A Groundforce apelou este domingo para que seja alcançado “um acordo que viabilize o pagamento do que é devido aos trabalhadores” da empresa, cuja greve provocou o cancelamento de 650 dos 1.049 voos previstos. A Confederação do Turismo de Portugal considera urgente que se chegue a acordo ou que se avance para a requisição civil.
A Confederação do Turismo de Portugal defendeu, este domingo, que é completamente inaceitável a situação que se tem vivido nos aeroportos nacionais por causa da greve na Groundforce, que provocou o cancelamento de mais de metade dos voos previstos para o fim-de-semana e constrangimentos na entrega da bagagem dos passageiros, que pode demorar mais de três dias a chegar ao destino.
Assim, o presidente da Confederação do Turismo de Portugal, Francisco Calheiros, defende que é urgente que trabalhadores e administração da empresa que trata das bagagens cheguem a acordo. Caso contrário, o Governo deve avançar para a requisição civil, escreve a TSF.
Mas também a Groundforce “considera fundamental que se chegue rapidamente a um acordo que viabilize o pagamento do que é devido aos trabalhadores”, escreveu a empresa, em comunicado.
Desta forma, a empresa de ‘handling’ pede “à TAP [Transportadora Aérea Portuguesa] e aos sindicatos que retomem o diálogo nos próximos dias, evitando que a situação vivida este fim de semana nos aeroportos nacionais se repita no final do mês“.
No entanto, André Teives, presidente do Sindicato dos Técnicos de Handling de Aeroportos disse ontem não ter recebido qualquer contacto, no sentido de encontrar uma solução para a instabilidade salarial, escreve o Jornal de Notícias.
Em relação à greve que decorreu durante o fim de semana, “até às 18h30 de domingo, a operação da Groundforce em Lisboa voltou a ser a mais afetada”, uma vez que “81,2% dos trabalhadores da empresa aderiram à paralisação, o que inviabilizou a realização de 309 voos”.
Já no aeroporto do Porto, “a adesão foi de 48,7% e conduziu ao cancelamento de 44 voos”, enquanto em Faro “foi de 9,3% e comprometeu oito movimentos aéreos”.
No arquipélago da Madeira, “foram cancelados 12 voos” no Funchal, “em resultado da adesão de 25,7% dos trabalhadores”, e no Porto Santo “não se realizaram 10 dos 28 voos previstos”.
“No total do fim de semana, entre partidas e chegadas, dos 1.049 voos previstos realizaram-se apenas 399, tendo os restantes 650 sido cancelados“, contabilizou a Groundforce.
De acordo com a ANA – Aeroportos de Portugal, o segundo dia da greve dos trabalhadores da empresa de ‘handling’ levou ao cancelamento de 321 (166 chegadas e 155 partidas) dos 515 voos previstos para este domingo no aeroporto de Lisboa, com a previsão de serem operados um total de 194 (95 chegadas e 99 partidas).
As companhias aéreas que utilizam o terminal 2 do aeroporto da capital portuguesa – as low cost – e as que operam com outra empresa de assistência em escala, que não a Groundforce, mantêm a sua operação regularizada, assegurou a empresa aeroportuária.
Segundo a ANA, no aeroporto do Porto foram cancelados este domingo 37 voos, no aeroporto de Faro foram canceladas sete ligações aéreas e, na Madeira e no Porto Santo, a greve levou ao cancelamento de seis voos em cada um dos aeroportos.
Este domingo cumpriu-se o segundo dia da greve convocada pelo Sindicato dos Técnicos de Handling de Aeroportos (STHA), como protesto pela “situação de instabilidade insustentável, no que concerne ao pagamento pontual dos salários e outras componentes pecuniárias” que os trabalhadores da Groundforce enfrentam desde fevereiro de 2021.
Recurso à requisição civil em cima da mesa
A paralisação vai prolongar-se ainda pelos dias 31 de julho, 1 e 2 de agosto, pelo que o presidente da Confederação do Turismo de Portugal, defende, por um lado, o recurso “à requisição civil” e, por outro, que os trabalhadores e a administração da empresa cheguem a um acordo.
“A Groundforce diz que a TAP deve dinheiro à empresa e a TAP diz que esses montantes não são devidos. Estamos num impasse e é urgente – para ontem – que o Governo intervenha”, refere Francisco Calheiros.
“Não podemos, de maneira nenhuma, vir a ter mais mil voos cancelados em 31 de julho e 1 e 2 de agosto. O direito à greve está constitucionalmente previsto, mas isso não pode prejudicar milhares e milhares de pessoas e prejudicar, como está a prejudicar, a imagem do país. Sou apologista de qualquer medida que evite que se venha a repetir algo que já vai dar uma imagem muito negativa de Portugal. Se necessário for uma requisição civil, que seja feita”, sustentou, em declarações à TSF.
“Alguém já teve o trabalho de calcular os custos de tantos voos cancelados? Os custos em testes que se fizeram? As indemnizações que se vão ter de dar? Se pusermos 150 pessoas em cada voo, as 10 mil pessoas que deixaram de viajar, de vir para cá e de consumir em Portugal? E, sobretudo, qual é a imagem que estamos a transmitir do nosso país?”, questionou ainda.
Além desta greve, desde o dia 15 de julho que os trabalhadores da Groundforce estão também a cumprir uma greve às horas extraordinárias, que se prolonga até às 24h00 do dia 31 de outubro de 2021.
A Groundforce é detida em 50,1% pela Pasogal e em 49,9% pelo grupo TAP, que, em 2020, passou a ser detido em 72,5% pelo Estado português.
A TAP garantiu no sábado que não tem quaisquer pagamentos em atraso à Groundforce, depois de a empresa de ‘handling’ ter acusado a companhia aérea de ter uma dívida de 12 milhões de euros por serviços já prestados.
Sofia Teixeira Santos, ZAP // Lusa
Há algo nesta greve que parece um boicote a que a própria TAP possa sobreviver. Não foi para isto que se lutou pelo direito à greve. Uma greve que pode beneficiar uns trabalhadores e prejudicar outros (para além do próprio país) será justa? Não sei….Tenho dúvidas, mas é natural porque sou Livre