Dois impostores foram à Web Summit. Gozaram com todos e ninguém se apercebeu

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Dois activistas disfarçaram-se do conhecido DJ Marshmello e de um executivo da Adidas para protestarem contra a marca de roupa desportiva na Web Summit em Lisboa. Deram uma palestra e entrevistas – e ninguém se apercebeu da farsa!

Foram os próprios activistas do grupo The Yes Man quem desvendaram tudo depois de terem sido aplaudidos por mais de mil pessoas na Web Summit, graças a uma ideia que foi vista como “revolucionária”, mas que era, afinal, apenas uma sátira para criticar a Adidas por exploração laboral dos seus trabalhadores.

Os “Yes Men” inscreveram-se na Web Summit como o DJ Marshmello – um artista que actua sempre com a cara tapada por um capacete branco com grafismos a imitar olhos e a boca – e um pretenso executivo da Adidas, Aristide Feldhol. E ninguém da organização desconfiou de nada.

Acabaram por subir ao palco daquela que é uma das maiores conferências tecnológicas do mundo para apresentarem uma suposta nova criptomoeda que, basicamente, permitiria “pagar com sonhos” num mundo virtual denominado adiVerse.

Os dois activistas revelaram a farsa no seu site, notando que o pretenso executivo da Adidas “anunciou a uma multidão” que a empresa “estava a lançar um mundo virtual para os trabalhadores mal pagos do sector do vestuário nas suas muitas fábricas no exterior, para que pudessem desfrutar dos prazeres que não podem pagar na vida real”.

Também anunciaram a nova criptomoeda – a adiCoin – que seria gerada pelo trabalho e medida por um minúsculo chip implantado no trabalhador. Só poderia ser gasta no metaverso, no mundo virtual adiVerse, onde o avatar do trabalhador poderia viver todos os seus sonhos, tendo acesso aos confortos e luxos que não pode pagar na vida real.

“Para muitos trabalhadores, isto marca a sua viagem inaugural para um mundo de enriquecimento que é irrealista na indústria do vestuário do mundo real”, apontavam os activistas no site que foi criado para anunciar esta suposta criptomoeda.

Durante a palestra na Web Summit, ninguém reparou no tom irónico da intervenção que referiu, entre outras coisas, que a Adidas usou “servos” na Segunda Guerra Mundial para produzir as suas peças e que para se manter competitiva, “alguns trabalhadores ainda não são remunerados“.

A encerrar a intervenção, “o multi-platinado “DJ Marshmello” surgiu junto de uma trupe de bailarinos de break dance para lançar o novo single, “Todo o dia sonho (com os salários atrasados)”, acompanhado em duas telas gigantescas por um profundamente horrível live feed do adiVerse”, o tal mundo virtual, relatam ainda os activistas no seu site.

“Os centenas de espectadores aplaudiram com entusiasmo“, notam os Yes Man, sublinhando que não descobriram a farsa.

Nem sequer os jornalistas se aperceberam da ironia da apresentação e “numa conferência de imprensa lotada não fizeram quaisquer perguntas difíceis”. Um dos jornalistas até se referiu à ideia como “revolucionária”, destacam os Yes Man.

A operação foi tão bem estudada e preparada que incluiu até um comunicado de imprensa falso, além do já referido site dedicado à suposta criptomoeda.

Os bailarinos que estiveram em palco, os Lisbon Breakers, também não souberam que era tudo uma fraude.

O suposto “DJ Marshmello” chegou a dar autógrafos. O verdadeiro veio, depois, assegurar que não esteve na Web Summit em Lisboa.

“Peço desculpa a quem foi enganado por esse impostor”, sublinhou o artista nas suas redes sociais, notando que já accionou a sua “equipa jurídica”.

Os Yes Man são constituídos por Andy Bichlbaum e Mike Bonanno e existem desde 1996, usando “o humor e a manha” como armas para chamar a atenção para questões sociais, como notam no seu site.

Susana Valente, ZAP //

5 Comments

  1. Extraordinário. Foi uma ideia genial, enganar os papalvos que comem tudo o que lhes cheire a modernidade parola e nem se apercebem nem querem saber da sobre exploração a que são sujeitos os trabalhadores das sweatshops que fabricam os produtos fancy que eles adoram comprar…

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