O Governo de António Costa nunca aprovou as contas da CP – Comboios de Portugal. “É tapar o sol com a peneira”, diz a economista Mariana Abrantes de Sousa.
Desde que António Costa foi nomeado primeiro-ministro, em 2016, que o Estado não aprova relatórios e contas da CP – Comboios de Portugal. Há quatro anos que nem o Ministério das Finanças nem o Ministério das Infraestruturas e da Habitação validam as contas da empresa ferroviária.
“Demorar tanto tempo a aprovar contas é tapar o sol com a peneira. Não é por não aprovar que se pode ignorar os prejuízos da empresa”, diz a economista Mariana Abrantes de Sousa ao DN/Dinheiro Vivo. Nos últimos quatro anos, o Estado injetou mais de 1.700 milhões de euros na CP.
Embora as contas não tenham nenhum problema a nível técnico, a economista explica que, a nível político, “aprovar as contas com estes prejuízos tem consequências a nível da despesa pública”.
Só no ano passado é que foram validadas as contas de 2015, faltando ainda validar os relatórios e contas entre 2016 e 2019. Apesar de os prejuízos terem vindo a diminuir, os capitais negativos continuam a rondar os 1,7 mil milhões de euros.
Contactados pelo DN/Dinheiro Vivo, os ministérios que tutelam a CP recusaram-se a prestar quaisquer esclarecimentos.
Ainda este mês, o Governo aprovou um empréstimo de emergência à CP no valor de 41 milhões de euros para assegurar liquidez imediata à empresa.
Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, disse que este empréstimo deve ser reconfigurado numa transferência de capital de modo a aumentar a dívida da CP, que ultrapassa os dois mil milhões de euros.
O Governo optou por um empréstimo de urgência “para não haver nenhuma rutura de liquidez”, explicou o ministro. “Com o contrato de serviço público na mão, quero resolver isso tudo, quero que o empréstimo não seja empréstimo”.
Só no mês de abril, a companhia perdeu 22 milhões de euros devido ao impacto económico da pandemia de covid-19, provocado pela forte quebra no número de passageiros e das receitas. A CP reduziu, em média, a sua operação para 75% do habitual, mas a procura ficou abaixo dos 10%. No final de maio, a CP anunciou que só tinha dinheiro até junho.