A quase totalidade dos portugueses adultos acredita que deve fazer análises ao sangue e à urina todos os anos e a esmagadora maioria acaba por as realizar com aquela periodicidade, segundo um estudo publicado numa revista científica internacional.
Depois de inquéritos efectuados a cerca de mil pessoas entre os 18 e os 97 anos, uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto concluiu que 99,2% dos inquiridos acredita que deve fazer análises ao sangue e urina a cada 12 meses.
Mais de 87% dos portugueses questionados indicaram ainda que realiza aquelas análises com periodicidade anual e 37,7% do total afirmaram que recorrem a estes serviços por sua iniciativa, apesar de os investigadores ressalvaram que, geralmente, só se consegue realizar análises com prescrição médica.
“A maioria dos portugueses adultos acredita que deve utilizar um grande número de serviços de saúde, numa base anual. A nossa pesquisa indica uma tendência para o uso excessivo de recursos”, afirmam os investigadores no artigo publicado na revista Plos One.
O estudo sublinha que a realização anual de “análises gerais” parece estar fortemente enraizada na população portuguesa.
“Em Portugal não há recomendação oficial para a frequência de exames de saúde em adultos, nem para análises ao sangue”, com excepção de alguns rastreios oncológicos, ressalvam os investigadores.
O artigo avisa que, actualmente, não há evidência científica de que os exames gerais em adultos reduzam a mortalidade geral ou específica, embora contribua para aumentar o número de diagnósticos.
Além disso, os investigadores referem que a percepção dos doentes em relação aos exames médicos necessários está longe do que é recomendado pela evidência científica.
Um dos exemplos apresentados como incoerente é o indicador que mostra que mais portugueses consideram um raio-x aos pulmões mais necessário do que uma análise ao sangue oculto nas fezes (geralmente feita para despiste de cancro colo-retal).
Os investigadores concluem que a estratégia para uma prescrição mais racional de exames médicos deve ser mais orientada para o doente.
As estratégias orientadas para o médico, como os incentivos financeiros, com o objectivo de racionalizar as prescrições, não têm em conta a recente evolução das consultas médicas nem a forma como as decisões são tomadas no consultório.
/Lusa