O chef Ljubomir Stanisic, um dos rostos do movimento “A Pão e Água” e que estava há seis dias a fazer greve de fome em frente ao parlamento, foi na quarta-feira transportado para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
A informação foi confirmada à agência Lusa por José Gouveia, um dos manifestantes que também está a fazer greve de fome, que disse que Ljubomir tinha sido transportado para uma unidade hospitalar ao início da noite.
O manifestante disse que em causa estavam “os níveis de açúcar no sangue”, não só de Ljubomir, mas também das restantes pessoas que estão a participar neste protesto.
Questionada pela Lusa, fonte do INEM confirmou a equipa acionada “de forma preventiva” para “avaliar a eventual necessidade de cuidados psicológicos manifestantes” detetou “um manifestante com sinais e sintomas que mereciam avaliação médica urgente“.
Foram “mobilizadas uma ambulância e uma Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) para avaliação, assistência e transporte a unidade hospitalar”, prosseguiu a mesma fonte, acrescentado que o manifestante foi transportado para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Contudo, a fonte não confirmou a identidade da pessoa transportada.
O grupo é composto por oito homens e uma mulher e está a fazer greve de fome há seis dias. O grupo está acampado, numas instalações improvisadas com tendas e aquecedores, em greve de fome até que o Governo os receba para encontrarem soluções para os seus negócios, que dizem estar a ir à ruína.
Horas depois, Ljubomir Stanisic saiu do hospital e regressou para junto dos manifestantes, segundo a TSF. José Gouveia, cujos níveis de glicemia estavam nos 20, “um nível de ante coma“, revelou que os empresários estão a ser acompanhados pelo INEM, perante o risco de entrarem em hipoglicemia.
Além disso, segundo José Gouveia, nas últimas horas, os membros do protesto “têm estado sentados”, com uma alimentação à base de “água e chá”, e os níveis de açúcar “caíram em flecha”.
Em declarações ao Observador, José Gouveia disse que “as pessoas acham que isto é um ato de coragem, mas para nós não foi. Isto é um ato de estupidez”. O representante das discotecas referiu que “foi um impulso, por nos sentirmos ignorados”. Porém, agora, percebem que “o Governo não nos ignora a nós, ignora um país” inteiro.
José Gouveia afirmou que continua a não haver abertura do Governo para receber o movimento e que “a missão” continua, apesar de admitir que já é uma “missão kamikaze”.
“É falso” que Governo se recuse a receber manifestantes
O Governo assegurou que “é falso” que se tenha recusado a receber os manifestantes em greve de fome do movimento “A Pão e Água”, ao contrário das afirmações de alguns dos seus membros na comunicação social.
O gabinete de Pedro Siza Vieira, ministro de Estado, da Economia e Transição Digital lembra que, em 18 de novembro, o secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor (SECSDC) e a secretária de Estado do Turismo reuniram com a Associação Nacional de Discotecas, “representada por José Gouveia e Alberto Cabral”, duas das pessoas “que se encontram em protesto em frente à Assembleia da República”.
“Já antes, em 4 de junho, o SECSDC tinha reunido com esses dois representantes do setor das discotecas, no quadro de uma reunião promovida pela AHRESP com empresas de animação noturna. Acresce que em 1 de dezembro [terça-feira], em e-mail dirigido ao senhor José Gouveia, foi reiterada a disponibilidade do SECSDC para voltar a reunir já na quinta-feira”, acrescenta uma nota enviada à agência Lusa.
Além disso, o gabinete de Pedro Siza Vieira refuta que os setores da restauração e da animação noturna “não tenham quaisquer apoios a fundo perdido”. “Já foram disponibilizados 1.103 milhões de euros em apoios às empresas de restauração, dos quais 523 milhões de euros a fundo perdido. Só no âmbito do programa Apoiar.pt estão disponíveis 200 milhões de euros a fundo perdido para este setor”, reitera o Governo.
A estes fundos acresce uma “medida específica” dirigida em exclusivo aos restaurantes, de “compensação das perdas de faturação”, ocorridas nos fins de semana com limitações aos horários de funcionamento, no “valor total de 25 milhões de euros”.
Quanto às discotecas, que ainda não puderam reabrir desde março, o gabinete ministerial explica que “beneficiam de uma isenção total de TSU no quadro do regime de lay-off simplificado” e que têm uma “majoração de 50%” no acesso aos apoios a fundo perdido do Apoiar.pt, além de “beneficiarem de uma moratória” mo pagamento de rendas até ao final do ano.
“O Governo expressa a sua preocupação pela prossecução da greve de fome e prosseguirá o diálogo com os representantes dos vários setores mais atingidos pelas imprescindíveis medidas de proteção da saúde pública, tendo em vista mitigar o impacto muito negativo dessas medidas”, conclui o gabinete do ministro Pedro Siza Vieira.
O Governo anunciou, na semana passada, as medidas de contenção da pandemia da covid-19 para o novo período de estado de emergência: nas vésperas dos feriados, o comércio encerra a partir das 15h em 127 concelhos do continente classificados como de risco “extremamente elevado” e “muito elevado” e mantêm-se os horários de encerramento do comércio às 22h e dos restaurantes e equipamentos culturais às 22h30 nestes concelhos e em mais outros 86 considerados de “risco elevado”.
ZAP // Lusa