Ana Margarida Lemos Gomes (vogal da Comissão Diretiva do Compete 2020 entre 2021 e 2023), com violação dos respetivos deveres funcionais e de reserva, na agilização e conformação dos procedimentos relacionados com candidaturas, pedidos de pagamento e a atividade de gestão de projetos cofinanciados da Selectiva Moda e da AEP”, sustenta o MP.

A investigação diz estar também indiciado “que vários funcionários da AICEP participaram em eventos promovidos pela Selectiva Moda”.

“Tendo esta associação assegurado as despesas de deslocação/viagens e alojamento dos colaboradores daquele organismo, as quais foram depois imputadas como despesa nos projetos cofinanciados de que esta é beneficiária, caso, entre outros, de Ana Pinto Machado, convidada a participar na gala do 30.º aniversário da Selectiva Moda e cuja estadia no hotel Sheraton foi suportada por Manuel Serrão”, refere o MP.

O jornal Observador acrescenta que Manuel Serrão viveu no Sheraton entre 2015 e 2023, gastou cerca de 372 mil euros, mas esse dinheiro veio de um dos projetos do Compete 2020. Terão sido fundos europeus a pagar oito anos de residência de Serrão no hotel.

“Gestão rigorosa”

O programa Compete garantiu hoje estar “a colaborar” nos procedimentos policiais em curso no âmbito da Operação Maestro, que investiga projetos cofinanciados por fundos comunitários, assumindo o seu “compromisso com a gestão rigorosa e transparente” dos fundos públicos.

Em comunicado, o Compete confirma que “está a colaborar com procedimentos em curso por parte da Polícia Judiciária, no âmbito de uma investigação a projetos implementados com o apoio de fundos europeus, no âmbito do programa Compete 2020”.

“O Compete desconhece os contornos da investigação e está a colaborar com as autoridades”, refere, assegurando estar “totalmente disponível para prestar todas as informações e o apoio necessário para o bom andamento da investigação” e reiterando o seu “compromisso com a gestão rigorosa e transparente dos fundos públicos”.

Júlio Magalhães sai de TV e rádio

O jornalista Júlio Magalhães já suspendeu as suas participações na televisão e na rádio.

Comunicou à TVI a sua “indisponibilidade para se apresentar ao trabalho” tendo suspendido “voluntariamente” as tarefas de apresentação de noticiários que lhe estavam atribuídas, segundo um comunicado da estação televisiva.

E também deixa de participar temporariamente, por mútuo acordo, temporariamente nas manhãs 360 da Rádio Observador.

ZAP // Lusa

4 Comments

  1. Pois, há uns tempos, o antigo primeiro ministro da Holanda disse que alguns países do sul da Europa, onde Portugal se incluía, deviam ser investigados para se perceber para onde tinha ido tanto dinheiro europeu, ao longo de tantos anos.
    Eu concordo e digo que essa investigação era benéfica para a Europa e para os países visados.
    O nosso António Costa, aquele que se demitiu há algum tempo por suspeitas de corrupção (e que tinha feito parte do governo do Sócrates, porventura um dos maiores vigaristas de Portugal), na altura disse que as declarações eram repugnantes….
    Hoje vamos lendo estas notícias e cada um pode tirar as suas conclusões…

  2. Que par de b4nd4lh0s! Depois vêm alguns iluminados que têm palas azuis dizer que em Lisboa é que são todos uns bandidos e calões… Está a ver-se como é… Que engavetem TODOS os trastes que só sabem “m4m4r”… Chup1st4s n0j3nt0s

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