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Numa ilha remota, os habitantes protegem os ovos de ave que antes comiam

(dr) Guia Baggi

Cria de cagarra-do-atlântico.

Na ilha de Linosa, em Itália, os habitantes protegem agora os ovos da carraga-do-atlântico, que antes comiam por tradição.

A pequena ilha de Linosa é uma das ilhas Pelágias, a sul da Itália continental. De origem vulcânica, com escassa vegetação, a vila é muito pitoresca, com as casas pintadas com cores vivas.

Antigamente, os habitantes locais recolhiam ovos de aves marinhas usando uma ferramenta caseira chamada corco: um pau com a ponta de uma colher, dobrada em 90 graus, numa das extremidades. Era esta engenhoca que levantava suavemente a ave do seu ninho para depois tirar o ovo.

Agora o corco tem um propósito diferente: é usado para estudar o tamanho e a saúde das populações de aves marinhas da ilha, conta o Atlas Obscura.

A ilha é destas aves. Elas excedem exponencialmente o número de habitantes. Enquanto há cerca de 400 pessoas em Linosa, há por outro lado dezenas de milhares de aves marinhas. A pequena ilha de 5,4 quilómetros quadrados tem a segunda maior colónia de cagarras-do-atlântico (Calonectris diomedea) do mundo.

A população de cagarras-do-atlântico tem vindo a decair, mas devido ao seu elevado número de espécimes, ainda assim, as pessoas desvalorizam.

Em meados do século XIX, quando os humanos se estabeleceram pela primeira vez em Linosa, recolher ovos para comer era uma necessidade. À medida que os tempos evoluíram, esta prática tornou-se cada vez mais uma tradição e menos uma necessidade.

Em meados do século XX, as famílias costumavam encher cestos grandes com os ovos durante o mês de maio. Nos últimos 15 anos ou mais, a caça anual aos ovos tornou-se uma memória.

“Gostávamos de levar apenas quatro [ovos] para a nossa família”, disse D’Emanuele, habitante local de Linosa, ao Atlas Obscura. “O meu avô era antiquado. Ele gostava de comer aquele ovo uma vez por ano”.

Desde 2007, ornitólogos têm chegado à ilha, tendo já catalogado e monitorizado 600 ninhos de cagarras-do-atlântico.

Depois de um primeiro contacto com uma cria de cagarra-do-atlântico, D’Emanuele tornou-se apaixonado pela proteção da espécie. Como tal, decidiu estudar Ciências Naturais na Universidade de Palermo, na Sicília. Mas, como dizem em Linosa: u’ scogliu chiama (a rocha chama por ti). E assim foi — D’Emanuele voltou à pequena ilha.

D’Emanuele encorajou outros jovens em Linosa a envolverem-se na conservação das aves. Ele até criou um grupo de WhatsApp para alertá-los sobre pássaros com potenciais problemas e para monitorizar os avistamentos de filhotes de cagarra a tentarem os seus primeiros voos no final do verão.

Daniel Costa, ZAP //

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