Jornais controlados, actores silenciados: censura na Rússia

“Por motivos técnicos, interrompemos esta transmissão”, avisou um portal russo. Há protestos na Rússia contra a invasão à Ucrânia.

“Por motivos técnicos, interrompemos agora esta transmissão. Mas continuaremos a acompanhar os desenvolvimentos na Ucrânia no nosso novo site“.

O aviso, que faz lembrar as constantes dificuldades técnicas na RTP noutros tempos, foi publicado no jornal Meduza, a meio da tarde desta quinta-feira. E pouco ou nada estará relacionado com dificuldades técnicas.

O portal – que é russo mas que tem sede na Letónia – estava a acompanhar “sem filtros” a invasão russa à Ucrânia.

Entre os diversos textos que foi publicando ao longo das últimas horas, informou que um jornal russo recebeu a ameaça de que o seu site iria ser bloqueado caso não apagasse uma reportagem sobre explosões em cidades ucranianas. Os responsáveis cederam e apagaram.

Jornalistas de outros meios de comunicação social terão sido “obrigados” a fechar as suas contas nas redes de sociais e foram proibidos de partilhar online as suas opiniões sobre a situação na Ucrânia. Porque qualquer crítica pública às movimentações russas serão motivo para despedimento.

E haverá a regra implícita: qualquer notícia sobre a situação na Ucrânia, proveniente de um jornal russo, só será publicada quando Vladimir Putin autorizar – ou quando algum elemento do seu Governo autorizar.

Postura diferente teve outro jornal da Rússia, o Novaya Gazeta, que costuma criticar as decisões do presidente Putin – e que nesta quinta-feira anunciou que vai ter uma edição em ucraniano.

John Tickle, jornalista britânico que colaborava com a televisão estatal russa RT, demitiu-se: “Devido aos eventos recentes, apresentei hoje a demissão da RT com efeitos imediatos”.

Teatro avisado e protestos na Rússia

Também há censura na cultura. O mesmo portal informou que a direcção do Teatro Mayakovsky proibiu os seus actores e as suas actrizes de fazer qualquer comentário público sobre os conflitos.

A guerra na Ucrânia origina protestos dentro da própria Rússia. Houve uma manifestação em São Petersburgo, que reuniu centenas de pessoas. Quase 200 participantes foram detidas pelas autoridades russas.

A capital Moscovo foi igualmente palco de uma manifestação contra esta invasão. O cenário foi a famosa Strastnoy Boulevard. Os agentes no local ficaram mais violentos ao longo da manifestação.

Só nesta quinta-feira mais de 1.000 pessoas foram detidas por estarem a protestar contra a invasão à Ucrânia. Registaram-se manifestações em 47 cidades da Rússia.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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