“Guerra de informação”. Fuga de videochamada sobre a guerra na Ucrânia humilha Berlim

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Olaf Kosinsky/Wikimedia Commons

O ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius

Intenção russa ao intercetar e divulgar videoconferência entre altos oficiais sobre a guerra na Ucrânia seria minar a unidade política alemã, afirma o ministro da Defesa. Conteúdo da conversa é, de facto, embaraçoso para Berlim.

Na primeira reação oficial à fuga, por uma emissora estatal russa, de informações sensíveis relativas à segurança da Alemanha, o ministro da Defesa Boris Pistorius acusou este domingo Moscovo de estar a travar uma “guerra de informação”.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, estaria a tentar “desestabilizar” a Alemanha, afirmou Pistorius à imprensa. “O objetivo é claramente minar a nossa unidade […], semear a divisão política em casa. Espero sinceramente que Putin não tenha sucesso e que permaneçamos unidos.”

O incidente “é muito mais do que a simples interceção e divulgação de uma conversa, é parte de uma guerra de informação que Putin está a travar”.

Na sexta-feira, Margarita Simonyan, diretora da emissora estatal russa RT, divulgou na plataforma Telegram um áudio de 38 minutos em que quatro altos oficiais alemães, incluindo o chefe da Aeronáutica, tenente-general Ingo Gerhartz, debatiam a possibilidade de fornecer mísseis de longo alcance Taurus para a Ucrânia e sobre o  que seria necessário para permitir que as forças locais os utilizassem, bem como o seu possível impacto.

O embaixador alemão em Moscovo foi convocado esta segunda-feira para se apresentar no ministério dos Negócios Estrangeiros russo, após a conversa ter sido divulgada.

Embaraço para Berlim

No áudio divulgado, os oficiais consideram se os mísseis Taurus, de fabrico alemão, seriam capazes de destruir uma ponte — aparente alusão à nova ligação entre a península da Crimeia, sob ocupação russa, e o território do país invasor, através do Estreito de Kerch.

Na chamada, debate-se ainda como se poderia fornecer aos ucranianos informações sobre alvos estratégicos sem envolver Berlim diretamente no conflito com a Rússia.

O conteúdo da conversa confidencial é altamente embaraçoso para a Alemanha, que oficialmente se recusa a fornecer os mísseis a Kiev, temendo maior envolvimento na guerra na Ucrânia.

Os oficiais também revelam pormenores sobre como o Reino Unido e a França estão a ajudar o Exército ucraniano a utilizar os mísseis de cruzeiro Storm Shadow e Scalp-EG, que ambos os países forneceram a Kiev para combater o invasor.

No sábado, o Ministério da Defesa alemão confirmou a autenticidade do material. Ao que tudo indica, a gravação foi feita durante uma videoconferência, a qual, segundo a revista alemã Der Spiegel, não teria sido realizada através de uma linha segura, mas pela plataforma Webex.

Em visita a Roma, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, descreveu a questão como “muito séria”, prometendo que “agora será investigada de forma muito cuidadosa, intensa e rápida”.

Por sua vez, a porta-voz do Ministério do Exterior russo, Maria Zakharova, exigiu de Berlim uma explicação “imediata”, alegando que o áudio seria prova de uma “guerra híbrida” do Ocidente contra a Rússia.

Incidente isolado ou falha estrutural de segurança?

Até agora, as autoridades alemãs têm evitado o termo “espionagem“. A comissária especial do Bundestag (Parlamento) para assuntos militares, Eva Högl, apelou para a necessidade de os altos oficiais militares passarem por treino intensivo sobre comunicações seguras.

O presidente do grémio de controlo do Bundestag, Konstantin von Notz, disse ser preciso determinar “se este é um incidente isolado ou um problema estrutural de segurança”. O vice-presidente do comité, Roderich Kiesewetter, disse crer que a Rússia divulgou a interação para pressionar Berlim a não fornecer os Taurus à Ucrânia. E antecipou: “Outras conversas terão certamente sido intercetadas e talvez sejam reveladas mais tarde, para beneficiar a Rússia.”

Até o momento, Scholz tem-se recusado a disponibilizar os mísseis de cruzeiro para a defesa contra os russos. Há uns dias atrás, argumentou que o alcance das armas e a provável necessidade de assistência por soldados da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) eram problemáticos, podendo ser interpretados como uma participação indireta na guerra.

ZAP // DW

3 Comments

  1. Quer dizer, os Alemães fazem merda da grossa e ainda acham que têm razão?
    Como é que alguém com 2 neurónios consegue aceitar todos estes actos criminosos (sim que é disso que estamos a falar), se condenamos a Rússia quando achamos que deve ser condenada também temos de condenar estes “puros” que tentam vender aos incautos que são anjos e os outros é que são os maus Diabos, nesta guerra como em todas não existem bonzinhos e mauzinhos, por estas conversas e por muitas outras em que somos apanhados em fazer merda é que devemos condenar todos os que continuam a patrocinar esta e outras guerras, em bom rigor são todos criminosos.

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