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Já não há motoristas portugueses retidos no Reino Unido. Prejuízos põem em risco aumentos salariais

Facundo Arrizabalaga / EPA

Segundo a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram), já não há nenhum motorista português retido em Dover, no Reino Unido.

André Matias de Almeida, porta-voz da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram), confirmou ao jornal Público que já não há nenhum motorista português retido em Dover, no Reino Unido.

“Os motoristas portugueses ou já passaram a fronteira ou estão em trânsito e portanto não temos nota de nenhum que esteja retido”, disse André Matias de Almeida.

Na opinião do também advogado, “terão de ser assumidas as responsabilidades políticas” pela situação vivida pelos motoristas nos últimos dias e, também, pelas consequências sofridas pelas empresas.

Na manhã de sábado, André Matias de Almeida disse que mais de 100 motoristas portugueses não tinham ainda passado a fronteira e que “nos 3.000 testes feitos” aos camionistas de várias nacionalidades havia “apenas três a cinco motoristas infetados”.

“Depois sucederam-se convívios entre motoristas, como é normal, depois de estarem ali retidos e, portanto, cumpre perguntar se esses motoristas entretanto se infetaram todos uns aos outros – perante estes testes negativos que, como sabemos, não correspondem ao período de incubação – quem é que vai assumir a responsabilidade política, se houver muito mais motoristas infetados a trazer essa nova estirpe para a Europa continental, coisa que não aconteceria se estes motoristas estivessem em trânsito dentro dos seus próprios camiões”, questionou Matias de Almeida.

“É obvio que, agora, com o regularizar da situação, o desfoque neste caso vai acontecer, mas isso nem sequer atribui às empresas melhores condições económicas, face ao prejuízo que tiveram com esta situação, nem, por outro lado, coloca estas pessoas a passar o Natal com as suas famílias”, concluiu.

Patrões dizem que não vão “suportar” aumentos salariais

Os patrões estão preocupados com os prejuízos financeiros que a paragem dos motoristas no Canal da Mancha provocou e com os aumentos salariais que estão previstos para janeiro.

Após duas greves em 2019, as negociações entre os patrões e sindicatos de motoristas ditaram um aumento de 11,1% na tabela salarial dos motoristas de pesados, entre outras mudanças feitas ao contrato coletivo de trabalho vertical. As exigências dos sindicatos passavam ainda pela indexação dos salários ao valor do salário mínimo nacional, que em janeiro aumentará 30 euros (de 635 para 665 euros).

Em declarações ao semanário Expresso, os patrões disseram que esta carga salarial será difícil de executar, principalmente devido aos prejuízos recentes.

“Este será um aumento que estas empresas não poderão suportar e não suportarão”, avisa André Matias de Almeida. “A Antram vai pedir uma reunião ao Governo sobre esta situação e sobre o aumento dos salários indexado ao salário mínimo, porque é incomportável”.

O tráfego de camiões entre o Reino Unido e a França foi suspenso durante 48 horas na sequência da deteção em território britânico de uma variante do SARS-CoV-2 que pode ser até 70% mais contagiosa.

Na quarta-feira, a França abriu a fronteira, mas exige que os motoristas tenham um teste covid-19 negativo para entrar no seu território.

Cerca de 300 motoristas portugueses terão ficado retidos na fronteira entre o Reino Unido e a França, entre os milhares de várias nacionalidades.

Maria Campos, ZAP //

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