Ao contrário das cerimónias de Hollywood, onde ser nomeado por uma painel de especialistas é uma honra, o Prémio Nobel da Paz aceita indicações de milhares de candidatos de diferentes áreas.
Segundo a Reuters, após o encerramento do pedido de indicações deste ano, Alexei Navalny, o líder da oposição russa, Greta Thunberg, a ativista das mudanças climáticas, e a Organização Mundial da Saúde estão entre os nomes sugeridos.
Também foram mencionados nomes como o de Stacey Abrams, o ex-líder da Geórgia que ficou conhecido por aumentar a participação eleitoral no ano passado, e Jared Kushner, genro e conselheiro do ex-presidente dos EUA Donald Trump.
Trump também foi indicado ao prémio nos últimos dois anos da sua presidência, sem contar com as duas indicações que foram falsificadas em 2018.
A lista de pessoas que podem indicar candidatos é longa e inclui membros de governos nacionais, funcionários à frente de organizações internacionais para a paz, professores universitários e vencedores de edições anteriores.
O comité do Nobel afirma que o grande número de pessoas ou entidades que podem fazer inscrições garante uma “grande variedade de candidatos”, mas o grupo é sigiloso sobre o processo e não responde a pedidos de esclarecimento dos critérios de elegibilidade dos proponentes.
Revelou apenas que no ano passado haviam 318 inscrições. Ao que se sabe, existem poucos critérios para a nomeação de candidatos e, às vezes, alguns têm aproveitado o processo por razões puramente políticas.
Um dos casos mais famosos foi o de Adolf Hitler. O Führer foi apresentado como “o príncipe da Paz na Terra”. Dizia o seu proponente, Erik Brandt, que Hitler tinha um “ardente amor pela paz”.
Por esta altura já a Alemanha tinha anexado a Áustria e invadido os Sudetos – uma cadeia montanhosa na fronteira alemã com a República Checa e a Polónia. De lembrar que Hitler matou cerca de seis milhões de judeus e milhares de comunistas. Além de ciganos, pessoas com deficiência, entre outros.
Estaline, o líder da União Soviética, foi nomeado duas vezes, em 1945 e 1948.
O ditador italiano, Benito Mussolini, também não ficou de fora. O político, um dos fundadores do fascismo, foi proposto antes de todos os outros: em 1935. Uns meses antes de a Itália invadir a Etiópia. Só nesta invasão, morreram 30 mil pessoas.
De salientar que o Comité Nobel não levou nenhuma destas propostas a sério.
Atualmente, o processo de seleção para determinar o vencedor é muito mais rigoroso. A comissão, nomeada pelo Parlamento norueguês, delibera em segredo a partir de fevereiro. O grupo reduz a lista de indicados para 20 ou 30 candidatos antes de entrar num período de meses de consideração. O vencedor é anunciado em outubro de cada ano.
O comité do Nobel tem vindo a enfatizar que as nomeações não representam o endosso do grupo e “não podem ser usadas para sugerir afiliação ao Prémio Nobel da Paz”. Ainda assim, e segundo o NYT, Donald Trump é um exemplo de como as próprias indicações podem ser usadas para projetar influência.
Em 2019, Trump disse aos seus apoiantes que tinha sido nomeado pelo então primeiro-ministro Shinzo Abe, uma declaração que Abe se recusou a confirmar.
No ano passado, depois de dois políticos europeus revelarem que nomearam Trump, a assessora de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, referiu-se à nomeação como “uma honra merecida, conquistada com dificuldade pelo presidente”.
Na verdade, Trump tinha sido nomeado por dois membros escandinavos do Parlamento de direita. Durante um comício em outubro de 2020, o republicano reclamou que a sua nomeação tinha sido menos comentada nos media do que a de seu antecessor, o ex-presidente Barack Obama que ganhou o prémio em 2009.
O prémio concedido a Obama, apenas nove meses após seu primeiro mandato, foi recebido com espanto e perplexidade, até mesmo pelo vencedor.
“Para ser honesto sinto que não mereço estar ao lado de tantas figuras transformadoras que receberam a honra deste prémio”, assumiu o ex-presidente dos EUA.
Desde 1901 que são atribuídos prémios Nobel, mas nem sempre as escolhas são consensuais.
Shinzo Abe, primeiro-ministro da Etiópia?
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