Reação ao polémico anúncio televisivo anti-aborto de Miguel Milhão parece ter sido a “gota de água”: influencer enfrenta denúncia por discurso de ódio contra as mulheres. Numeiro já é “macho alfa” há muito tempo nas redes sociais.
A Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) apresentou esta quarta-feira queixa ao Ministério Público contra o influencer português Numeiro, na sequência de mais de duas centenas de denúncias por discurso de ódio contra as mulheres.
Numa nota publicada na quarta-feira, a CIG diz ter recebido nos últimos dias várias denúncias contra um influencer que, apesar de não ser identificado pela entidade, é João Barbosa, mais conhecido como Numeiro, youtuber e influencer, confirmam o Jornal de Notícias e o Observador.
A denúncia foi motivada por declarações que “desrespeitam gravemente os direitos das mulheres e espalham desinformação sobre o aborto”. Numeiro, criador de conteúdos digitais com milhões de seguidores nas redes sociais, reagiu no X, no sábado, às reações ao polémico anúncio anti-aborto do fundador da Prozis, Miguel Milhão, com as seguintes palavras:
“Eu nem era totalmente anti-aborto, mas depois desta merda toda, acabei por perceber que vocês são só umas putas que querem levar na cona sem consequência. Aborto não é contracetivo”.
A publicação foi entretanto eliminada pela plataforma: “esta publicação de @Numeiro foi retida em Portugal com base na(s) lei(s) local(ais)”, lê-se no lugar onde antes estavam os insultos públicos de João Barbosa.
Na sequência das denúncias, a CIG apresentou queixa junto do Ministério Público “por factos que podem eventualmente configurar discurso de ódio e eventualmente incitamento ao ódio contra as mulheres, no sentido de apurar eventuais responsabilidades legais”.
Numeiro já reagiu à denúncia, contra-atacando a CIG. “Respeita a decisão” da entidade, mas diz que “as ideias são para serem debatidas e não censuradas”.
“Alguém se importa de fazer um trabalho de pesquisa sobre esta comissão? Quem são, o que fazem, quanto limpam ao estado em €. Estou disposto a pagar por informação”, escreveu, outra vez no X.
O anúncio do “Guru” devia ter passado na televisão?
O anúncio antiaborto de Miguel Milhão, “Obrigado, Mãe!”, que foi recentemente transmitido pela TVI, CNN E CMTV, foi alvo, por sua vez, de pelo menos 9 mil queixas apresentadas à Entidade Reguladora de Comunicação (ERC), nomeadamente por atentar contra um direito das mulheres estabelecido por lei.
O anúncio viola precisamente o Código da Publicidade, explicou à Lusa Sandra Benfica, dirigente do Movimento Democrático de Mulheres (MDM), citando o seu artigo 7.º que “proíbe a publicidade que contém elementos discriminatórios ou ofensivos, incluindo aqueles que atentem contra a dignidade das mulheres” e a Lei de Igualdade de Género que “define que qualquer comunicação comercial ou publicitária que perpetue estereótipos de género ou viole os direitos das mulheres pode ser objeto de sanção”.
Já não é a primeira vez que “Guru Mike Millions” compra espaço publicitário às televisões para anúncios anti-aborto com conteúdo passível de ser interpretado como propaganda política ou ideologia.
Lamborghini do Chega e “mulher que namora não sai à noite”
Voltemos a Numeiro. À fama, dinheiro, carros, independência, masculinidade e muitas mulheres que ostenta.
Numeiro, de 27 anos, partilha conteúdo desde os 20 porque tinha uma obsessão: ser milionário. Hoje fá-lo maioritariamente a partir do Dubai, de onde partilha com os seus seguidores o seu estilo de vida de milionário, focado no trabalho independente.
O conteúdo é quase todo orientado para o que o influencer acha que um homem deve ser — e para o que uma mulher não deve ser. Com 715 mil seguidores no Instagram, é visto por muitos como uma espécie de “Andrew Tate português”, e tal como o britânico é acusado há anos de homofobia e machismo. Ainda no mês passado, Numeiro alimentou essas crenças.
