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Lukashenko aponta “carnificina diplomática” contra o Governo bielorrusso

Amanda Voisard / UN Photo

Alexander Lukashenko, presidente da Bielorrússia desde 1994

O Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, que enfrenta a maior onda de protestos populares nos seus 26 anos no poder, denunciou na quinta-feira uma “carnificina diplomática” contra o seu Governo.

“A carnificina diplomática contra nós já começou e ao mais alto nível”, disse o chefe de Estado numa reunião com membros do Governo, referido pela agência oficial Belta, citada pela agência Lusa. Na opinião de Lukashenko, é óbvio que uma “guerra híbrida” está a ser travada contra a Bielorrússia.

“E como chamá-la, se não isso? Os meios de comunicação e a esfera da informação são afetados por essa luta, por essa guerra de partes beligerantes”, disse o Presidente.

Lukashenko acrescentou que os países vizinhos não estão apenas a manifestar-se pela repetição das eleições presidenciais – que ocorreram em 09 de agosto e da qual saiu vencedor -, mas estão a começar a intrometer-se nos assuntos internos da Bielorrússia. “É claramente uma guerra diplomática”, insistiu ele.

Lukashenko destacou que o país precisa de despender vultosos recursos para estabilizar a situação nas fronteiras ocidentais, que foram reforçadas com unidades militares de outras regiões do país.

“Vocês veem que há declarações de que a Bielorrússia vai desmembrar-se, que a região de Grodno vai passar para a Polónia. Eles dizem isso abertamente, eles sonham. Mas nada disso vai acontecer, eu tenho certeza”, disse o chefe de Estado.

Desde as eleições presidenciais, que segundo dados oficiais Lukashenko venceu com 80,1% dos votos – resultados denunciados como fraudulentos pela oposição -, a Bielorrússia tem sido palco da maior onda de protestos de sua história pós-soviética.

Os adversários exigem a repetição das eleições, que não foram reconhecidas pela União Europeia (UE). “Eles terão de me matar primeiro”, respondeu Lukashenko aos pedidos de repetição das eleições.

Após uma repressão brutal contra os manifestantes nos primeiros dias de protestos pós-eleitorais, que causou indignação internacional e ajudou a aumentar o número de pessoas que protestam, as autoridades mudaram de tática e deixaram as manifestações diárias sem impedimentos por quase duas semanas.

O Governo, por sua vez, tem mantido a pressão sobre a oposição, com ameaças e prisão seletiva dos seus líderes. Na quarta-feira, a polícia dispersou os manifestantes que se reuniram na praça da Independência, detendo dezenas de pessoas.

A ação sinalizou um retorno à força, embora sem a violência que marcou a repressão pós-eleitoral, quando cerca de sete mil pessoas foram detidas, centenas ficaram feridas e pelo menos três manifestantes morreram.

Putin tem “força policial de reserva” para Lukashenko

Na quinta-feira, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, indicou que está disponível para enviar assistência militar ou policial para apoiar Lukashenko, sublinhando, contudo, que a situação atual na Bielorrússia não exige tal intervenção.

“Claro que temos certas obrigações com a Bielorrússia e a questão que Lukashenko levantou foi se providenciaríamos a ajuda necessária”, disse Putin à televisão estatal russa, referindo-se ao pedido de ajuda feito pelo Presidente bielorrusso há duas semanas.

“Lukashenko pediu-me para criar uma força policial de reserva e foi isso que fiz. Mas concordámos que não seria utilizada a não ser que a situação ficasse fora de controlo”, continuou. O Conselho de Coordenação, liderado por Svetlana Tikhanouskaia, criticou as declarações, considerando-as “inaceitáveis”, referiu a Reuters.

As declarações de Putin alertaram os líderes europeus. “O Governo polaco exorta a Rússia a abandonar imediatamente os planos de uma intervenção militar na Bielorrússia sob a falsa desculpa de ‘restaurar o controlo’ – um acto hostil, que viola o direito internacional e os direitos humanos do povo bielorrusso, que deve ser livre de decidir o seu próprio destino”, escreveu no Twitter o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawieck.

Ao Politico, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Linas Linkevicius, criticou a UE pela resposta lenta, temendo um impasse. “Não chega julgar, avaliar, condenar. Têm de haver ações”, disse o ministro lituano. “Temos de acelerar”, reiterou. Tikhanouskaia está exilada no país desde as eleições de 09 de agosto.

ZAP //

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