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O InSight da NASA chega a Marte esta segunda-feira (e vai aterrar num local perfeitamente “chato”)

A agência espacial norte-americana (NASA) explora, sem dúvida, alguns dos locais mais inspiradores do nosso Sistema Solar e além. Uma vez vistos, quem pode esquecer o astronauta Jim Irwin diante da beleza da cordilheira Hadley da Lua, dos magníficos “Pilares da Criação” do Telescópio Espacial Hubble ou do magnífico mosaico de Saturno da Cassini?

Marte também desempenha um papel nesta equação visualmente atraente, com as imagens de alta resolução do rover Curiosity dos cumes e montes arredondados na base do Monte SHarp, trazendo à mente o sudoeste americano.

Dito isto, Elysium Planitia – o local escolhido para o pouso de 26 de novembro da missão InSight da NASA – provavelmente nunca será mencionado juntamente com aqueles acima porque é, claro, raso.

“Se Elysium Planitia fosse uma salada, consistiria de alface e couve – sem tempero,” comenta Bruce Banerdt, investigador principal da InSight no JPL da NASA em Pasadena, no estado norte-americano da Califórnia. “Se fosse um gelado, seria de baunilha.”

Sim, o local de aterragem da próxima missão da NASA a Marte pode muito bem parecer um estacionamento de um estádio, mas é assim que o veículo InSight (Interior Exploration using Seismic Investigations, Geodesy and Heat Transport) gosta.

“As missões anteriores ao Planeta Vermelho investigaram a sua superfície estudando os seus desfiladeiros, vulcões, rochas e solo,” comenta Banerdt.

“Mas as assinaturas dos processos de formação do planeta só podem ser encontradas sentindo e estudando evidências enterradas bem abaixo da superfície. O trabalho do InSight é estudar o interior profundo de Marte, obtendo os sinais vitais do planeta – o seu pulso, temperatura e reflexos.”

A obtenção desses sinais vitais vai ajudar a equipa científica da missão InSight a vislumbrar uma época em que os planetas rochosos do Sistema Solar se formaram. As investigações vão depender de três instrumentos:

Um sismógrafo com seis sensores, de nome SEIS (Seismic Experiment for Interior Structure), vai registar ondas sísmicas que viajam pela estrutura interior do planeta. O estudo das ondas sísmicas vai dizer aos cientistas o que poderá estar a criá-las (em Marte, os cientistas suspeitam que os culpados podem ser sismos ou meteoritos que atingem a superfície).

A suite HP3 (Heat Flow and Physical Properties Package) vai escavar mais fundo do que qualquer outra pá, broca ou sonda em Marte antes de medir quanto calor está a ser emanado para fora do planeta. As suas observações vão ajudar a esclarecer se a Terra e Marte são compostos do mesmo material.

Finalmente, a experiência RISE (Rotation and Interior Structure Experiment) do “lander” InSight vai usar os rádios do veículo para avaliar a oscilação do eixo de rotação de Marte, fornecendo informações sobre o núcleo do planeta.

Local de pouso perfeitamente “chato”

Para o InSight fazer o seu trabalho, a equipa precisava de um local de pouso que preenchesse vários requisitos, pois o veículo de aterragem de três pernas – não é um rover – permanecerá imóvel onde quer que aterre.

“A escolha de um bom local de pouso em Marte é muito como escolher uma boa casa: localização, localização, localização,” comenta Tom Hoffman, gestor do projeto InSight no JPL. “E, pela primeira vez, a avaliação de um local de pouso em Marte teve que considerar o que ficava abaixo da superfície de Marte. Precisávamos não só de um local seguro para a aterragem, mas também de um espaço de trabalho penetrável pela nossa sonda com 5 metros de comprimento.”

O local também precisa ser brilhante o suficiente e quente o suficiente para alimentar as células solares, mantendo os seus componentes eletrónicos dentro dos limites de temperatura durante um ano marciano completo (26 meses terrestres).

Assim sendo, a equipa focou-se numa faixa em redor do equador, onde os painéis solares do lander teriam luz solar adequada para alimentar os seus sistemas o ano todo. Para encontrar uma área suficientemente segura para a aterragem da missão InSight e para depois implantar os seus painéis solares e instrumento sem obstruções, foi necessário um pouco mais.

“O local tem que ter uma altitude baixa o suficiente para ter atmosfera suficiente acima do solo para uma aterragem segura, porque a espaçonave vai depender primeiro do atrito atmosférico com o seu escudo de calor e depois de um paraquedas que penetra a ténue atmosfera marciana durante grande parte da sua desaceleração,” comenta Hoffman.

“E depois da libertação do paraquedas e dos seus motores de travagem darem o pontapé inaugural para a descida derradeira, é preciso haver uma extensão plana para pousar – não muito ondulante e relativamente livre de rochas que podem derrubar o módulo marciano de três pernas.”

Dos 22 locais considerados, só Elysium Planitia, Isidis Planitia e Valles Marineris cumpriam as restrições básicas de engenharia. Para classificar os restantes três candidatos, foram analisadas imagens obtidas por orbitadores marcianos da NASA e registos meteorológicos. Eventualmente, Isidis Planitia e Valles Marineris foram descartados por serem muito rochosos e ventosos.

Restou uma elipse de aterragem com 130 quilómetros de comprimento e 27 de largura na orla oeste de uma planície lisa de lava.

NASA/JPL-Caltech

Esta impressão de artista mostra o terreno plano e macio que domina a elipse de aterragem do veículo de aterragem InSight, situado na região Elysium Planitia de Marte.

“Se fôssemos marcianos e viéssemos explorar o interior da Terra como vamos explorar o interior do Planeta Vermelho, não importava se aterrássemos no estado norte-americano do Kansas ou nas praias de Oahu no Hawaii,” comenta Banerdt.

“Embora esteja ansioso por ver as primeiras imagens da superfície, estou ainda mais ansioso para ver os primeiros conjuntos de dados que revelam o que está a acontecer bem abaixo do nosso local de pouso. A beleza desta missão é o que acontece por baixo da superfície. A região Elysium Planitia é perfeita.”

Depois de uma viagem de 205 dias que teve início no dia 5 de maio de 2018, a missão InSight da NASA vai aterrar em Marte no dia 26 de novembro antes das 20:00 (hora portuguesa). Os seus painéis solares abrem-se poucas horas depois da aterragem. Os engenheiros e cientistas da missão vão levar algum tempo a avaliar o seu “espaço de trabalho” antes de implantar o SEIS e o HP3 na superfície – cerca de três meses após o pouso – e começar a ciência a sério.

// CCVAlg

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