Isolamento pode passar para 5 dias em vez de 10. Situação está a ser avaliada

Tiago Petinga / Lusa

Marta Temido, ministra da Saúde

Marta Temido afirma que será “avaliada” a redução do isolamento de dez para cinco dias, mas reforça apelo à vacinação e ao cumprimento das medidas.

A ministra da Saúde Marta Temido adiantou à CNN Portugal que a decisão de reduzir o número de dias de isolamento, de dez para cinco, “terá de ser avaliada”.

“É uma decisão estritamente técnica. As autoridades de saúde estão a recolher a melhor informação, a trabalhar com outros países e a verificar qual a melhor solução para o nosso contexto epidemiológico”, refere a ministra. “Se isso for possível, é naturalmente uma boa notícia“, acrescenta.

Marta Temido afirma ainda que o número de casos registados esta terça-feira, um recorde 17.172 infeções, “está em linha” com as estimativas do Instituto Ricardo Jorge (INSA) e também com a “subnotificação” de casos nos dias anteriores.

“Estes números estão em linha com as estimativas que o INSA tinha disponibilizado ao Ministério da Saúde”, explica Temido.

“Estão também em linha com o que é alguma recuperação de uma subnotificação que era patente no dia 26 de dezembro, e também no dia 27, e com aquilo que imaginávamos viesse a ser o impacto de uma maior prevalência da variante Ómicron, com um risco de transmissão superior e velocidade de duplicação na casa dos oito dias”, nota a ministra.

Marta Temido lembra que a variante Ómicron foi identificada há apenas um mês, o que não permite ter certezas quanto ao impacto “em termos de hospitalizações e letalidade”. No entanto, deixa duas garantias. “O reforço da vacinação protege e medidas restritivas ajudam a conter a propagação do vírus”.

Salientando que “não há previsões” para o pico de casos desta vaga, a ministra reafirma que a estimativa atual aponta para os 37 mil casos, a 7 de janeiro.

“Não temos previsões. O que sabemos é que tomámos medidas de antecipação. Temos de dar tempo para que produzam efeitos”, realça Temido.

“Dias 29 de dezembro e 4 de janeiro, vamos fazer uma reanálise de cenários e de evolução, mas neste momento é prematuro imaginar quando chegamos ao pico e quanto tempo demoraremos a reverter esta situação. Neste momento, a estimativa aponta para 37 mil casos a 7 de janeiro”, reforçou.

A ministra da Saúde abordou também os constrangimentos na Linha Saúde24 que, segundo a própria, “desde há oito dias que sente pressão“.

“Os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, a Altice e a DGS têm tomado medidas, como a revisão dos algoritmos de atendimento que permitam automatizar os fluxos de resposta e o reforço de meios humanos e técnicos da linha, com a abertura de novos call centers noutros pontos do país”.

A ministra diz que estamos numa “outra fase da pandemia, que talvez não tenha um impacto na mortalidade que teria se tivéssemos este número de infeções há um ano”.

“Quando tivemos os mais de 16 mil casos, havia mais de 300 mortos e mais de 900 pessoas nos cuidados intensivos. Hoje a realidade é distinta, e isso deve-se à vacinação, mas o tipo de respostas que temos de dar é também distinto”. A ministra acrescenta que não teme a falta de adesão dos portugueses às novas medidas.

“Temos de dar tempo às medidas para fazer efeito. Espero que aquilo que fizemos seja suficiente. Estou em crer que os portugueses, que nos habituaram a um nível de responsabilidade do qual nos orgulhamos e nos permitiu chegar até aqui, conseguirão também estar à altura. Nós tentaremos fazer o melhor possível para não defraudar as expectativas”, conclui Temido.

E nos outros países?

Nos Estados Unidos, quem testar positivo à covid-19 e não tiver sintomas deixa de estar dez dias em isolamento e passa a estar apenas cinco. No Reino Unido são sete dias de isolamento, com a apresentação de dois testes negativos.

Numa altura em que o mundo está a ser atingido por uma nova variante da covid-19, há países que estão a reduzir o tempo de isolamento dos casos positivos.

É necessário ter em conta o facto da Ómicron ser mais transmissível, mas menos agressiva, e ao que parece essa será a tendência de eventuais futuras variantes.

O segundo fator a ter em conta, quando se fala na redução do isolamento, tem a ver com a paralisação da sociedade em setores essenciais.

A redução para metade dos dias de isolamento surgiu esta semana nos Estados Unidos. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) recomendou a redução do período de isolamento, de dez para cinco dias, para aqueles que testarem positivo à covid-19, mas estejam assintomáticos.

Após os cinco dias de isolamento, deverão cumprir outros cinco de uso de máscara, sempre que estejam em contacto com outras pessoas. 

O Reino Unido foi mais cauteloso. Reduziu o isolamento de dez para sete dias, mas exige a apresentação de um teste antigénio negativo ao sexto e ao sétimo dia. Após esse isolamento, estas pessoas devem reduzir ao máximo o contacto com outras e manter, se possível, o teletrabalho.

Opinião de especialistas portugueses

De acordo com entrevistas dadas à CNN Portugal, os especialistas Sofia Batista, Pedro Simas, Ricardo Mexia, Filipe Froes e Pedro Gomes de Sena explicam quais são os riscos e os benefícios.

