O presidente executivo da Hertz Portugal afirmou esta quarta-feira que, apesar do inevitável “dano reputacional”, a falência da empresa nos EUA não afeta a sua atividade no país, onde opera de forma “independente” em regime de ‘franchising’ desde 1998.
“Em Portugal o grupo Hipogest é uma entidade independente, privada, do setor automóvel há 45 anos e aquilo que nos liga à Hertz [EUA] é um negócio de ‘franchise’, em que pagamos ‘royalties’ por aquilo que produzimos, estamos integrados em programas de clientes internacionais e temos ligações comerciais e algumas ligações de sistemas, mas nada crítico”, disse Duarte Guedes em entrevista à agência Lusa.
Assim, referiu o responsável, o anúncio feito na semana passada de que, devido ao impacto da pandemia do novo coronavírus, a empresa norte-americana de aluguer de carros Hertz recorreu ao designado capítulo 11 da lei da bancarrota, ao fim de mais de um século de existência, representa sobretudo “um dano reputacional” que, espera, será superado pela “notoriedade internacional” da marca.
“O fundamental é que somos autónomos comercialmente, somos autónomos na compra das viaturas, e como tal, independentemente do que aconteça lá fora, quando entrámos neste período da pandemia tomámos as decisões e adaptámos o nosso negócio aquilo que irão ser tempos de menor negócio”, sustentou.
Segundo o presidente executivo (CEO) da Hertz Portugal, até ao momento o impacto da crise pandémica traduz-se numa quebra homóloga de “cerca de 40%” no volume de negócios da empresa, face aos 63 milhões de euros do ano passado, apontando o cenário base em cima da mesa “para uma quebra de cerca de 50%” no final do ano.
“O impacto foi grande, naturalmente. Temos uma área mais internacional, de turismo, e essa parte foi significativamente afetada. A restante parte doméstica do negócio [aluguer de viaturas para empresas e de veículos de substituição/assistência em viagem para oficinas e companhias de seguros] também foi afetada, porque se os carros não andam na rua há menos acidentes, menos avarias e menos deslocações de empresas, mas é o que nos tem permitido segurar uma parte da atividade”, afirmou.
Com 300 colaboradores e cerca de 35 lojas em Portugal, a maioria das quais próprias e as restantes de agentes, a Hertz manteve todas as lojas próprias em atividade durante os dois meses e meio de estado de emergência e de estado de calamidade e garante ter tomado “todas as medidas necessárias para uma abertura, que vai ser gradual, mas vai acontecer”.
“Já sentimos um reativar [da economia]. Todas as semanas melhora, pouco, mas melhora”, disse Duarte Guedes, explicando que “a componente local foi mais rápida a voltar” e o segmento de oficinas e concessionários está já “em níveis de cerca de 60 a 70% do pré-Covid”, começando agora a surgir os anúncios de retoma das companhias aéreas, que dinamizarão o segmento turístico.
Convencido de que “as pessoas estão a ter confiança de voltar a uma vida mais normal”, o empresário acredita que o regresso à normalidade “vai ser gradual, mas se calhar mais rápido do que o esperado há um mês ou dois, em que a perspetiva era mais negra”.
No caso da Hertz Portugal, o CEO destaca como trunfo o facto de ter um modelo de negócio “flexível e maleável”: “O nosso principal custo é a frota, mas, ao contrário do que se passava nos EUA, nós aqui sempre comprámos cerca de 70 a 75% da nossa frota em regime de ‘buy back’ com as marcas, ou seja, é como se alugássemos os carros às marcas para depois podermos nós alugá-los, sabendo exatamente a que preços e em que período é que estes carros voltam a sair da nossa operação”.
Tendo a crise pandémica em Portugal rebentado no período que antecedeu a Páscoa, numa altura em que a empresa estava a preparar a frota para esse período, mas ainda não o tinha feito para o período forte do verão, Duarte Guedes diz ter sido possível “eliminar uma parte importante dos carros que iam entrar” no portfólio da Hertz para a época alta.
“Como resultado — acrescentou – lá para outubro teremos a nossa frota perfeitamente alinhada com o nosso cenário, o que é bom porque nos conseguimos adaptar com alguma rapidez”.
A empresa norte-americana de aluguer de carros Hertz anunciou no passado sábado que a pandemia do novo coronavírus a levou a recorrer ao designado capítulo 11 da lei da bancarrota, ao fim de mais de um século de existência.
Segundo informou na altura em comunicado, este procedimento diz respeito apenas às suas operações nos EUA e no Canadá, poupando as suas principais regiões operacionais, principalmente a Europa, a Austrália e a Nova Zelândia.
“O impacto da Covid-19 na procura de viagens foi repentino e dramático, resultando numa queda acentuada nas receitas da empresa e reservas futuras”, apontou o grupo.
A Hertz diz que tomou uma “ação imediata” que prioriza a saúde e a segurança dos funcionários e dos seus clientes.
// Lusa