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Interstício: o corpo humano acaba de ganhar um novo órgão

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Jill Gregory (Mount Sinai Health System)

Ilustração de Jill Gregory do novo órgão, o interstício

Uma equipa de cientistas norte-americanos revela que temos um órgão que nunca tinha sido considerado como tal. Estamos a falar do interstício, formado por um espaço com fluido em circulação.

Uma equipa de cientistas dos Estados Unidos descobriram o que dizem ser um novo órgão do corpo humano. Trata-se de uma estrutura anatómica, formada por um espaço com fluido e está nos tecidos conjuntivos por baixo da superfície da pele, reveste o tubo digestivo, os pulmões e o sistema urinário e rodeia as artérias, as veias ou a membrana entre os músculos. Chama-se do interstício.

Os cientistas descrevem este órgão pela primeira vez num artigo científico, publicado publicado esta terça-feira na revista Scientific Reports, considerado um dos maiores do corpo humano.

Esta descoberta deu-se graças a um novo endoscópio. Em 2015, os médicos e autores do trabalho Petros Benias e David Carr-Locke mostraram ao patologista e coordenador do trabalho Neil Theise fotografias das paredes dos canais biliares obtidas por este instrumento.

Ao Público, Neil Theise, da Escola de Medicina Icahn do Hospital do Monte Sinai, conta que “este endoscópio tem uma nova função: depois de injectar um pouco de corante fluorescente na veia da pessoa durante a endoscopia, pode-se examinar o tecido vivo a um nível microscópico semelhante ao que se tem nas biopsias”.

Quando se observaram “espaços” nos canais biliares, os cientistas aperceberam-se de que estes não correspondiam ao que se conhecia até então. Assim, a equipa analisou canais biliares retirados de doentes com cancro durante as operações, a fim de saber o que seriam esses “espaços”.

“Vimos algo inesperado. Uma camada intermédia do canal biliar, que se pensava que fosse um tecido conjuntivo densamente compactado e com uma parede de colagénio densa, era na verdade um espaço aberto, preenchido por fluido e sustentado por uma rede de fibras de colagénio”, explica o especialista.

Jill Gregory (Mount Sinai Health System)

Depois desta descoberta nos canais biliares, os cientistas analisaram outras camadas de tecidos conjuntivos, como as dos revestimentos dos órgãos viscerais, da derme, a fáscia ou o tecido à volta dos vasos sanguíneos e encontraram o interstício em todos eles.

É neste espaço que se encontra o fluido extracelular. Os cientistas estimam que “aproximadamente 20% do volume do fluido do corpo, que inclui cerca de dez litros, está dentro do interstício”.

Segundo o patologista, citado pelo jornal, o fluido intersticial foi criado para ser a ‘pré-linfa’, que chega ao fluido no sistema linfático. Este espaço é, assim, a continuação do sistema linfático e dos gânglios linfáticos. “O espaço intersticial é a fonte primária da linfa e é o maior compartimento de fluido no corpo”, diz, destacando que ainda se sabe muito pouco sobre este órgão.

Esta descoberta pode levar a avanços na medicina, nomeadamente no estudo das metástases de cancro, bem como do edema, da fibrose e dos mecanismos de funcionamento de tecidos e órgãos.

Contudo, para ter estatuto de novo órgão é necessário consenso científico. Assim, esta investigação tem ainda de ser confirmada por outros cientistas.

ZAP //

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