Governo “estaria a fazer coisas com mais calma” sem Bloco e PCP

José Coelho / Lusa

Clube dos Pensadores recebe Rui Rio

Clube dos Pensadores recebe Rui Rio

O ex-presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, afirmou que o BE e o PCP não mandam no Governo porque o Governo é do PS, mas são “absolutamente decisivos” no passar da linha vermelha.

Segundo Rui Rio, o governo passou a linha vermelha não porque o PS quisesse, mas porque foi obrigado a passa-la por força do BE e PCP.

“É evidente que o BE e o PCP são elementos decisivos no passar da linha vermelha, se o PS não precisasse dos votos parlamentares do BE e PCP não estaria a fazer as coisas da forma acelerada como está a fazer, estaria a fazer as coisas de forma mais calma”, disse o social-democrata, no Clube dos Pensadores, em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto.

O antigo presidente de câmara considerou que o caminho que a economia está a tomar, sem ser um caminho dramático, não é o caminho adequado, frisando que o rumo deveria ser o reforço das exportações e do investimento e, atualmente, não é o que está a acontecer.

“Eu acho que o caminho que é seguido, por exemplo, no alívio da austeridade é o caminho correto, a velocidade a que está a ser feito é que não é correta e está a pôr em causa o atingir de determinados objetivos fundamentais do ponto de vista macroeconómico”, disse.

Questionado sobre o estado da Nação, Rui Rio salientou que no patamar político e, ao contrário do que seria de prever, “até existe alguma estabilidade“.

“Existe uma maioria que se formou, podemos gostar ou não gostar, e o Governo pode cair, mas não se prevê que caía no imediato”, disse Rui Rio.

Do ponto de vista estrutural, o ex-autarca do Porto vincou que Portugal tem uma democracia “muito, muito, muito enfraquecida”.

“Cada vez mais poderes não democraticamente eleitos tem mais poder do que aqueles que são democraticamente eleitos”, sustentou.

Portugal é um país “inadmissivelmente concentrado”

No 107º debate do Clube dos Pensadores, que recebeu Rui Rio pela terceira vez, o ex-autarca do Porto falou na necessidade de “reformar o regime democrático” porque está “naturalmente desgastado”.

Por isso, o social-democrata defendeu a realização de um “debate alargado e sério” sobre a regionalização que, frisou, se for bem feita pode consubstanciar formas diferentes de governar o país.

E ressalvou: “com a regionalização podemos vir a ter uma administração central mais eficaz e menos despesista”.

Na sua opinião, Portugal é um país “inadmissivelmente concentrado“, referindo que poder-se-ia avançar com a descentralização em cinco regiões, definindo competências e um controlo nas finanças regionais.

O ex-autarca do Porto disse ainda que é uma “contradição” o Governo demitir o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) e, depois, defender que o cargo deve ser eleito por todos os autarcas.

“Não compreendo como é que, por exemplo, o presidente da CCDR-N é demitido esta semana, tendo ele o apoio maioritário dos autarcas da região Norte, e é demitido pelo Governo que, ao mesmo tempo, diz que aquele lugar deve ser eleito pelos autarcas todos, há aqui uma contradição”, frisou o social-democrata.

Na semana passada, o Governo PS comunicou a exoneração do presidente da CCDR-N, Emídio Gomes, “por incumprimento reiterado das orientações da tutela sobre matérias inerentes ao exercício das suas funções”.

Após este anúncio do Governo, vários autarcas do Norte criticaram o modo como Emídio Gomes foi afastado da presidência da CCDR-N, ressalvando recear que o novo responsável possa acentuar o desequilíbrio que já existe na distribuição de fundos europeus.

Segundo Rui Rio, se o Governo de António Costa quer demitir demite, mas não pode ao mesmo tempo dizer que esse lugar é para ser eleito por todos os autarcas porque, se assim fosse, Emídio Gomes tinha o apoio da maioria.

Questionado várias vezes pelos presentes na sala sobre uma eventual candidatura à liderança do PSD, Rui Rio fugiu sempre à pergunta, insistindo que o partido teve um congresso há meses com eleições democráticas.

“Houve um congresso e candidatou-se quem quis, ganhou quem ganhou”, rematou.

ZAP / Lusa

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