O Joe que manda chama-se Manchin, não Biden. Senador trai os Democratas e chumba pacote climático

Third Way Think Tank / Flickr

O Senador Democrata da Virgínia Ocidental anunciou que não vai votar a favor do pacote de reformas climáticas de Biden, mesmo depois de mais de um ano de negociações.

Depois de recusar aprovar o pacote social Build Back Better, que era uma das bandeiras eleitorais de Joe Biden e já estava muito diluído em relação à proposta inicial, e de ser a pedra no sapato nas intenções dos Democratas de anular o filibuster dos Republicanos à nova lei eleitoral, Joe Manchin está novamente de costas voltadas com o próprio partido.

Desta vez, o Senador Democrata da Virgínia Ocidental anunciou que não vai aprovar o pacote do clima de Joe Biden, que financia a aposta nas energias renováveis e em veículos eléctricos com um aumento dos impostos aos mais ricos — pondo novamente em causa a implementação da agenda dos Democratas antes das eleições intercalares de Novembro, que, segundo as sondagens indicam, devem acabar com o partido a perder o controlo do Congresso.

Manchin tem todo este poder porque o Senado está dividido com 50 Senadores para cada partido, sendo o voto da vice-presidente Kamala Harris que desempata. Os Democratas precisam assim dos votos de todos os seus Senadores para conseguirem aprovar pacotes legislativos.

Há já 18 meses que a Casa Branca negoceia com Manchin, com algumas das provisões mais ambiciosas a cair progressivamente. Mesmo assim, estas concessões não chegaram para convencer o Senador, que acaba por ser o Joe que tem o verdadeiro poder e dita a agenda Democrata.

O Senador justificou a sua oposição com a inflação, considerando que “não é prudente” que se aprove um pacote de grandes investimentos quando os americanos enfrentam a escalada dos preços da comida, dos combustíveis e das rendas. “A inflação está a causar estragos na vida de todos”, disse.

Mas esta parecer ser apenas uma das razões para a sua oposição à lei, já que Manchin é o Senador que mais dinheiro recebeu das indústrias do petróleo e do gás para financiar a sua campanha de reeleição e a sua família também fez fortuna com a exploração de carvão.

A nega de Manchin já recebeu resposta de Joe Biden: “Deixem-me ser claro: se o Senado não se mexe para responder à crise climática e fortalecer a nossa indústria de energias limpas, vou tomar acções executivas fortes para responder ao momento”.

O chefe de Estado pode agora avançar com medidas mais drásticas que até agora tinha deixado na gaveta para tentar chegar ao consenso com Manchin. Com ordens executivas, Biden pode ordenar que a Agência de Protecção Ambiental crie limites nacionais para a emissão de gases com efeito de estufa ou que trave a poluição das centrais energéticas.

A Casa Branca pode também impor requerimentos apertados para novos carros, usar o Defense Protection Act para aumentar a aposta nas energias renováveis ou acabar com as licenças para a exploração de gás e petróleo na propriedade federal. Apesar disto, as medidas adoptadas unilateralmente por Biden nunca serão tão abrangentes como o pacote legislativo.

“Manchin representa os mais ricos deste país”

O Senador Bernie Sanders, da ala progressista e defensor do Green New Deal também disparou contra Manchin. “Já há seis meses que digo que há pessoas  como Manchin e Sinema, em menor grau, que estão a sabotar intencionalmente a agenda do Presidente, aquilo que os americanos querem”, atirou.

“O problema é que continuamos a falar com Manchin como se ele fosse sério. Ele não estava a ser. Na minha humilde opinião, Manchin representa os mais ricos deste país, não as famílias trabalhadoras da Virgínia Ocidental e da América”, criticou.

O Senador Democrata Ed Markey, que é um dos principais promotores do Green New Deal, também reagiu à posição de Manchin no Twitter. “A raiva impede-me de chorar. A determinação impede-me de desesperar. Não vamos permitir um futuro de desastre climático. Acredito no poder do Green New Deal, no poder dos jovens. Não vamos desistir”, prometeu.

O congressista Donald McEachin não poupou o colega de partido. “É trágico que os caprichos de um político possam descarrilar meses de esforços tediosos e pôr em causa a saúde e o bem-estar de todos os americanos e ameaçar o futuro do planeta”.

Esta está longe de ser a primeira vez que Joe Manchin dá dores de cabeça aos Democratas. O Senador é notoriamente conservador e já se juntou várias vezes aos Republicanos no bloqueio a algumas das nomeações de Biden, como Neera Tanden, que o Presidente queria à frente do Gabinete de Gestão e Orçamento, ou Sarah Bloom Raskin, que era a eleita para chefiar a Reserva Federal.

Manchin chegou até já a sugerir se não seria melhor sair do partido e chegou a ponderar apoiar publicamente Donald Trump nas eleições presidenciais de 2020.

Adriana Peixoto, ZAP //

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