“Mulher que namora não sai à noite”, disse nas suas redes sociais, comentário que lhe valeu o engagement de que se alimenta — o próprio admite que o faz “para as pessoas falarem” dele.
“Expliquem-me porque é que vocês haveriam de produzir-se, de vestirem-se com roupas praticamente descapotáveis, colocarem perfume, porem-se o máximo atraentes para irem para um sítio que sabem que vai estar cheio de homens a dar em cima de vocês? Os comportamentos numa discoteca são uma espécie de ritual de acasalamento em versão humana, e uma mulher que está numa relação não devia estar ali”, lançou. Aos críticos, respondeu, como quem dá o braço a torcer: “: a vossa pode sair à noite, a minha não”.
Outras frases do influencer são: “mulheres comprometidas terem redes sociais é algo que me ultrapassa”; “é da vossa responsabilidade enquanto homens assumirem 100% das contas”; “ninguém quer um carro com muitos quilómetros, mas toda a gente quer um motorista com muita experiência (e isto não é sobre carros)”. Numeiro já foi altamente criticado por figuras como Ana Garcia Martins, Nuno Markl, Rita Ferro Rodrigues e com a recente publicação que lhe valeu a denúncia, Sónia Tavares, que considera que “esta criança precisa de acompanhamento psiquiátrico ou em última instância, de um exorcismo“.
Recentemente, por “estar há 30 dias sem polémicas”, revelou no TikTok uma nova pintura do seu Lamborghini, decorado com a imagem do partido Chega, liderado por André Ventura, por quem tem feito publicidade nas redes sociais.
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Na mira da justiça por apostas ilegais
De recordar que Numeiro é suspeito, desde 2021, de envolvimento em esquemas ilícitos ligados a apostas de casas ilegais a atuar em Portugal. O influencer foi alvo de uma queixa-crime, em 2023, por parte da Associação Portuguesa de Apostas e Jogos Online, por promover um site de apostas ilegal.
Todos os meses, alguns dos seus subscritores pagavam 300 euros — alegadamente não declarados ao Fisco — para saberem quais os melhores jogos para apostar. Numeiro ocultava os maus resultados e manipulava as odds das apostas, suspeitava na altura o MP. Em 2024, o regulador de jogos mandou fechar o casino publicitado pelo influencer natural de Barcelos.
“Vou ter que me virar para algum lado, e virei-me para o lado que podia”, confessou no podcast do amigo e também influencer, Tiago Paiva.
Discurso de ódio pode ser considerado quase qualquer coisa… Artigo 240.º – Discriminação e incitamento ao ódio e à violência
Mais um parasita mimado e alucinado! O que pensarão as mães destes cromos dos seus filhos? E delas próprias, como educadoras?
Assino por baixo. Querem é levar na con* e depois andam para aí a abortar como se fosse um desporto. Realmente são umas put***.
Ainda vai a tempo de pedir desculpa à sua mãe e avós porque mesmo sabendo a peça que aí vinha ainda o tentaram educar…
Na quase totalidade dos casos sou contra o aborto (salvo se houver risco de vida para a mãe)! Há que consciencializar e responsabilizar as pessoas (jovens e menos jovens) para o respeito pela vida humana, que começa no útero! As declarações deste “miúdo” são totalmente exageradas, tendo contudo razão em algumas situações! Aborto não é contracetivo! Pior que isto é ter ouvido um idiota “trans” dizer que mal podia esperar por ter um útero apenas para ser o 1º da “espécie” dele a abortar! Enfim, sociedade sem valores ou moral!
Um cretino que, no entanto, tem direito à sua opinião.
Um trafulha que vai acabar mal. Desesperado por fama mas não acrescenta nada ao mundo.
Últimamente considera-se discurso de ódio e incitamento á violência, quase tudo. Há situações que vão para além disso. Chamar P**** a uma mulher, porque é a favor do aborto, não é discurso de ódio, é pior! É falta de inteligência, se foi isso mesmo que o individuo disse…….
A comunicação social, por vezes, escreve o que lhes interessa, não o que é realmente dito!
Estou curioso por saber da “Sentença” que o M.P vai emitir contra estes Anormais !
Daqui a uns tempos está a pedir subsídio de inserção…