A três meses das presidenciais nos EUA, o candidato Joe Biden anunciou a sua escolha para a vice-presidência. Kamala Harris será o seu braço direito. Este é um momento histórico pois é pela primeira que o cargo será ocupado por uma mulher de cor.
A nomeação da senadora da Califórnia Kamala Harris já é vista como uma estratégia para derrotar Donald Trump. Num ano eleitoral moldado pela pandemia do coronavírus, esta é uma chamada de atenção sobre questões raciais.
Harris tem 55 anos, uma carreira de mais de 30 anos como advogada, e é filha de imigrantes provenientes da Jamaica e da Índia. É a primeira mulher negra e asiático-americana a ser nomeada para um cargo presidencial de um partido importante.
“Tenho a honra de anunciar que escolhi Kamala Harris como minha companheira na corrida às presidenciais”, escreveu Joe Biden na rede social Twitter. Também Harris se manifestou e disse que se sentia “honrada” por se juntar a Biden, e prometeu “fazer o que for preciso para torná-lo nosso presidente”.
Neste momento, Harris está entre as mulheres negras mais relevantes da política americana. A asiático-americana cumpriu seis anos como procuradora-geral da Califórnia antes de chegar ao Senado em 2016.
Embora Biden e Harris já tenham entrado em confronto durante os debates presidenciais democratas no ano passado, a candidata tornou-se numa importante voz em questões de justiça racial. Num ano eleitoral atribulado pelos protestos em todo o país devido ao assassinato de George Floyd, esta escolha de Biden personifica uma estratégia para reforçar a conquista de negros e mulheres.
A escolha de Harris tem um grande peso. Não apenas para as perspetivas políticas dos democratas, mas também para o futuro do partido. A nomeação de Harris, uma democrata de 55 anos, levanta já a eminencia da a candidata como uma potencial sucessora que poderia se tornar a primeira mulher presidente dos EUA.
Aos 77 anos, Biden seria a pessoa mais velha já eleita. O democrata apresentou-se como um “candidato de transição” e uma “ponte” para uma nova geração de líderes.
Barack Obama já reagiu à escolha e considera que “Joe Biden acertou em cheio essa decisão”. O ex-presidente dos EUA passou por um processo semelhante em 2008, quando escolheu Biden como seu braço direito.
“Ao escolher a senadora Kamala Harris como a próxima vice-presidente da América, Biden enfatizou seu próprio julgamento e caráter. A realidade mostra que esses atributos não são opcionais em um presidente. São requisitos do trabalho” refere Obama, em comunicado.
Por outro lado, Donald Trump já veio criticar a escolha do seu adversário. Num vídeo publicado no Twitter, acusa Kamala Harris de ser hipócrita, lembrando aos eleitores o que ela já disse sobre Biden em outros momentos políticos.
Segundo o The Guardian, as mulheres negras foram essenciais para o sucesso de Biden nas primárias democratas. Este apoio traduziu-se na vitória na Carolina do Sul, após uma série de derrotas dolorosas. Porém o cenário político mudou depois da morte de George Floyd em Minneapolis, o que desencadeou meses de protestos anti-racismo que intensificaram a pressão sobre Biden para selecionar um companheiro negro.
Harris foi eleita para o Senado em 2016, tornando-se a segunda mulher negra a servir na Câmara. Agora, pode vir a ser a primeira vice-presidente negra dos EUA. Ao longo dos anos, apenas duas mulheres foram indicadas para a vice-presidência de um grande partido político e nenhuma foi bem-sucedida: Sarah Palin, a governadora do Alasca, em 2008, e a congressista Geraldine Ferraro em 1984.
“Este é um passo numa luta muito maior por representação em direção à democracia multirracial que as mulheres de cor sonharam, lutaram e pela qual sangraram por gerações. Precisamos de mulheres negras, latinas, indígenas e asiático-americanas liderando em todos os níveis da política americana”, destaca Aimee Allison, fundadora da She the People, uma organização dedicada a mobilizar mulheres negras.
De acordo com o The New York Times, uma nova sondagem nacional, divulgada esta terça-feira, mostra Biden mantendo uma vantagem de 10 pontos sobre Donald Trump, com apenas 4% dos eleitores permanecendo indecisos.