Devido aos dois dias de greve nacional dos médicos, um de tolerância de ponto e o fim-de-semana, só estão assegurados os serviços mínimos nos hospitais e centros de saúde. Serão necessários dois meses para que os hospitais consigam recuperar as consultas e cirurgias que vão ficar por fazer.
A tolerância de ponto na sexta-feira devido à visita do Papa foi anunciada já depois de estar convocada a greve desta quarta e quinta-feira e, entretanto, os enfermeiros associados da Federação Nacional dos Sindicatos de Enfermeiros começaram uma greve de zelo por tempo indeterminado.
Ao Público, o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar de São João, no Porto, explica que para minimizar o impacto de tantos dias atípicos seguidos, a opção passou por reagendar as cirurgias e consultas e reforçar os serviços de internamento.
A legislação impede que se questione os trabalhadores sobre se vão fazer greve, pelo que não é possível antecipar o impacto. Ainda assim, António Oliveira e Silva estima que “sejam precisos pelo menos dois a três meses” para que os hospitais recuperem.
O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra também optou por reagendar as 150 operações e 2650 consultas que deviam acontecer na sexta-feira.
“As consultas e as cirurgias foram reagendadas para, em média, um mês depois”, destaca o conselho de administração.
A greve nacional dos médicos registou esta quarta-feira de manhã uma adesão superior a 80%, segundo o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), um dos que convocou a paralisação de dois dias. O balanço foi feito pelo secretário-geral do SIM, Roque da Cunha, aos jornalistas, no hospital de Santa Maria, em Lisboa.
O dirigente sindical indicou que há vários blocos operatórios encerrados no país e, apesar de se escusar a entrar “numa guerra de números”, apontou para uma adesão superior a 80% neste primeiro dia de paralisação.
Consultas e cirurgias programadas devem ser as mais afetadas nestes dois dias de greve, com os profissionais a cumprirem obrigatoriamente os serviços mínimos, que contemplam as urgências, quimioterapia e radioterapia ou transplantes.
A paralisação foi convocada pelos dois sindicatos médicos para quarta e quinta-feira e é a primeira destes profissionais de saúde que enfrenta o ministro Adalberto Campos Fernandes.
O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) reivindicam um conjunto de 30 pontos e queixam-se de que o Governo tem empurrado as negociações ao longo de um ano, sem concretizações, e demonstrando falta de respeito pelos profissionais.
Limitação do trabalho suplementar a 150 horas anuais, em vez das atuais 200, imposição de um limite de 12 horas de trabalho em serviço de urgência e diminuição do número de utentes por médico de família são algumas das reivindicações sindicais.
Os sindicatos também querem a reposição do pagamento de 100% das horas extra, que recebem desde 2012 com um corte de 50%. Exigem a reversão do pagamento dos 50% com retroatividade a janeiro deste ano.
O Ministério da Saúde tem dito que não negoceia sob pressão e considera-se empenhado no diálogo com os sindicatos médicos.
ZAP // Lusa