Iniciativa ocorre depois de 12 trabalhadores da agência na Faixa de Gaza serem implicados no ataque de 7 de outubro. UNRWA é vista por muitos como a “tábua de salvação” para os mais de dois milhões de palestinianos em Gaza.
O parlamento israelita aprovou esta quinta-feira preliminarmente um projeto-lei para proibir a UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente) no âmbito do presumível envolvimento de trabalhadores daquela Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos no ataque de 7 outubro do Hamas contra Israel.
Com 33 votos a favor e 10 contra, “a sessão plenária do Knesset (Parlamento) aprovou em leitura preliminar o projeto-lei para impedir as atividades da UNRWA” em terras estatais israelitas, segundo um comunicado ao qual a agência EFE teve acesso.
Promovida pelo partido de direita Likud do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, a iniciativa será agora enviada à Comissão dos Negócios Estrangeiros e Segurança para discussão e deverá ser aprovada em três leituras subsequentes.
“Nas escolas que a agência opera em Jerusalém, estudam-se conteúdos antissemitas e os livros escolares glorificam os terroristas que assassinaram mulheres e crianças”, indica a nota explicativa do diploma.
A mesma nota refere que o “papel da UNRWA é lidar apenas com refugiados palestinianos e, portanto, não há espaço para prestar quaisquer serviços no território do Estado de Israel, onde não há refugiados palestinianos, mas sim residentes do país”.
Israel assumiu o controlo da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental na Guerra dos Seis Dias de 1967, tendo mantido um longo regime de ocupação militar e colonização do território. Apesar de existirem pessoas de origem palestina com nacionalidade israelita em Jerusalém, muitas destas apenas têm autorização de residência.
“Campanha política” para expulsar palestinianos
Na terça-feira, o ministro israelita da Construção e Habitação, o ultraortodoxo Yitzchak Goldknopf, ordenou a evacuação imediata dos escritórios da UNRWA em Jerusalém Oriental.
As posições de Israel contra a UNRWA, organização criada em 1948, ocorrem depois de cerca de 12 trabalhadores da agência na Faixa de Gaza serem implicados no ataque do grupo islamita Hamas contra Israel, em outubro, que desencadeou a atual guerra. A UNRWA, que tem mais de 30 mil funcionários, abriu uma investigação e rescindiu os contratos com os suspeitos.
Neste contexto, uma dúzia de países anunciaram a suspensão de financiamento à organização, incluindo os principais doadores, como os EUA, Canadá, Alemanha e Suíça.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia instou os países que suspenderam o financiamento a reconsiderarem, dizendo que a UNRWA é uma “tábua de salvação” para os mais de dois milhões de palestinianos em Gaza e que a agência não deve ser “punida coletivamente” quando tem mais de 13 mil funcionários.
Johan Soufi, ex-diretor jurídico da UNRWA, também suspeita das intenções de Israel, alegando que esta acusação foi feita para “desviar a atenção e distrair o debate público” numa altura em que a conduta dos israelitas está a ser escrutinada no Tribunal Internacional de Justiça, na sequência do processo por genocídio aberto pela África do Sul.
Soufi frisa que a UNRWA é frequentemente alvo de críticas de Israel, que não esconder que tem uma “campanha política” para esvaziar a Faixa de Gaza de palestinianos. “Esse projeto passa necessariamente pela neutralização ou o desaparecimento da UNRWA”, refere à rádio pública francesa RFI.
Israel apontou recentemente para “um encobrimento da militarização do Hamas de hospitais e bens militares dentro de instalações das Nações Unidas”, referindo-se à recente descoberta de um túnel sob a sede principal da UNRWA em Gaza.
Em resposta, o Comissário Geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, sublinhou que o pessoal da agência “abandonou a sede na cidade de Gaza em 12 de outubro, na sequência de ordens de evacuação emitidas por Israel e perante a intensificação dos bombardeamentos na zona” e apelou a uma investigação “independente”, apesar de o Ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, ter pedido a sua demissão.
No início do mês, o ministro dos Negócios Estrangeiros anunciou que Portugal iria fazer uma contribuição adicional de um milhão de euros para a Agência das Nações Unidas de Apoio aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA).
João Gomes Cravinho anunciou a contribuição extraordinária depois de uma reunião com Philippe Lazzarini, responsável pela agência das Nações Unidas que apoia os refugiados palestinianos.
ZAP // Lusa
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