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Há uma guerra pelos restos mortais de Eça de Queiroz (e nem a família se entende)

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A trasladação dos restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional está envolta em polémica. Tudo porque alguns familiares ainda vivos do escritor são contra, defendendo que se devem manter em Baião, no distrito do Porto.

Todos os actos relacionados com a trasladação dos restos mortais do escritor para o Panteão Nacional estão suspensos por decisão do Supremo Tribunal Administrativo (STA) que aceitou uma providência cautelar que pretende evitar o processo.

A trasladação estava prevista para a próxima quarta-feira, mas pode não acontecer – aguarda-se ainda a decisão do STA quanto a isso.

Trineto defende Panteão, bisneto está contra

A Fundação Eça de Queiroz é a principal promotora da trasladação para o Panteão Nacional que recebeu o aval positivo da Assembleia da República, com o apoio do grupo parlamentar do PS. A Fundação é dirigida pelo trineto de Eça, o também escritor Afonso Reis Cabral.

Contudo, parte da família de Eça está contra, como é o caso do bisneto António Eça de Queiroz que defende que a ida para o Panteão não seria uma honra para Eça.

“Quem ficará orgulhoso do troféu serão os políticos”, atira em declarações à SIC, sublinhando que “o Eça disse mal do Estado e dos políticos portugueses”. “Considerar que ir para o Panteão é uma honra é inverter as polaridades”, constata.

Por outro lado, Afonso Reis Cabral reforça que não há “nada que indique uma vontade pessoal”, “não há nenhum testamento”, a confirmar que Eça de Queiroz quisesse ficar em Baião, como destaca também à SIC.

Eça esteve 90 anos em Lisboa e apenas por uma contingência passou muito dignamente para Santa Cruz do Douro, em Baião, onde está”, salienta o trineto do escritor.

Manifestação contra a trasladação de Eça

Outra bisneta de Eça, Maria da Graça, que foi a anterior presidente da Fundação com o nome do escritor, será contra a trasladação, como já revelou o ex-presidente da Câmara de Santa Cruz do Douro, onde se encontram os restos mortais do autor de “Os Maias”. António Fonseca destaca como ela batalhou para “conseguir trazer Eça [de Lisboa] para Santa Cruz“.

Este autarca faz parte do movimento de cidadãos que se constituiu para se opor à trasladação para o Panteão. Para este domingo, está convocada uma manifestação junto ao acesso à sede da Fundação Eça de Queiroz.

A trasladação dos restos mortais do escritor para o Panteão Nacional foi aprovada por unanimidade no Parlamento, em 2021.

“A Lei permite que a Assembleia da República faça uma resolução fundamentada evocando graves prejuízos para o interesse publico“, caso a trasladação não se concretize, como sublinha o especialista em Direito Administrativo Paulo Veiga Moura em declarações à SIC.

Contudo, o especialista assume que não sabe se “há fundamento, ou não, para isso”. “Mas se a AR fizer essa resolução fundamentada, então a trasladação será no dia 27 [de setembro]”, conclui. Aguarda-se, agora, a decisão do STA.

Susana Valente, ZAP //

5 Comments

  1. Infelizmente o Panteão é de facto um lugar de má reputação. Em vez de servir para honrar os nossos melhores, serve para despejar muito do lixo que vamos produzindo. Desde regicidas até antigos salazaristas ressabiados. Num Panteão a sério, Eça de Queiroz teria o seu lugar, mas não nesta espécie de aterro sanitário.

  2. Qualquer dia a Assembleia determina onde eu, tu e cada um de nós vamos viver. Não estaremos a caminho de um comunismo? Pobre e pelintra país. Com tristeza o digo.

  3. O Ministro da AI é de Baião e concorda com este desvario? Estará de acordo que Santa Cruz do Douro (Baião) deixe de ter localmente o seu maior e eterno símbolo?

  4. Desde que lá colocam tipos só porque deram Xutos na bola ou tipas porque cantavam fado acho bem que as verdadeiras figuras da cultura portuguesa não sejam achincalhadas para lá!

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