O processo TAP preenche o livro Patos desalinhados não voam, com ataques e defesas dos dois antigos membros do Ministério das Infraestruturas.
O livro Patos desalinhados não voam — por dentro da viagem mais turbulenta da TAP começa a ser vendido no dia 9 de Novembro e não vai passar despercebido.
A obra foi escrita por Hugo Mendes e Frederico Pinheiro, que faziam parte do Ministério das Infraestruturas do Governo actual.
Hugo Mendes era secretário de Estado. Saiu do Governo quando o então ministro Pedro Nuno Santos se demitiu, na sequência do caso Alexandra Reis.
Frederico Pinheiro continuou, passou a ser adjunto do novo ministro João Galamba, mas também foi afastado depois da famosa noite de alegadas agressões no ministério.
O livro sublinha que houve fracasso na gestão política da TAP. Falharam na definição do problema, na informação empírica, na narrativa, nas medidas e nos aliados.
Hugo Mendes e Frederico Pinheiro acham que o melhor caminho seria a recapitalização e a reestruturação da empresa.
Costa, Medina, Pedro Nuno
Depois das “novelas” antes e durante a comissão parlamentar de inquérito à TAP, agora chegam ataques a António Costa e defesas de Pedro Nuno Santos.
Os dois ex-elementos do Governo admitem que passaram por um “pesadelo político” e por um “período traumático”, cita o jornal Observador.
Os dois homem que “muitos tentaram liquidar publicamente” ainda pensaram em optar pelo silêncio, deixar que a sociedade se esquecesse do caso, mas mudaram de postura: querem “desmontar equívocos e atropelos” e acrescentam que trocaram “a postura defensiva pela reflexão aberta”.
Nessa reflexão, acusam o PS de ter ficado “deitado à sombra de Joseph Jubert: em política é preciso deixar sempre um osso para a oposição roer”. Assim, quem “mandou na parlamentar de inquérito foi a direita“ da política portuguesa.
As acusações directas António Costa são várias. Alegam que a falta de contacto, com o modelo “um-telefonema-por-ano” defendido pelo primeiro-ministro, entre o Ministério das Infraestruturas e as “suas” empresas – como a TAP – não chegava.
Ao mesmo tempo, indicam que o Ministério das Finanças, liderado por Fernando Medina, é que tem muito poder e uma “ingerência oculta e silenciosa”.
Não entram em conspirações, mas insistem em deixar questões sobre o Ministério das Finanças: “O seu poder de autorizar planos plurianuais atrasa contratações e adia investimentos, tendo efeito positivo no défice. Há o incentivo objectivo do Ministério das Finanças no sentido de travar ou adiar estas operações”.
Hugo Mendes e Frederico Pinheiro defendem Pedro Nuno Santos, que era ministro das Infraestruturas e da Habitação.
Garantem que “se Pedro Nuno Santos ainda fosse ministro das Infraestruturas, provavelmente não estaríamos a assistir a uma privatização da TAP, mas a um cauteloso e lento processo de abertura de capital, que manteria a empresa sob controlo público”.
Elogiam o ex-ministro, que foi “assertivo, com diálogo franco”, embora num ambiente por vezes “tenso” – tudo durante as concersas com a União Europeia.
Ao abordar Pedro Nuno, voltam as acusações a António Costa. Em 2022, o primeiro-ministro “parecia comprometido” com a ideia de o Estado manter a maioria do capital da TAP. “Parece que o compromisso eleitoral não era para levar a sério“, lê-se no livro.
Os dois autores do livro sugerem que o (novo) anúncio da privatização da TAP é táctica política do primeiro-ministro.