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Walkie-talkies sem licença e corrupção. Há novas acusações contra Aung San Suu Kyi

Comune Parma / Wikimedia

Aung San Suu Kyi.

A junta militar que tomou o poder em Myanmar acusou esta quinta-feira a líder afastada, Aung San Suu Kyi, de corrupção, referindo que recebeu o equivalente a 500 mil euros e mais de 11 quilos de ouro em subornos.

Numa rara conferência de imprensa realizada em Naypyidaw, a capital administrativa de Myanmar (antiga Birmânia), um porta-voz da junta militar afirmou que o ex-ministro responsável pela região de Rangum, Phyo Min Thein, agora na prisão, admitiu ter dado ao ex-chefe do governo civil dinheiro e ouro sem especificar o que recebeu em troca.

“Soubemos que a própria Aung San Suu Kyi ficou com esses 600 mil dólares [cerca de 500 mil euros] e 11,2 quilos de ouro. A comissão anticorrupção lançou uma investigação”, disse o porta-voz Zaw Min Tun.

Desde a sua detenção, Suu Kyi, de 75 anos, foi mantida incomunicável e foi acusada de vários crimes, incluindo causar alarme, posse de walkie-talkies sem licença e a violação das restrições devido à pandemia, ao realizar um comício durante a campanha eleitoral.

As acusações podem resultar em vários anos de prisão para Suu Kyi, ex-conselheira de Estado e antiga ministra dos Negócios Estrangeiros de Myanmar.

“Já não é invulgar ver calúnias contra políticos e tentativas de aniquilar o partido enquanto jovens inocentes são mortos em público”, disse à Reuters Aye Ma Ma Myo, representante da Liga Nacional para a Democracia, citada pelo Diário de Notícias.

A resposta brutal das forças de segurança contra os manifestantes que têm protestado contra o golpe militar de 1 de fevereiro provocou esta quinta-feira pelo menos 10 mortos, no dia em que o Conselho de Segurança da ONU pediu o fim da violência no país e a libertação de Suu Kyi.

Mais de 70 pessoas já morreram na sequência da repressão das manifestações pacíficas contra o golpe militar e pelo menos 1689, incluindo políticos, estudantes e monges, foram detidos.

Apesar de a comunidade internacional ter condenado por unanimidade a violência e as detenções políticas, a junta militar liderada por Min Aung Hlaing continua a liderar pela repressão em Myanmar, que governou com mão de ferro entre 1962 e 2011.

Os militares justificam o golpe com uma alegada fraude nas eleições de novembro passado, que deram a vitória ao partido de Suu Kyi, apesar de a votação ter sido considerada legítima pelos observadores internacionais.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou por unanimidade uma declaração a condenar as ações da junta militar, apelando à “libertação imediata de todas as pessoas detidas arbitrariamente”.

Os Estados Unidos já avançaram com sanções aos líderes da junta militar, congelando mil milhões de dólares de fundos governamentais depositados nos EUA.

O relator especial das Nações Unidas Thomas Andrews conclui que o país está a ser “controlado por um regime assassino e ilegal”. O perito norte-americano disse haver “provas crescentes de que os militares estão agora provavelmente envolvidos em crimes contra a humanidade, incluindo atos de homicídio, desaparecimento forçado, perseguição, tortura”.

Também a Amnistia Internacional denunciou as “execuções extrajudiciais” e o uso de armas de guerra.

ZAP // Lusa

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