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No dia da Terra, os líderes mundiais juntaram-se para “passar à ação”

Carlos M. Vazquez II / DoD

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden

A Casa Branca organizou uma Cimeira de Líderes sobre o Clima, que decorre de forma virtual e durante dois dias. Começou esta quinta-feira, dia em que se comemora o Dia da Terra, e junta cerca de 40 chefes de Estado e de Governo.

Falando na abertura desta cimeira de líderes, que convocou para pedir compromissos firmes na luta pelo clima, o Presidente dos Estados Unidos comprometeu-se a reduzir para metade as emissões de gases com efeito de estufa do seu país até ao fim da década e indicou ainda que os EUA querem chegar a 2050 com emissões carbónicas neutras.

Temos de acelerar, para fazer deste um mundo mais próspero e mais limpo”, disse Joe Biden, tentando passar a mensagem de que os Estados Unidos querem “passar à ação”. “Esta é a década em que temos de tomar decisões para evitar as piores consequências da crise climática.”

O chefe de Estado defendeu que o investimento em energias limpas e a reconversão de milhões de trabalhadores de indústrias poluentes são o tipo de investimentos que lançarão o país “no caminho para reduzir as emissões com efeito de estufa a metade até ao fim desta década”.

É para lá que nos dirigimos como nação: para a construção de uma economia não apenas mais próspera, mas mais saudável e mais limpa”, declarou o democrata que, recorde-se, voltou a pôr os Estados Unidos no Acordo de Paris para conter o aquecimento global até ao fim do século, depois de o seu antecessor, Donald Trump, ter retirado o país desse compromisso.

Mas os Estados Unidos, apontou, são responsáveis por 15% das emissões mundiais e “nenhuma nação consegue resolver esta crise sozinha”, afirmou Joe Biden, pedindo às maiores economias do mundo compromissos semelhantes.

Nesta cimeira marca também presença o Presidente russo, Vladimir Putin, que manifestou o seu apoio à luta mundial contra as alterações climáticas. O chefe de Estado disse que o seu país está “genuinamente interessado” em galvanizar a cooperação internacional na busca de soluções eficazes.

Além de defender uma sólida cooperação internacional, o Presidente destacou os esforços da Rússia para controlar a emissão de gases com efeito de estufa, criando legislação que vai nesse sentido e incentivando a redução de emissões.

As emissões de gases com efeito de estufa, na Rússia, caíram para metade desde 1990 (de 3,1 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono para 1,6 mil milhões) através de mudanças na indústria e na produção de energia, atualmente com 45% da energia a vir de fontes de emissões reduzidas (graças à energia nuclear), disse.

Putin assinalou que o seu país está disponível para cooperar em projetos conjuntos e a aceitar colaborações, com “benefícios” para empresas estrangeiras que invistam na investigação científica e tecnologias limpas na Rússia.

E garantiu que a Rússia está empenhada em “reduzir significativamente” as emissões de dióxido de carbono, falando de um “objetivo ambicioso” para 2050, ainda que sem quantificar qual.

Merkel diz que Alemanha continuará a fazer a sua parte

A chanceler alemã disse que, apesar da pandemia, o país continua decidido em cumprir os objetivos de redução de emissões de gases com efeito de estuda fixados pela União Europeia, e com os seus compromissos financeiros.

Ângela Merkel disse que a Alemanha reduziu as suas emissões em 40% em relação a 1990 e aspira, de acordo com o decidido a nível comunitário, chegar a 55% de redução em 2030. Recorde-se que o objetivo final dos 27 países da União Europeia é chegar a 2050 com emissões neutras.

A chanceler recordou ainda que a Alemanha aumentou as suas contribuições para o Fundo Verde da ONU, para apoiar e combater as consequências das alterações climáticas nos países mais pobres até aos 4000 milhões de euros anuais.

É necessária “mais solidariedade” para com os países em desenvolvimento, afirmou em relação a esse fundo, para o qual os países industrializados se comprometeram a apoiar com 100 mil milhões anualmente a partir de 2020 (e que não cumpriram).

A responsável defendeu que se aproveitem os planos públicos de recuperação económica, no seguimento da crise provocada pela pandemia, para que se aposte na inovação e nas tecnologias verdes.

Merkel disse ainda que 46% da eletricidade produzida na Alemanha no ano passado proveio de fontes renováveis e lembrou o plano do Governo para fechar a última central a carvão no máximo até 2038.

Na sua vez, o Presidente francês pediu mais celeridade na aplicação do Acordo de Paris, bem como um sistema de regulação de emissões de carbono que seja “claro e mensurável”.

