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Hilda nasceu para arrotar menos. É a primeira vaca fertilizada in vitro

SRUC

Chegada de Hilda foi anunciada como um marco histórico para a redução da pegada de carbono da indústria.

Hilda está a ser anunciada como um grande avanço rumo a uma indústria de lacticínios e pecuária mais ecológicas. Mas será que a tecnologia é suficiente para conter o impacto do setor no clima?

O nascimento de uma vaca leiteira na Escócia está a ser celebrado como um momento revolucionário nos esforços para reduzir as emissões agrícolas.

Criada para emitir menos gases, Hilda é a primeira bezerra do rebanho de vacas de Langhill, no sul do país, a nascer por meio de fertilização in vitro.

Os arrotos e o estrume do gado produzem metano, gás com efeito de estufa que aquece o planeta e é até 80 vezes mais potente do que o CO2 num período de 20 anos. A pecuária gera cerca de 30% das emissões globais de metano, sendo dois terços deste volume provenientes do gado usado para a produção de carne ou leite.

A chegada da bezerra escocesa foi saudada por veterinários e cientistas como um momento importante para reduzir a pegada de carbono do setor.

Acelerar o abrandamento do metano

Hilda é o resultado da combinação de três tecnologias, explica Mike Coffey, professor da Scotland’s Rural College, uma universidade com foco na sustentabilidade e parceira do projeto.

A capacidade de prever a produção de metano de uma vaca com base no seu ADN, a extração de óvulos de animais mais jovens e a fertilização destes, com sémen selecionado, são as tecnologias em causa. As três “permitem acelerar a seleção de fêmeas para reduzir a produção de metano — uma bezerra de cada vez“, explica Coffey. Repetir este procedimento durante alguns anos resultaria num rebanho com baixas emissões de metano.

Rob Simmons, do Paragon Veterinary Group, outro parceiro do projeto, afirmou à agência PA Media que o “aperfeiçoamento genético na eficiência do metano” será “fundamental para continuar a fornecer alimentos nutritivos à população, ao mesmo tempo que se controla o impacto das emissões de metano no ambiente no futuro”.

Reduções de até 30% até 2050 na mira

O rebanho de Langhill é o foco do projeto de genética de gado mais antigo do mundo e seleciona as vacas com base em fatores como saúde, fertilidade, produtividade e consumo de ração.

A seleção tradicional baseada nestas características ajudou até agora a reduzir as emissões de metano em cerca de 1% ao ano, segundo Coffey, que garante que esta nova técnica deverá aumentar estas reduções em 50% a cada ano, o que equivaleria a uma redução global de 30% nas emissões nos próximos 20 anos.

Um estudo canadiano publicado no ano passado sugeriu também que os agricultores que selecionassem e criassem vacas para melhorar a emissão de metano poderiam obter reduções de até 30% até 2050.

“Não seria rentável”: a analogia dos carros elétricos

No total, existem 1,5 mil milhões de bovinos no mundo, dos quais cerca de 270 milhões são vacas leiteiras. Em 2022, o setor global de lacticínios valia quase 900 mil milhões de dólares (cerca de 823 mil milhões de euros).

O processo de produção de uma vaca como a Hilda custa atualmente cerca de duas vezes mais do que o valor económico do animal, explica Coffey. “Não seria rentável [para os agricultores] tal como está atualmente. Mas o objetivo deste projeto foi demonstrar que pode funcionar.”

Coffey refere que o próximo passo será encontrar formas de financiar a ampliação do projeto. “[Queremos saber] que alavancas o governo tem para tornar isto economicamente viável para os agricultores, tal como fizeram com os carros elétricos.”

Coffey acredita que a transição para os carros elétricos é uma boa analogia para a velocidade da mudança na redução do metano das vacas.

“Haverá um momento em que deixarão de fabricar carros a gasolina, mas os carros a gasolina existentes continuarão a circular, e isso é semelhante ao que acontece com os rebanhos de vacas.”

No entanto, Coffey sublinha que este projeto faz parte de um esforço científico muito mais abrangente. Para além da seleção genética, outros projetos analisam o impacto de aditivos para rações, como algas marinhas, ou a captura do metano produzido pelo estrume, transformando-o em biogás que pode abastecer veículos ou aquecer habitações.

O rebanho de Langhill também tem sido usado em estudos que exploram como as mudanças na dieta e o uso de fertilizantes afetam as emissões de gases com efeito de estufa provenientes da pecuária leiteira.

“A maior parte dos outros países do mundo está a fazer o mesmo. É como uma corrida internacional para reduzir as emissões de metano dos ruminantes o mais rapidamente possível”, explica Coffey.

São mais de um milhão de tentativas de fertilização in vitro por ano, metade das quais com lugar na América do Norte.

Criação seletiva é suficiente?

As emissões de metano estão a aumentar mais rapidamente, em termos relativos, do que qualquer outro gás com efeito de estufa, segundo um estudo da Universidade de Stanford.

Os setores de carne e lacticínios contribuem com 12 a 20% das emissões globais de gases com efeito de estufa e são responsáveis por 60% das emissões provenientes dos sistemas alimentares, segundo um artigo publicado na revista Nature Food. Isto deve-se, em grande parte, ao dióxido de carbono libertado pela desflorestação de florestas para pastagem e produção de alimentos, bem como ao metano gerado pela pecuária.

De acordo com outro estudo publicado na Nature Climate Change, a redução do consumo de carne e lacticínios poderia diminuir as emissões globais das dietas em 17%.

Apesar da crescente popularidade de alternativas vegetais – como leite de amêndoa e aveia – em algumas partes do mundo, o leite e os lacticínios são consumidos por cerca de 6 mil milhões de pessoas em todo o mundo, e espera-se que a procura aumente de forma constante na próxima década, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que também prevê um aumento de até 14% no consumo global de carne até 2030.

ZAP // DW

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