O jornalismo independente em Cuba “atravessa o seu período mais crítico em décadas”, alertou na sexta-feira a Associação Interamericana de Imprensa (SIP), ao entregar um relatório à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) sobre uma avaliação àquele país.
“O jornalismo independente cubano vive o seu período mais crítico em décadas, mas, ao mesmo tempo, vive o seu momento de maior ligação com o povo e a responsabilidade histórica de refletir um processo de participação cidadã sem precedentes desde o início do socialismo-ditadura”, diz a SIP no seu relatório divulgado em Miami e citado pela agência EFE.
Um mês volvido sobre os protestos ocorridos em Cuba, em 11 de julho, para exigir “liberdade”, as autoridades da SIP realizaram uma jornada de encontros com jornalistas, intelectuais, artistas, youtubers, padres católicos e advogados que defendem os cidadãos perseguidos pelo regime de Castro.
Durante a jornada, os diretores da SIP receberam queixas e denúncias de casos de violência de género, abusos sexuais por excessos cometidos nas buscas policiais, detenções em celas sem privacidade e limpeza, bem como violência online.
Em Cuba, destaca a SIP, a grande maioria dos meios de comunicação social são públicos, mas não veiculam vozes dissonantes da sociedade, “por forma a garantir o ‘apartheid’ político praticado tirania”, conforme explicou um dos intervenientes na discussão.
A maioria dos interlocutores da SIP em Cuba solicitaram que suas identidades fossem reservadas, por motivos de segurança, refere ainda a EFE.
“O mundo olha para Cuba em alguns casos com um toque romântico, noutros casos com certo desdém ou com a convição de que nada pode ou deve ser feito”, comentou Carlos Jornet, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa, na apresentação do relatório de Informações da SIP, com sede em Miami.
De acordo com a SIP, atualmente há pouco mais de uma centena de jornalistas “não-oficiais” em Cuba, muitos deles jovens que tentam dessa forma manifestar a sua indignação contra o peso da pressão exercida pelo regime.
Segundo o relatório, dezenas de outros jornalistas deixaram o país nos últimos três anos, após sofrerem uma forte pressão.
O documento estima ainda que haja apenas cerca de vinte jornalistas mulheres que não pertence ao aparelho político.
Jornalistas classificados como “CR” (contra-revolucionários) são alvo de interrogatórios, o “que representa interferência nas suas vidas privadas”, havendo também situações de ameaças da autoridade em retirar os filhos aos pais”, indica o relatório.
O presidente da associação, Jorge Canahuati, destacou que esta foi uma das poucas missões que, em formato virtual, a SIP pôde realizar em Cuba desde a chegada do regime comunista ao poder, e a primeira que utilizou as novas plataformas de vídeo.
Canahuati considerou “imperativo que a comunidade internacional exija respeito pelos direitos humanos fundamentais em Cuba e apoie a coragem de jornalistas independentes que arriscam sua liberdade todos os dias”.
// Lusa