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Grande navio do final do século XVII encontrado durante obras na Av. 24 de julho, em Lisboa

Vestígios de um grande navio do final do século XVII, “muito bem preservados”, foram descobertos na zona ribeirinha de Lisboa, por uma equipa de arqueólogos, em contexto de obras, confirmou à Lusa a Direção-Geral do Património Cultural.

De acordo com este organismo, “os vestígios arqueológicos, identificados numa obra na Avenida 24 de Julho, em Lisboa, correspondem a uma embarcação com cerca de 27 metros de comprimento, datada dos finais do século XVII/inícios do XVIII, preparada para a navegação atlântica, e que se encontra muito bem preservada”.

“Comparativamente a outras embarcações encontradas na [zona] envolvente, sob o edifício da sede corporativa da EDP, esta [embarcação] destaca-se pela dimensão dos elementos preservados, como o comprimento máximo entre as partes do casco mais salientes à proa e à popa”, acrescenta a resposta da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), enviada à agência Lusa, na sequência da verificação de investigações arqueológicas, naquela artéria lisboeta.

A embarcação, encontrada por uma equipa da ERA Arqueologia, conserva vários elementos, entre os quais a quilha, o arranque da proa a sobrequilha, que inclui a carlinga, escoas e tábuas dos forros interior e exterior. Um relatório técnico, ao qual a Lusa teve acesso, confirma que o estado de conservação “é particularmente bom”, não havendo casos em melhor condição no território nacional.

O documento salienta ainda que “o potencial científico [do achado] é muito elevado”, dada a pouca documentação técnica existente sobre a construção naval na segunda metade do século XVII, em Portugal.

As escavações arqueológicas desenvolvem-se na zona entre a rua D. Luís I, o boqueirão dos Ferreiros e a avenida 24 de julho, onde se irão construir novos edifícios destinados a um hotel e a apartamentos.

“A preservação do achado foi proporcionada pela abertura e esbatimento da boca durante o enterramento, que conservou a embarcação até ao tosado (distância vertical desde o convés da amurada até uma linha de referência, tangente à linha do tosado, a meio navio, e paralela à quilha) da subcoberta de porão”, assinala a DGPC.

Navio de “navegação atlântica”

O relatório técnico considera o achado arqueológico “de elevada importância científica e patrimonial”, apontando para a “urgente continuidade da intervenção”, de modo a garantir “a integridade do contexto”. À semelhança da resposta da DGPC, enviada à agência Lusa, o documento assinala o “assaz bom estado de conservação”, de um contexto arqueológico considerado “importante” A embarcação, de “médio porte”, lê-se no documento, destinava-se à navegação atlântica, e terá sido descoberta em finais do ano passado.

No documento é assinalada “a fragilidade deste excecional achado”, que tem motivado uma “atenção muito especial” devido ao seu estado de conservação, e sublinhado, como objetivo, o “subsequente estudo integral do conjunto e respetiva preservação”.

Segundo a DGPC, “a equipa responsável pelos trabalhos arqueológicos concluiu que este achado é de excecional valor científico, patrimonial e de estado de conservação, tendo apresentado um programa de trabalhos arqueológicos com o objetivo de assegurar a plena salvaguarda pelo registo científico do património em causa”.

“Tal programa inclui escavação integral, incluindo o desmonte da embarcação, bem como o seu registo sistemático e a implementação de medidas de conservação”.

Foi estabelecida ainda “a articulação entre a DGPC, o dono de obra, os diretores científicos do projeto, a entidade enquadrante [responsável pela logística, organização e segurança dos trabalhos arqueológicos], a entidade contratante [que por imposição legal promove a realização de trabalhos arqueológicos], com vista à definição das condições relativas ao local de depósito do espólio arqueológico recolhido”, assegura ainda a DGPC, na resposta enviada à agência Lusa.

No relatório técnico é também referido que a direção científica do projeto proporá à tutela do património, em sede de relatório final dos trabalhos arqueológicos, o destino do espólio a recolher.

As obras de construção, que preveem um terceiro nível de caves, a uma cota de 07,40 metros abaixo do solo, permitiram ainda à equipa de arqueólogos encontrar outros objetos de contextos mais antigos, preservados no terreno, nomeadamente vestígios que remontam ao período romano.

// Lusa

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