Desde o início da pandemia de covid-19 que o tempo de isolamento tem reduzido. Inicialmente eram 14 dias, passou para dez e, agora, pode encurtar novamente.

Sofia Baptista, médica e professora da Universidade do Porto, considera que é um processo natural e que tem a ver com o tempo de incubação do vírus nas variantes que vão surgindo.

“Eu acho que Portugal poderia olhar para estes exemplos e reduzir o tempo de isolamento, mas com a precaução do Reino Unido“, porque “ganhar três dias sem acarretar risco acrescido seria já muito bom”.

A especialista considera que é preciso gerir duas faces da pandemia. “A disseminação rápida e o elevado do número de novos casos previstos para os próximos dias/semanas e o outro lado que é a paralisação social que tal acarreta“.

Se Portugal chegar aos 30 mil novos casos diários de contágio como se prevê na próxima semana, exemplificou, seriam cerca 30 mil pessoas isoladas durante 10 dias, muitas delas em serviços essenciais para a sociedade, nos quais não existe a possibilidade de teletrabalho.

Pedro Simas, virologista, concorda com a redução do período de isolamento e não considera que haja riscos acrescidos se Portugal implementar o sistema dos Estados Unidos, “porque temos 90% da população vacinada e uma cobertura muito grande de 80% acima dos 70 anos nas doses de reforço”.

“Deveríamos seguir o CDC porque estamos numa posição diferente do Reino Unido. O Reino Unido tem 70% da população vacinada, nós temos 90%”, acrescenta.

“Os Estados Unidos têm 61% da população vacinada. Têm de ter um cuidado maior em relação à Ómicron, em comparação com Portugal”, refere Simas.

Para o especialista, a Ómicron prova que o país está a caminhar para uma situação endémica, ou seja, um número de infeções constante ao longo do ano e, sazonalmente, esse número é mais elevado.

No caso dos vírus respiratórios, esse aumento verifica-se nos meses de inverno e, por isso mesmo, “ter medidas de restrição para além do uso de máscara” é estar a “confinar o país quando não é necessário“.

A Ómicron não vai ser controlada por vacinação na população em geral com doses de reforço. Não é sustentável estar a aplicar terceiras, quartas e quintas doses, porque o número de novas infeções não acarreta o mesmo impacto de saúde pública de há um ano”, explica o virologista.

Pedro Simas defende ainda que Portugal é dos países “mais bem posicionados” a nível mundial para aliviar as medidas restritivas, e que reduzir o período de isolamento poderia ser um bom início para essa trajetória.

“Eu percebo que há a memória do passado, percebo que as pessoas estão preocupadas e que há o princípio da prudência, mas agora estamos muito protegidos e estamos capacitados para tolerar níveis endémicos de infeção”, assegurou.

Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANSMP), admite que esta redução nos dias de isolamento profilático pode ser uma possibilidade em Portugal, principalmente nas pessoas vacinadas, até porque já existem dados “mais robustos” que sustentam esta medida.

“Eu julgo que é uma medida que pode fazer sentido, particularmente naqueles que já estão vacinados e têm um menor risco de ter doença grave“, refere. “Sabemos que o isolamento de dez dias causa muito mais disrupção na vida das pessoas, no funcionamento da própria economia, do que um isolamento de apenas cinco dias.”

“Portanto, é algo que tem de ser tido em conta em função da evolução da situação”, explica o presidente da ANSMP.

Já o pneumologista Filipe Froes considera que é necessário rever “novos período de isolamento e quarentena”, tendo em conta a “realidade existente, o fator de risco das pessoas e a percentagem muito significativa de portugueses com o esquema vacinal completo e com as doses de reforço”.

“É preciso garantir duas coisas: a segurança do próprio e dos outros ao evitar que haja indivíduos a perpetuar surtos na comunidade e ainda assegurar a menor disrupção possível em resultado do período de absentismo laboral”, realça.

O pneumologista apoia esta revisão do tempo de isolamento e, apesar de não fazer referência ao número de dias que deve ser estabelecido, conclui que deve ser apresentado um teste negativo no final do isolamento ou quarentena.

Na mesma linha que Froes, Pedro Gomes de Sena, médico de medicina geral e familiar, acredita que uma redução no tempo de isolamento faz sentido, uma vez que tem de se “acompanhar a biologia desta nova variante“.

A Ómicron aparenta ter um ciclo de vida mais rápido. Assume-se que o maior risco de transmissibilidade acontece nos dois dias antes de se manifestar sintomas e os nos dois dias a seguir”, explica o especialista.

Tendo em conta o impacto que os isolamentos estão a ter em termos laborais, e dado o período de incubação, talvez pudesse fazer algum sentido em Portugal”, explica.

Questionado sobre quantos dias se poderiam retirar do modelo de isolamento atual, o médico aponta para “um meio termo entre os cinco e os dez dias“, apostando assim nos sete dias de isolamento profilático, com a apresentação de um teste rápido negativo no final.

Até ao momento, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) ainda não emitiu nenhuma norma que recomende aos países da União Europeia aplicar medidas neste sentido.

No entanto, há especialistas que defendem que essa diretriz deveria ser criada o mais rápido possível, para haver uma uniformização entre os vários países.

ZAP //

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