“Nada está decidido”. Macron vence primeira volta com 27,8% dos votos e vai disputar o Eliseu com Le Pen

2

Yoan Valat / EPA

Antecipa-se uma repetição do confronto de 2017, tendo Marine Le Pen conseguido 23,1%. Jean-Luc Mélenchon, da esquerda radical, ficou em terceiro lugar, com 21,95%. Os resultados mostram ainda uma enorme quebra para os partidos históricos dos Socialistas e Republicanos.

As sondagens à boca das urnas já deram uma ideia dos resultados das eleições presidenciais em França, com os primeiros dados a serem conhecidos às 19 horas.

O actual chefe de Estado, Emmanuel Macron, do partido liberal La République En Marche!, venceu a primeira volta com 27,8% dos votos.

Em segundo lugar ficou a candidata de extrema-direita Marine Le Pen, do partido União Nacional (anteriomente Frente Nacional), com 23,1% dos votos, de acordo com os dados oficiais do Ministério do Interior de França.

Antecipa-se assim uma repetição do duelo de 2017 entre Macron e Le Pen na segunda volta das eleições, que está marcada para dia 24 de Abril.

Jean-Luc Mélenchon conseguiu o terceiro lugar, tal como as sondagens antecipavam. O candidato do França Insubmissa, partido de esquerda radical, conquistou 22% dos votos, ficando assim já fora da corrida ao Eliseu.

Já bem mais longe dos três mais votados, segue-se Éric Zemmour, candidato de extrema-direita que foi considerado o “Trump francês” no início da campanha eleitoral. Apesar do mediatismo inicial da campanha, Zemmour não foi além dos 7%.

A Republicana Valérie Pécresse ficou em quinto, com 4,8% — um resultado que mostra bem as reviravoltas que têm acontecido nos partidos de direita mainstream franceses nos últimos anos.

Yannick Jadot, dos Verdes, conseguiu 4,6% dos votos, seguindo-se Jean Lassalle dos centristas do Résistons!, em sétimo lugar, com 3,1%. O comunista Fabien Roussel recebeu ainda a confiança de 2,3% dos franceses.

Havia ainda um terceiro candidato de extrema-direita na corrida, Nicolas Dupont-Aignan, que teve 2,1% dos votos. Anne Hidalgo, candidata dos Socialistas e autarca de Paris, teve apenas 1,8% dos votos, um resultado que, tal como o de Pécresse, mostra que cada vez mais franceses preferem apostar em candidatos fora do sistema e não se identificam com os dois partidos históricos.

Os dois candidatos trokskistas fecham a lista, com Philippe Poutou a ter 0,8% dos votos e Nathalie Arthaud a ter 0,6%. A abstenção, que se esperava ser recorde e possivelmente decisiva, foi de 26,2%. Em 2017 foi mais baixa, com 22,2% dos franceses a não votarem na primeira volta.

Hidalgo e Pécresse apoiam Macron, Zemmour aposta em Le Pen

Entretanto, os candidatos começaram a reagir aos resultados e apelar ao voto em Macron, realçando os perigos de ter uma candidata de extrema-direita como Le Pen à frente do país.

“Estes resultados, como esta abstenção, retratam uma França dividida e confrontada com a extrema-direita às portas do poder. Peço-vos com seriedade que votem contra a extrema-direita de Marine Le Pen e que se sirvam do boletim de voto para eleger Emmanuel Macron”, apelou a socialista Anne Hidalgo.

A Republicana Valérie Pécresse deixou um pedido no mesmo tom. “Vou votar em consciência em Emmanuel Macron para impedir que Marine Le Pen chegue ao poder e o caos que isso iria trazer”, declarou aos eleitores. O comunista Fabien Roussel e o candidato ecologista Yannick Jadot também se juntaram ao coro de derrotados que não querem Le Pen no Eliseu.

Uma das respostas mais aguardadas da noite é a de Jean-Luc Mélenchon, candidato da esquerda cujo eleitorado pode decidir a segunda volta. Recorde-se que em 2017, Mélenchon recusou apoiar abertamente Macron, mantendo-se em silêncio nos primeiros dias e pedindo apenas mais tarde aos seus apoiantes que não votassem na extrema-direita, sem nunca falar directamente no candidato do En Marche!.

Desta vez, Mélenchon decidiu seguir o mesmo caminho, denunciando um sistema que “obriga as pessoas a escolher o mal menor” e apelando a que ninguém vote em Le Pen, novamente sem apoiar Macron.

Na última semana, as sondagens têm mostrado uma subida de Le Pen, com muitas a dar um empate técnico no confronto com Macron e algumas até a apontarem para uma vitória da candidata de extrema-direita. A candidata tem subido nas intenções de voto com um discurso focado em temas económicos e nas promessas da luta contra a inflação, abandonando as bandeiras típicas anti-imigração da extrema-direita

Para combater esta tendência, o chefe de Estado tem saído ao ataque e piscado o olho ao eleitorado de esquerda, pelo que um apoio desinibido de Mélenchon pode ajudar a causa do candidato liberal na segunda volta.

Éric Zemmour, por sua vez, já anunciou o seu apoio a Marine Le Pen, acusando Macron de ter deixado entrar 2 milhões de imigrantes em França. “Não me engano sobre quem é o meu adversário, por isso é que apelo ao voto em Marine Le Pen”, declarou. Nicolas Dupont-Aignan também apoia Le Pen.

“A minha ambição é unir os franceses”

A candidata da União Nacional discursou durante meia hora depois de serem conhecidas as projecções. “O povo francês falou e dá-me a honra de me qualificar para a segunda volta. No dia 24 de Abril, haverá uma escolha fundamental entre duas visões opostas do país: a divisão e desordem ou a mobilização do povo francês em torno da justiça social garantida por um quadro fraterno”, afirmou Le Pen.

“A minha ambição é unir os franceses num projeto que junte as gerações num destino invencível. Apelo a todos os franceses, de todas as sensibilidades, de direita ou esquerda, de todas as origens que se unam a nós para construirmos com convicção e entusiasmo uma grande vitória. A vossa confiança honra-me e compromete-me. Não vamos errar”, apelou.

Macron também reagiu aos resultados, começando por agradecer aos adversários que o apoiam e saudando a “clareza” de Mélenchon sobre os perigos da extrema-direita. “Nada está decidido“, lembrou o chefe de Estado, que considera as eleições decisivas “para a França e para a Europa”.

Falando directamente para os eleitores de Le Pen, Macron quer “convencê-los nos próximos dias de que nosso projecto responde muito mais solidamente do que o da extrema-direita aos seus medos e aos desafios dos tempos”.

(artigo actualizado com resultados oficiais)

Adriana Peixoto, ZAP //

2 Comments

  1. Como muito acertadamente diz Mélenchon, as democracias ocidentais são sistemas políticos que obrigam os democratas a escolherem o mal menor. Trata-se, na realidade, de sistemas políticos que sobrevivem da chantagem sobre os eleitores. Le Pen e outros extremismos não passam de produtos, são consequências de sistemas políticos decadentes que usam o medo para se perpetuarem no poder. Um poder frágil, sem princípios ou ideias e, note-se, estas primárias assinalam uma clara derrota do centro direita, são os radicais de direita e de esquerda, a maioria eleitoral em França. É uma questão de tempo e os franceses se decidam por um dos extremos, não acredito na possibilidade de regeneração do centro-direita “democrático”. Em França e em lado nenhum.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.