Humanos e Neandertais partilharam uma caverna. Pergunte a este osso da anca

Um osso da anca com 40 mil anos encontrado em Grotte du Renne, uma caverna em França, pode mudar drasticamente aquilo que sabemos da interação entre os antepassados humanos e os Neandertais.

“É a primeira vez que temos a associação num único ano de duas linhagens humanas diferentes: Neandertais e humanos anatomicamente modernos”, disse Bruno Maureille, arqueólogo da Universidade de Bordéus e autor do novo estudo, em declarações à Insider.

A nova investigação sugere que os primeiros humanos e os Neandertais podem ter partilhado a gruta ao mesmo tempo ou até mesmo vivido juntos.

Aquilo que os investigadores acreditam é que humanos modernos e Neandertais partilharam a misteriosa cultura Châtelperronien, que há muito confunde os cientistas. Châtelperronien é o nome dado a uma indústria arqueológica tipicamente associada aos Neandertais. É caracterizada pela presença de ornamentos e ferramentas ósseas decoradas, assim como pela presença de lâminas curvadas e pontiagudas.

A ideia que temos dos Neandertais é que eram brutos e quadrados, mas estudos recentes revelaram o contrário. As evidências atuais sugerem que os Neandertais usavam ferramentas de osso, produziam pigmentos, talvez enterrassem os seus mortos e, provavelmente, até se cruzavam com os humanos.

Se este dois grupos se sobrepuseram ou não tem sido um ponto de discórdia na comunidade científica. Isto porque há 42 mil anos, os polos magnéticos da Terra inverteram-se, o que terá provocado uma crise climática global que poderá ter levado ao fim dos Neandertais. A inversão dos polos também terá levado ao sobrecarregamento do isótopo de carbono-14 na atmosfera, dificultando a datação por carbono.

É aqui que entra a importância da cultura. Alguns acreditam que os Neandertais são os seus autores, enquanto outros pensam que os humanos modernos são os responsáveis.

A descoberta detalhada neste novo estudo oferece uma terceira alternativa: os primeiros humanos modernos e Neandertais trabalharam em conjunto na cultura Châtelperronien.

Em causa está um fragmento de osso da anca de um recém-nascido que tinha passado despercebido entre os fósseis de Neandertal recolhidos na gruta em 2019. Os cientistas ficaram intrigados porque era fino e parecia mais próximo da anatomia de um humano moderno.

Aquilo que eles perceberam é que este osso da anca em particular não era de um Neandertal, mas provavelmente de uma linhagem humana moderna. Os resultados foram publicados este mês na revista Scientific Reports.

ZAP //

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