A rainha comeu o bispo e o cavalo saltou sobre a torre. Estavam ambos a ser controlados pela mente de Noland — com a ajuda de um implante cerebral.
A Neuralink, empresa de Elon Musk que ganhou notoriedade pelos seus interfaces cérebro-computador, divulgou um vídeo que mostra um paciente humano a usar o seu implante cerebral para controlar um cursor e jogar uma partida de xadrez.
O paciente, Noland Arbaugh, de 29 anos, antigo estudante da Texas A&M University e natural de Yuma, no Arizona, ficou tetraplégico há oito anos, após um “bizarro acidente de mergulho”.
“Utilizar o implante é como usar a Força no Star Wars“, conta Noland no vídeo divulgado pela Neuralink. “Basta-me fixar o olhar num sítio qualquer do ecrã e mover o cursor para onde quero”.
Elon Musk, que fundou a empresa em 2016, partilhou o vídeo no seu perfil do X-Twitter. “Livestream da Neuralink a mostrar ‘Telepatia’. Controlar um computador e jogar videojogos apenas com o pensamento“, diz o bilionário de origem sul-africana.
Além de xadrez, o revolucionário implante da Neuralink permitiu também a Noland jogar Civilization VI durante oito horas seguidas — embora tivesse que fazer pausas enquanto esperava que o implante carregasse.
— Neuralink (@neuralink) March 20, 2024
Esta é a primeira vez que a Neuralink partilha imagens de um humano a usar o seu implante cerebral. Em janeiro, Elon Musk anunciou que o primeiro participante do ensaio estava “a recuperar bem” depois de o implante ter sido colocado.
O teste com implantes em humanos acontece três anos depois de a empresa ter divulgado um vídeo que mostrava um macaco a controlar um cursor no ecrã para jogar Pong, usando um implante Neuralink.
O ano passado, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA) deu à Neuralink autorização para conduzir ensaios clínicos em humanos. Pouco tempo mais tarde, a empresa anunciou que estava à procura de voluntários para um ensaio inicial de seis anos.
Este tipo de controlo através de uma interface cérebro-computador não é totalmente novo. Em 2004, recorda o Wall Street Journal, uma pessoa paralisada conseguiu também mover um cursor com a ajuda de uma interface cérebro-computador.
Mas a tecnologia então mostrada não era capaz de transmitir dados sem fios, como o implante da Neuralink, e dependia de fios implantados subcutaneamente. Além disso, realça o WSJ, o facto de Noland ter podido manter uma conversa enquanto movia o cursor também é notável.
Musk acredita que o interface Neuralink poderia tornar a linguagem humana obsoleta em 10 anos, e que conseguia curar o autismo, e que é o futuro das interações humanas com a tecnologia. No entanto, diversos especialistas não estão convencidos de que assim seja — ou deva ser.
A Neuralink tem sido criticada pela forma como conduziu os seus ensaios, com críticos a apontarem para a falta de transparência em elementos como o número de sujeitos ou os resultados que está a avaliar, nota a Wired.
As experiências anteriores da empresa em macacos também foram alvo de controvérsia, incluindo relatos de que os animais envolvidos nos ensaios tiveram de ser eutanasiados após sofrerem complicações — incluindo hemorragias cerebrais, “diarreia sanguinolenta, paralisia parcial e edema cerebral”.
Noland admite que há ainda há muito trabalho a fazer e que a equipa “encontrou alguns problemas”. Mas, diz o primeiro paciente humano a jogar computador só com a mente, “este implante já mudou a minha vida“.