Manchin continua a ser uma pedra no sapato dos Democratas — e nem a ameaça de um desafio nas primárias o detém

Third Way Think Tank / Flickr

Perante a possível perda de apoio do partido nas suas próximas eleições, Joe Manchin não se mostra incomodado nem disposto a ceder nas mexidas no filibuster para a aprovação da reforma eleitoral.

Joe Manchin já deixou a sua posição clara: não vale a pena os Democratas tentarem pressioná-lo para aceitar mudar as regras do filibuster, mesmo que isso lhe valha a perda do apoio do partido e um desafio eleitoral ao seu lugar no Senado.

Kyrsten Sinema, outra Senadora Democrata que, tal como Manchin, tem causado muitas dores de cabeça a Joe Biden, também não está disposta a ceder. Depois de uma reunião com outros Democratas, o Senador da Vírginia Ocidental até pareceu receber de braços abertos esta exclusão de si e de Sinema do resto do partido.

“A maioria dos meus colegas Democratas mudaram a sua opinião. Eu respeito isso. Eles têm o direito de mudar de ideias. Mas eu não mudei. Espero que respeitem isso também. Nunca mudei de ideias sobre o filibuster“, declarou aos jornalistas.

A Senadora do Massachusetts Elizabeth Warren e o Senador do Vermont Bernie Sanders já se mostraram disponíveis para apoiar candidatos que desafiem Manchin e Sinema nas primárias Democratas caso os dois continuem a bloquear a aprovação da reforma eleitoral, mas este cenário não é suficiente para deter Manchin.

“Fui desafiado em primárias a minha carreira inteira. Isso não seria nada de novo para mim”, respondeu. O Senador acredita também que as prioridades dos Democratas devem ser agora a pandemia e a inflacção em vez da lei eleitoral.

Sinema pode não estar tão descansada, já que cerca de 70 grandes doadores para a sua campanha de reeleição em 2018, incluindo alguns que lhe deram o valor máximo permitido pela lei, estão a ameaçar apoiar um adversário seu nas primárias e até exigir uma devolução dos fundos que lhe deram em 2018, revela o Politico. O lugar de Sinema vai a reeleição em 2024.

Em causa está a aprovação dos pacotes de reforma eleitoral Freedom to Vote Act e John Lewis Voting Rights Advancement Act que impõem critérios a nível federal para as eleições, isto depois de terem entrado em vigor mais de 30 leis em 19 estados Republicanos que restringem o acesso ao voto, depois das acusações de fraude eleitoral de Donald Trump.

O Senado têm actualmente 50 Senadores para cada partido, mas é controlado pelos Democratas devido ao voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris. Apesar disto, há uma regra que permite ao partido minoritário bloquear a aprovação de legislação do partido que controla a Câmara.

O filibuster determina que antes de uma lei ir a votos, 60 Senadores têm de concordar com o fim do debate, o que leva a que, mesmo que um partido controle o Senado, não consiga aprovar as suas propostas de lei se não tiver uma super-maioria.

Para permitir que os pacotes de reforma eleitoral sejam aprovados antes das intercalares deste ano, o líder da maioria Democrata no Senado, Chuck Schumer, quer recorrer à chamada “opção nuclear” e alterar as regras do filibuster para poder acabar com o bloqueio Republicano.

No entanto, para conseguir fazer isto, Schumer precisa do voto de todos os Senadores Democratas, e Manchin e Sinema não estão para aí virados. Esta não é a primeira vez que os dois dão dores de cabeça ao partido, tendo sido os responsáveis pelo impasse para a aprovação do pacote Build Back Better de Joe Biden.

O Senador da Virgínia Ocidental já disse que não “leva a peito” as tentativas de Chuck Schumer de avançar com um voto para mexer com o filibuster. No fim da reunião, o líder Democrata no Senado reafirmou que a grande maioria do partido “discorda fortemente” com Sinema e Manchin.

“A grande maioria do nosso caucus sabe que se tivermos de depender de votos Republicanos, não vamos ter nenhum progresso no direito ao voto”, acrescentou, sem esclarecer se iria apoiar Sinema e Manchin e futuras eleições primárias. “Não vou entrar na questão política. Este é um assunto importante e sério“.

O Senador Tim Kaine, que tem negociado com Manchin, também lembra que os Democratas têm tentado de tudo para lhe agradar e a Sinema. “Eu não fui um negociador da lei das infraestruturas — fiquei feliz por eles serem, dei-lhes os parabéns, e votei a votar. Vai ser muito boa”, afirma.

“Esta lei do voto é tão ou mais importante para muitos de nós do que a lei das infraestruturas. O tempo da decisão está perto”, avisa Kaine.

Recorde-se que Manchin foi também já um dos principais entraves ao conteúdo da proposta inicial da lei de reforma eleitoral, tendo os Democratas cedido às suas exigências.

“Já nos curvamos na direcção deles durante meses. Acho que lhes mostramos o respeito devido”, comentou o Senador Dick Durbin, que afirma não saber onde a lealdade partidária de Manchin e Sinema “começa e acaba”.

Este impasse é mais um problema para os Democratas numa altura em que a popularidade de Joe Biden não traz bons agoiros para os resultados das eleições intercalares marcadas para Novembro, também em parte devido às novelas no Congresso para a aprovação das reformas que prometeu na campanha para as presidenciais de 2020.

Adriana Peixoto, ZAP //

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