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Jazida com pegadas de dinossauro é usada como lixeira. O caso vai agora a tribunal

GualdimG / Wikimedia

Monumento Natural de Carenque.

O Monumento Natural de Carenque contém o maior trilho contínuo da Europa de pegadas de dinossauro. O espaço não é devidamente fiscalizado nem protegido, sendo usado como lixeira clandestina.

A jazida de Pego Longo, em Carenque, Sintra, abriga um conjunto de pegadas de dinossauros, descobertas há mais de 30 anos por dois alunos da licenciatura em Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. O espaço é utilizado como lixeira clandestina.

O geólogo António Galopim de Carvalho lidera uma equipa de cientistas que vai interpor uma providência cautelar junto do Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra para travar degradação do espaço e conservá-lo, escreve o jornal Público.

Ao todo, no Monumento Natural de Carenque, são cerca de duas centenas de pegadas de dinossauro, com uma idade de 90 a 95 milhões de anos. O destaque vai para o maior trilho contínuo da Europa com 132 metros, que se acredita terem sido deixadas por um ornitópode.

Uma camada de calcário assenta sobre uma outra camada de natureza argilosa, que torna frágil o solo da jazida. Aliado a isto, há um excesso de lixo e entulho que polui a paisagem.

No local foram ainda encontrados fósseis de vegetais e uma elevada concentração de fósseis de conchas de bivalves. Assim, os investigadores conseguem pintar uma boa imagem de como era o ambiente há dezenas de milhões de anos.

“O clima era quente e húmido e a vegetação abundante. Na sua progressão de abertura para norte, o oceano Atlântico não tinha, ainda, separado suficientemente os continentes norte-americano e euroasiático, havendo no que é hoje a orla ocidental de Portugal uma penetração de mar”, explica ao Público António Galopim de Carvalho, professor da Universidade de Lisboa.

Desde 1986 que o geólogo tenta proteger o património do Monumento Natural de Carenque, que se se encontra desde então em risco.

Seis anos depois, travou uma batalha legal para evitar que a então projetada Circular Regional Exterior de Lisboa (CREL) intersetasse a jazida. Na altura, concluiu-se que a melhor solução seria abrir dois túneis sob a jazida, numa obra que custou 8 milhões de euros.

O projeto para a construção do Museu e Centro de Interpretação de Pego Longo foi aprovado em 2001 pela Câmara Municipal de Sintra. Porém, aguarda verbas há 19 anos.

“Penso que nunca houve por parte dos últimos dois presidentes da Câmara Municipal de Sintra interesse na construção do museu. Sempre me receberam com a maior simpatia e consideração, mas, concretamente, nada fizeram, mesmo quando lhes propus que a obra poderia ser faseada, em anos sucessivos, e que se encontrassem parcerias”, disse António Galopim de Carvalho ao Público.

O geólogo culpa também o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que “não fiscalizaram nada, nem protegeram nada” em quase 20 anos.

A providência cautelar que vai interpor pretende responsabilizar os visados, precisamente, pela falta de fiscalização. O objetivo passa por condená-los “a praticar ações de limpeza dos terrenos […] procedendo à eliminação da vegetação existente no local e à recolha dos resíduos e ao seu correto tratamento”.

Adicionalmente, lê-se no documento a ser apresentado no Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra, deve-se “proceder a obras de restauro e conservação do património paleontológico do local e dinamizar projetos de estudo científico e proceder à divulgação numa perspetiva de educação ambiental”.

Quanto à musealização do espaço, ainda que seja o objetivo para o futuro, Galopim de Carvalho salienta que essa não é a prioridade, face à pandemia de covid-19.

ZAP //

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