Emmanuel Macron recordou os seus contactos recentes com a chanceler alemã e com o Presidente chinês para dizer que nessas conversas os três concordaram em que este é “um combate comum” e que todos devem estar empenhados no seu sucesso.

Para tal, disse Macron, será preciso um “plano de ação preciso, claro, mensurável e verificável”, destacando os esforços nesse sentido que têm sido feitos pela União Europeia.

O Presidente de França também destacou a urgência de “transformar o sistema financeiro global” para apoiar projetos sustentáveis e, dessa forma, “colocar as finanças ao serviço do clima”.

“O ano de 2030 é o novo 2050”, disse ainda Macron, referindo-se à aceleração do cronograma de redução de emissões de gases de efeito estufa.

Os “coelhinhos” de Boris Johnson

O primeiro-ministro britânico, por sua vez, afirmou que “crescimento e emprego” são as palavras-chave do “desafio político” do combate às alterações climáticas, rejeitando encará-lo como “um gesto dispendioso e politicamente correto de abraçar coelhinhos ou coisa do género”.

Como país anfitrião da próxima (COP26) Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, o Reino Unido quer ver ambição nos países desenvolvidos para reduzir emissões e está “a trabalhar com todos, dos mais pequenos aos maiores emissores, para garantir compromissos que mantenham o aquecimento global abaixo de 1,5 graus” em relação à era pré-industrial até ao fim do século, conforme estabelecido no Acordo de Paris, alcançado em 2015 na COP21.

“Vemos que há uma obrigação de os países desenvolvidos fazerem mais”, disse Boris Johnson, apontando que, no caso do Reino Unido, uma redução de emissões nos últimos anos foi acompanhada de um crescimento da economia.

“Nós conseguimos. Para isso, precisamos que os cientistas de todos os países trabalhem juntos para produzirem soluções tecnológicas de que a Humanidade vai precisar: captura e armazenamento de dióxido de carbono, hidrogénio barato, aviação com emissões neutras”, exemplificou.

Para isso, caberá “às nações mais ricas do mundo juntarem-se e contribuírem com mais do que os 100 biliões de dólares [anuais até 2020 para ajudar à mitigação dos efeitos das alterações climáticas] com que se comprometeram em 2009”, defendeu.

Brasil promete eliminar desflorestação

“Coincidimos com o seu apelo [de Joe Biden] ao estabelecimento de compromissos ambiciosos. Neste sentido, determinei que a nossa neutralidade climática seja alcançada em 2050, antecipando em 10 anos a sinalização anterior”, disse o Presidente Jair Bolsonaro.

Bolsonaro não fez referência aos atuais recordes de destruição registados na Amazónia, mas destacou também o “compromisso de eliminar o desflorestamento ilegal até 2030 com a plena e pronta aplicação” do código florestal do país. “Com isto eliminaremos em quase 50% as nossas emissões até esta data”, assegurou.

O chefe de Estado, porém, não anunciou novas contribuições nacionalmente determinadas (NDC), que é a meta de descarbonização assumida no âmbito do Acordo de Paris. Bolsonaro reiterou as metas já assumidas pelo país de cortar emissões em 37% até 2025 e em 43% até 2030.

Antes de apresentar as intenções do seu Governo, Bolsonaro fez um histórico das políticas para o meio ambiente adotadas em gestões anteriores e frisou que a causa maior do aquecimento global foi a queima de combustíveis fósseis ao longo dos últimos 200 anos.

Bolsonaro destacou que o Brasil participou com menos de 1% das emissões históricas de gases de efeito estufa. “No presente, respondemos por menos de 3% das emissões globais. Contamos com uma das matrizes energéticas mais limpas com renovados investimentos em energia solar, eólica e biomassa”, argumentou.

O Presidente brasileiro disse, sem apresentar dados concretos, que apesar das limitações orçamentais do Governo, determinou “o fortalecimento dos órgãos ambientais, duplicando os recursos destinados às ações de fiscalização.”

O líder brasileiro também pediu a justa remuneração por serviços ambientais prestados pelos biomas brasileiros ao planeta.

“Diante da magnitude dos obstáculos, inclusive financeiros, é fundamental poder contar com a contribuição de países, empresas, entidades e pessoas dispostos a atuar de maneira imediata, real e construtiva na solução desses problemas”, afirmou.

É preciso haver justa remuneração pelos serviços ambientais prestados por nossos biomas ao planeta como forma de reconhecer o caráter económico das atividades de conservação”, completou.

ZAP // Lusa

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