Há uma hipótese cognitiva que explica o “efeito da outra raça”

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A dificuldade em distinguir pessoas de raças diferentes da nossa não se deve a preconceitos racistas, mas sim a um processo cognitivo chamado “perícia perceptiva”.

Há décadas que é a fonte de muito debate científico. Já vários estudos indicaram que as pessoas têm mais dificuldade em distinguir os rostos de pessoas de raças diferentes da sua, o chamado “efeito da outra raça“. Mas por que é que isto acontece?

Um novo estudo publicado na Scientific Reports propõe uma resposta para este fenómeno. A pesquisa sugere que, em vez de ser fruto de preconceitos racistas, este efeito deve-se antes ao processo cognitivo da “perícia perceptiva“.

O argumento é de que esta dificuldade na distinção nasce do mero desconhecimento e falta de familiarização com pessoas de raças diferentes da nossa. Como prova disto os cientistas apontam para o paradigma do efeito da inversão de rosto, que consiste na demora e nas dificuldades que temos em identificar caras que nos sejam mostradas de cima para baixo.

Estudos anteriores mostram que esta dificuldade é ainda maior quando se olha para alguém da mesma etnia que a nossa em comparação com pessoas de outras raças. Isto explica-se porque já temos mais dificuldades à partida em reconhecer rostos de pessoas de outras etnias, nota o IFLScience.

Os investigadores pediram a 96 voluntários europeus e brancos que participassem num desafio de reconhecimento de rostos que envolvia rostos na posição normal e viradas ao contrário, sendo que metade das imagens eram de europeus brancos e a outra metade era de asiáticos de leste.

Para complicar ainda mais a questão, os cientistas eletrocutaram o córtex pré-frontal dos participantes, o que trouxe mais um obstáculo à sua capacidade de distinção. No entanto, apenas metade dos recrutas recebeu um choque suficiente para afetar a sua perceção, os restantes receberam um choque mais fraco.

Comparando estes dois grupos, os participantes que sofreram o choque mais forte tiveram uma capacidade de reconhecimento dos rostos da sua própria raça bastante reduzida. Os autores explicam que isto aconteceu porque a corrente elétrica eliminou a perícia perceptiva precisa para se reconhecer as caras de pessoas da sua raça no sentido correto, o que também afetou a capacidade de distinção dos rostos invertidos.

Mas a carga elétrica não reduziu a o efeito de inversão de rosto para as caras de outras raças, o que reforça a hipótese de que há menos aprendizagem perceptiva a ser perdida nessas caras.

Trocado por miúdos, isto significa que as nossas capacidades de perceção dos rostos se explicam pela nossa perícia cognitiva e não por preconceitos racistas que aprendemos socialmente.

ZAP //

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