Num momento em que Bruxelas já recebeu e começou a analisar o plano de reestruturação da TAP, o Governo fez saber informalmente na Comissão Europeia que está disponível para ter a companhia alemã Lufthansa com acionista da transportadora portuguesa no futuro.
O semanário Expresso avançou esta sexta-feira que o Governo português fez saber informalmente na Comissão Europeia que continua disponível para, no futuro, ter a companhia alemã Lufthansa com acionista da transportadora portuguesa TAP. Uma mensagem idêntica também terá sido passada aos acionistas da Lufthansa.
O desejo de Portugal de ter a Lufthansa como parceira da TAP não é novo. Apesar de ter manifestado interesse a David Neeleman, a Lufthansa acabou por nunca fazer uma oferta. Neeleman olhava para a entrada da companhia alemã no capital como uma boa forma de realizar dinheiro para financiar outros investimentos que tinha em mãos.
Na altura, a administração da TAP admitia que a transportadora portuguesa tinha sido avaliada entre 800 milhões e 1.000 milhões de euros pela Lufthansa.
Em junho, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, também disse que “não via com maus olhos uma parceria com a Lufthansa”.
Segundo o Expresso, o poder atrativo da TAP para a Lufthansa resulta da sua forte presença nos mercados norte-americano e brasileiro. A Lufthansa quer expandir-se no Brasil e a TAP ajudaria a fazê-lo.
Por outro lado, se houver realmente este negócio, esse não irá acontecer tão cedo, uma vez que a companhia está a ser ajudada pelo Estado alemão e, até devolver 75% da recapitalização feita, não pode comprar mais de 10% do capital de concorrentes ou de empresas do setor da aviação.
Bruxelas está a analisar plano da TAP
De acordo com o ECO, a Comissão Europeia vai começar a avaliação à proposta de plano de reestruturação para a TAP, que o Governo português entregou na semana passada.
O processo será interrompido pelas férias de Natal e Bruxelas não tem ainda previsão de quando irá tomar uma decisão.
“A 10 de dezembro de 2020, as autoridades portuguesas submeteram uma proposta de plano de reestruturação para a empresa à Comissão. O plano irá agora ser sujeito à avaliação da Comissão Europeia e à sua aprovação“, explicou fonte oficial da Comissão Europeia, em declarações ao ECO. “Não podemos comentar o conteúdo do plano nem, neste momento, fazer previsões do timing ou resultado da avaliação da Comissão”.
Porém, Bruxelas garante estar a realizar “encontros construtivos” com as autoridades portuguesas.
O plano de reestruturação da TAP prevê a saída de três mil trabalhadores (1.259 contratos a prazo não renovados), a redução d dois mil efetivos e cortes salariais para quem fica (até 25% a partir dos 900 euros de rendimento). A diminuição da frota será para 88 aviões, dos atuais 108.
Depois de várias rondas negociais, TAP e Estado chegaram a acordo e teve o caminho livre para a compra das participações sociais, direitos económicos e prestações acessórias de David Neeleman e da Azul, pagando 55 milhões de euros. Humberto Pedrosa mantém-se na companhia, com 22,5%. O negócio concretiza a posição de 72,5% do Estado na TAP.
No seguimento da aprovação pela Comissão Europeia de um auxílio estatal à TAP, o grupo aéreo procedeu a uma consulta no mercado para selecionar uma entidade que preste serviços de consultoria, no sentido de auxiliar na elaboração de um plano de reestruturação, a apresentar à Comissão Europeia.
Quando propôs o Orçamento do Estado para 2021 (OE2021), o Governo estimou que a empresa necessite da totalidade dos 1.200 milhões de euros que foram emprestados pelo Estado, estando ainda previsto um valor de 500 milhões de euros em garantias estatais a conceder à empresa.
Pilotos da TAP alvo de “companha de desinformação”
O Sindicato dos Pilotos de Aviação Civil (SPAC) criticou aquilo a que chama “campanha de desinformação” sobre os salários destes profissionais da TAP, em comparação com as congéneres europeias, segundo um comunicado.
“Os portugueses têm assistido nos últimos dias à divulgação de informações sobre os salários dos pilotos da TAP que não têm suporte factual e assentam em dados cuja b comparação não é idêntica”, lê-se na mesma nota, que diz tratar-se de “uma verdadeira campanha de desinformação que tem como único objetivo transferir para os pilotos o ónus dos maus resultados da TAP e desviar a atenção dos reais motivos que levaram o grupo TAP SGPS à atual situação”.
O SPAC critica depois “as intervenções públicas do senhor ministro das Infraestruturas e Habitação” e as “informações divulgadas pelo Ministério”, que, defende, “têm estimulado esta campanha de desinformação que em nada contribui para a credibilidade e estabilidade da TAP”.
Os pilotos voltaram a referir que o custo associado a estes profissionais em 2018 e 2019 foi “significativamente agravado por recurso a trabalho extraordinário a pedido da empresa”, dada a falta de pilotos para os voos efetuados nesse período.
Maria Campos, ZAP // Lusa