Em Bruxelas, mais de 470 pessoas deram por terminada uma greve de fome que durou dois meses. O governo belga disse que não pode ceder a chantagens e saudou a boa decisão.
Nos últimos dois meses mais de 470 pessoas iniciaram uma greve de fome, em Bruxelas, na Bélgica.
Esta quarta-feira, o governo belga emitiu um comunicado a saudar o fim dos 60 dias de greve de fome, considerando tratar-se da única boa decisão. O primeiro-ministro, Alexander de Croo, disse que “um governo não pode ceder a chantagens”.
Também o secretário de estado Sammy Mahdi afirmou, em declarações à imprensa belga, que não há qualquer “promessa, seja ela qual for” da parte do governo.
“O procedimento mantém-se como estava. Mas fez-se com que todos fiquem de boa saúde”, disse.
A recusa das autoridades em resolver a situação das pessoas radicadas na Bélgica há décadas, fragilizou a coligação, com socialistas e ecologistas a ameaçarem retirar apoio ao governo, escreve a TSF.
“O gesto que fizemos foi a neutralidade que criamos, tentando acompanhar e informar as pessoas. Não posso dizer mais do que isso. Mas, de qualquer forma, o que é importante agora é a saúde das pessoas. É isso que me preocupa”, afirmou Mahdi, que assume a pasta da migração e asilo.
Já relativamente ao discurso do Rei Filipe, que parecia ter passado ao lado do assunto, analistas políticos dizem que há um passagem em que terá abordado o tema da greve de fome.
“Para construirmos o nosso futuro, temos a nossa sabedoria e criatividade. Temos também os valores humanos da solidariedade, de generosidade, de empatia e de coragem. Toda a qualidade que erguemos nos últimos meses, nos últimos dias, nas últimas horas. Tenho confiança na capacidade que temos de nos restabelecermos”, afirmou o monarca na sua alocução ao Dia Nacional, que se celebrou esta quarta-feira.
A greve de fome levada a cabo por quase meio milhar de pessoas aconteceu na sequência de um processo iniciado nos últimos dois anos, que visava legalizar os indivíduos que trabalham há vários anos na Bélgica, mas uma manobra legal deixou-os “sem papéis”.
“O problema é que a antiga regularização não estava ligada ao trabalho, mas ligada ao empregador. O que quer dizer que se tem de permanecer com o patrão durante cinco anos”, afirma Ahmed, um trabalhador da construção que está há 17 anos na Bélgica.
“Ele explora-te, porque se perderes o teu patrão, perdes os teus papéis. Não tens o direito de ir procurar outro emprego. Se perdes o patrão perdes o emprego”, explica. “O que queremos é o direito a um trabalho, sem estarmos sujeitos a uma exploração”.