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O inglês está a deixar de ser a língua padrão da música global

O inglês é dominante mundo fora como nenhuma outra língua. Na música, nada disto é novidade. Desde há pelo menos seis décadas, o mundo anglo-saxónico é o centro do universo musical. Algo, porém, parece estar a mudar.

É a língua franca mundial, falada fluentemente ou de forma utilitária por um quarto da população do planeta. É a língua que contamina todas as outras, introduzindo os seus vocábulos no discurso corrente e impondo os seus termos técnicos como factor distintivo de uma ideia de sofisticação e cosmopolitismo.

Mas algo está a mudar, de acordo com o Público. Despacito, o sucesso planetário de Daddy Yankee e Luis Fonsi, editado em 2017, foi o primeiro sinal. No ano seguinte, Ozuna, a estrela porto-riquenha do reggaeton, foi o músico que acumulou o maior número de streams no YouTube.

Oito das dez canções mais ouvidas na plataforma eram cantadas em espanhol. Em segundo lugar surgia J Balvin, outro porto-riquenho cuja música se finca no reggaeton e que já faz caminho por terrenos, surgindo como um dos cabeças de cartaz da edição deste ano do Primavera Sound de Barcelona e do Porto, fundado como bastião da cultura independente com centro no rock.

Entretanto, a catalã Rosalía, que também estará nos dois Primavera Sound, cruza flamenco com hip hop e R&B, e há quem creia que pode tornar-se uma figura da dimensão de Beyoncé. Enquanto isso, os BTS, boy band coreana, escalam ao topo da tabela de vendas da Billboard e esgotam pavilhões em Inglaterra, Estados Unidos ou Espanha, transformando a K-Pop, cantada em coreano, num fenómeno global.

No final de 2018, Jon Caramanica, crítico de música do New York Times, defendia que o ano tinha sido marcado pela ascensão de uma nova era de estrelas pop, assentes no streaming e nas redes sociais e definidos por elas, pelas bases da cultura hip hop e por uma nova forma de agir.

Já este ano, Caramanica voltou ao tema, assinalando que a nova era é também marcada por uma descentralização em que o inglês deixou de ser a língua padrão. No centro do império musical anglo-saxónico, os Estados Unidos, isso é hoje uma evidência. “No país mais forte da anglofonia, a anglofonia nem sequer é absolutamente dominante”. “Neste momento, há um fator muito importante, que é o peso da comunidade hispânica nos Estados Unidos”.

Frank Sinatra, representante da grande canção americana saída da era do swing, daria lugar à British Invasion dos anos 1960 que moldou em grande parte o universo pop no mundo ocidental nas décadas seguintes. Sempre o inglês como presença constante, convivendo ou sobrepondo-se às produções locais cantadas na língua de cada país. Sempre, até este presente de uma realidade em mudança.

ZAP //

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