Até a esta altura de agosto, o INEM do Algarve está a dar entre 300 a 350 respostas a casos por dia, quando o máximo de outros anos era de 285. As horas extras e as demissões aumentam, com os sindicatos a indicarem que a situação deste ano “está pior do que nos anteriores”.
“A rotatividade é cada vez maior. Há colegas que são contratados, fazem um turno e vão-se embora, outros têm de fazer dois turnos seguidos vários dias e sem folgas e outros ainda, até com mais experiência, estão a abandonar a profissão. Dizem não aguentar mais”, contou ao Diário de Notícias Nuno Manjua, dirigente regional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP).
Já a dirigente regional da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Margarida Agostinho, disse que, para os utentes, “os tempos de espera para consultas e exames nada se alterou”, continuam a ter de esperar semanas e meses “por uma consulta ou exames de diagnóstico, até mesmo nos privados, o que se consegue fazer mais rapidamente são análises, e o que está pior são os exames radiológicos para a área de ginecologia obstetrícia”.
O coordenador do INEM na região do Algarve, Carlos Raposo, confirmou que este ano estão a bater-se recordes históricos de respostas a casos urgentes e emergentes. “Temos registado um aumento de acionamento diário de meios. O pico histórico de anos anteriores era de 285 e, nesta altura, já estamos acima dos 300, alguns dias já chegámos aos 350 e em outros até já ultrapassámos um pouco”.
No início de agosto, houve um reforço dos meios disponibilizados inicialmente (32 ambulâncias e seis VMER), com mais uma VMER e dois técnicos em motociclos para os bombeiros. Carlos Raposo acredita que o aumento de situações comece a abrandar a partir da terceira semana de agosto.
O presidente da Secção Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço, disse que a situação em toda a região sul “está pior do que no período pré-pandemia, desde os serviços de urgência, cujas falhas são as mais visíveis, até aos cuidados primários e aos serviços de internamento”.
Segundo números do SEP, desde janeiro saíram 11 enfermeiros do Serviço de Urgência do Hospital de Portimão, havendo outros 12 com baixas prolongadas. Destes, sete estão fora desde o início do ano e os restantes começaram a partir de maio. Foram feitas 1424 horas extraordinárias desde 09 de maio até 04 de junho. Entre 04 a 31 de julho foram feitas 1691 horas a mais.
O cenário no serviço de urgência do Hospital de Faro é semelhante. “Só em julho demitiram-se sete enfermeiros. Disseram-nos que não aguentavam mais”, contou Nuno Manjua, acrescentando: “Não está fácil o ano inteiro. As pessoas vão e vêm. Não há nada que as faça ficar”.
O dirigente sindical sustenta que nos dois últimos anos “a classe de enfermagem disponibilizou-se e chegou-se à frente até para exercer funções que não eram suas. Deu tudo para a região conseguir responder à pandemia e neste momento está exausta. Muitos colegas começaram a sair desde que terminou o estado de emergência, porque durante este período não era possível”.
“Há falta de pessoal, e, às vezes, não há sequer o número suficiente de enfermeiros para o turno seguinte, quem está a trabalhar é obrigado a seguir o turno e faz 16 horas seguidas. Uma coisa é fazer isto esporadicamente, outra é fazer sistematicamente. Ninguém aguenta”, apontou.
“O encerramento das urgências em Portimão e em Faro tem sido pela falta de médicos, mas quem está nos serviços de internamento e quem cuida dos doentes 24 sobre 24 horas são os enfermeiros, que não podem mandá-los para casa. E não havendo pessoal quem lá está acaba por ficar até quando é preciso”, explicou.
O SEP estima que na região algarvia faltam cerca de 500 enfermeiros, 350 no Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e 150 nos cuidados primários.
“As coisas estão más no Algarve, mas este é o estado normal”, mesmo fora da época balnear, confirmou Margarida Agostinho, da FNAM. Na medicina geral e familiar, “os médicos continuam a sair para a reforma e os concursos só trouxeram colegas para as zonas carenciadas, não se consegue ninguém para trabalhar nas Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP), porque pagam muito mal, e nem se consegue fixar ninguém”.
Há mais de 30 anos que se sabe que “a afluência aumenta nesta altura do ano e que há sempre mais acidentes, quedas, traumatismos e necessidade de dar resposta a estas situações, pelo que deve haver um reforço de profissionais”, recordando mesmo que tal “já chegou a acontecer. Houve anos em que hospitais do Norte e mesmo da região de Lisboa podiam dispensar médicos que iam reforçar as equipas do Algarve, sobretudo na área da ortopedia e da cirurgia, agora já não é possível porque os próprios hospitais de base estão mais carentes”.
“Este ano está pior do que no período pré-pandemia. Nos últimos dois anos estivemos a tratar a covid e esquecemos os problemas que sempre assolaram o SNS nos últimos dez anos. E agora temos mais doentes e mais doenças para tratar e em estado mais grave, o que obriga a um esforço muito grande”, reforçou.
Para o presidente da Secção Regional do Sul, “os centros de saúde e os médicos de família vivem uma grave crise e cada vez mais, em vez de termos mais utentes com médicos, temos mais utentes sem médico. Se há três ou quatro anos tínhamos entre 400 a 500 mil utentes sem médico de família, agora temos 1,3 milhões, o que é muito grave e é uma das principais disfunções do sistema”.
“Estamos a formar mais médicos de família do que alguma vez aconteceu. Este ano, vão abrir 550 vagas para o internato da especialidade, e se contabilizarmos um rácio de 1900 utentes por médico, isto faria com que um milhão de utentes tivessem médico, mas é preciso conseguirmos retê-los no SNS”, disse o responsável.
O segundo problema “tem a ver com a sobrelotação dos serviços de Medicina Interna. Todos os serviços que conheço na Região Sul do país estão em sobrecarga, muitos deles porque têm internados doentes que deveriam estar noutras instituições”, argumentando de que “há cálculos de que alguns hospitais têm nos seus serviços cerca de 30% de doentes que já tiveram alta clínica e que não saem por não terem para onde ir. É por isto que vemos urgências com doentes em macas que esperam uma vaga no internamento. Esta é também uma disfunção que tem de ser corrigida”.
De acordo com o médico, em todo o país há 2800 especialistas em Medicina Interna, e sendo esta uma das especialidades mais sobrecarregada nas urgências, há cada vez mais profissionais “a fugir para outras funções, para os cuidados intensivos, medicina trabalho e até para outras áreas”.
Em “quase” todos os empregos, os funcionários fazem milhares de horas extras… não entendo qual o espanto no caso dos médicos e enfermeiros… ah já sei! São funcionários públicos e são pagos a peso de ouro…
Quando quiserem, eu entrego o meu CV para efetuar a troca de trabalho e respetivo ordenado…