Comentário foi feito numa altura em que alguns países, com a Inglaterra à cabeça, começam a prescindir de medidas como o distanciamento social, apesar da subida do número de infeções e à rápida propagação da variante Delta.
A Organização Mundial de Saúde alertou esta quarta-feira os países para os perigos que podem surgir do fim prematuro e precipitado de restrições sanitárias, numa altura em que o processo de vacinação está ainda atrasado em vários territórios.
Segundo Mike Ryan, diretor de emergências sanitárias da OMS, a melhor abordagem será um “lento” levantamento de medidas, de forma a evitar que os países “regridam nos progressos feitos ao longo dos últimos tempos.”
As declarações foram feitas numa altura em que a Inglaterra — tal como anunciado por Boris Johnson na passada segunda-feira — se prepara para terminar com a grande maioria das regras impostas no início da pandemia com o objetivo de impedir a propagação do vírus, tais como o distanciamento social.
Apesar de nunca se referir diretamente ao caso inglês, as declarações de Ryan estão em linha com as preocupações de cientistas e epidemiologistas, que já alertaram para a possibilidade de o país estar a avançar “demasiado rápido” no caminho para o pós-pandemia — numa altura em que o número de infeções está a aumentar.
Ainda assim, o representante da OMS reagiu a comentários de diversos epidemiologistas, segundo os quais a nova estratégia britânica para alcançar a imunidade de grupo mais rapidamente consistiria numa combinação de vacinar com aceitar mais infeções.
Mike Ryan, diz o The Guardian, classificou a ideia como uma “estupidez epidemiológica” e um “vazio moral“.
Referindo-se aos planos céleres dos países com vista à reabertura da economia, particularmente nos que apresentam taxas de vacinação baixas, o especialista avança que esta pode ser uma “mistura tóxica”.
Ainda assim, Mike Ryan realçou que cada país deve fazer as suas escolhas em relação ao nível de precaução que pretendem implementar — isto num período que deve ser “precaução extrema”.
As declarações foram feitas numa conferência de imprensa promovida pela organização Mundial de Saúde com o objetivo de apelar aos países mais avançados no processo de vacinação para partilharem as vacinas com os países mais pobres, de forma a permitir a imunização de profissionais de saúde, cuidadores, e idosos, antes de avançarem com a vacinação das crianças — grupo etário considerado de baixo risco de doença grave.
“Para grande parte do mundo isto está apenas a começar. Estou muito satisfeito pelos países que estão a conseguir controlar a situação, mas, por favor, pensem um pouco nos que não têm vacinas”, disse Ryan.
“Nos países do continente Americano ainda temos quase um milhão de casos por semana. Isto ainda não acabou. O mesmo acontece na Europa, onde temos meio milhão de casos por semana. A pandemia não foi embora.”
Esta semana, a Organização Mundial de Saúde assinalou a “marca trágica” de quatro milhões de mortes como consequência da pandemia, 18 meses depois de a SARS-CoV-2 ter sido detetada pela primeira vez na província chinesa Wuhan — apesar de o organismo suspeitar que o número de fatalidades pode ser mais elevado.
Segundo Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da Organização Mundial de Saúde, o mundo está agora num “ponto perigoso” da pandemia — referindo-se à vontade dos países em acabar com as restrições sanitárias, às crescentes taxas de vacinação e à rápida propagação da variante Delta.