Em abril, quando o fogo na catedral de Notre-Dame foi extinguido, libertou partículas de chumbo nas ruas e edifícios das redondezas, mas as autoridades não alertaram a população. Agora, um grupo ambiental acusa as autoridades parisienses de ineficácia e falta de transparência.
A queixa avançada na sexta-feira pelo grupo Robin de Bois à Procuradoria de Paris alega que a cidade conscientemente colocou a população em perigo e, aponta também que esta não agiu rápido para reduzir as consequências da contaminação.
Segundo a Time, as autoridades de Paris e a diocese da catedral deixaram que as pessoas da cidade fossem expostas a altos níveis de concentração de chumbo sem os alertar. Depois do incêndio, as autoridades tranquilizaram a população e, informaram que não existia perigo na área circundante de Notre-Dame.
No documento do processo legal pode-se ler: “As autoridades competentes, incluindo a diocese… negligenciaram a assistência a residentes, visitantes e trabalhadores, permitindo que eles fossem expostos a irradiações tóxicas”.
A ação judicial acusa ainda as agências de saúde, autoridades do governo e a cidade de Paris de “deliberadamente colocar pessoas em perigo” por não tomar medidas imediatas, para limitar a exposição à contaminação.
Uma investigação a que o Mediapart teve acesso, revelou que as autoridades francesas não avançaram com testes de chumbo em creches e escolas perto da catedral, até passar um mês da tragédia.
De acordo com o Observador, após o fogo na catedral de Notre-Dame, foram registados níveis de concentração de chumbo entre 400 e 700 vezes maiores em Paris do que aquilo que é considerado seguro para a saúde humana.
Quando os testes foram realizados, encontraram níveis de de concentração de chumbo 10 vezes superior ao nível mais baixo considerado perigoso para a saúde humana. O jornal britânico The Guardian avança que agora várias escolas estão a ser “limpas a fundo” para remover a substância.
Na semana passada, a câmara da capital decidiu encerrar provisoriamente e “por precaução”, duas escolas perto da zona da catedral. Durante o período de férias escolares, estas funcionavam como centros de lazer para 180 crianças, refere o Jornal de Notícias.
Entretanto, o trabalho de limpeza na catedral foi interrompido no último fim de semana e, enviou trabalhadores para casa, após um oficial do governo reconhecer que as medidas de anti-contaminação não eram suficientes.
O envenenamento por chumbo, causada por ingestão excessiva da substância através do ar, comida ou bebida pode ser prejudicial em particular para as grávidas, levando a problemas de desenvolvimento em fetos, ou até mesmo abortos.
Mas também pode afetar crianças e adultos. Os sintomas incluem hipertensão, perda de memória e perda de audição. De acordo com os documentos a que o Mediapart teve acesso, uma criança parisiense já foi assistida no hospital por apresentar um nível demasiado alto de chumbo no sangue.
O Instituto Nacional de Pesquisa e Segurança (órgão governamental francês) afirma que a exposição prolongada a níveis tão altos de concentração de chumbo pode provocar neuropatias – quando os nervos deixam de funcionar corretamente-, encefalopatias – alterações que provocam infeções no encéfalo- e, pode ainda, causar cancro nos 30 anos seguintes à contaminação.
Também outros grupos ambientalistas censuraram a atitude tomada pelas autoridades e, alertaram para os potenciais riscos de saúde que deveriam ter sido levados em conta imediatamente, comparando o local da catedral a “lixo tóxico”.