O ex-gestor da fortuna de Helder Bataglia na Suíça diz não se lembrar do porquê do empresário ter mandado transferir 1,5 milhões de euros para uma sociedade de Ricardo Salgado.
O julgamento do ex-banqueiro Ricardo Salgado arrancou esta terça-feira, em Lisboa, sem a presença do mesmo. A primeira sessão ficou marcada pela reticência de Francisco Machado da Cruz em responder, por receio de ser incriminado, e por Michel Canals ter alegado que não se lembrava de mandar transferir 1,5 milhões de euros para Ricardo Salgado.
Machado da Cruz, antigo contabilista da Espírito Santo International, mostrou-se reticente a testemunhar, levando a um atraso de meia hora no início da sessão. O arguido referiu que tinha receio de poder vir a ser incriminado, uma vez que já foi acusado no processo do universo do Grupo Espírito Santo (GES).
No entanto, acabou por responder às perguntas, após ser avisado de que a justificação para a recusa poderia ser, mais tarde, avaliada judicialmente.
“Fui acusado no processo do universo GES, para surpresa minha, em 36 crimes. Tudo o que disse no inquérito do universo GES foi a verdade e só a verdade. Sempre colaborei com a justiça, a comissão parlamentar de inquérito, a CMVM… Só o facto de conhecer Ricardo Salgado ou qualquer atividade do GES pode ser utilizado pelo MP para me incriminar de novo. Já me chegam 36 crimes, não preciso de nenhum novo”, disse Machado da Cruz.
Sobre a sua ligação a Hélder Bataglia, o ex-contabilista diz que o conheceu entre 1993 e 1994. Terá sido sido convidado para trabalhar na empresa AMDL, em Angola, entre 2000 e 2001, chegando ambos a viver juntos em Luanda durante “poucos meses”.
Depois disto, Machado da Cruz terá ido trabalhar para a Suíça, para outra empresa do universo GES, e não voltou a ter “contactos próximos” com Bataglia.
Por sua vez, segundo o Jornal de Notícias, o ex-gestor da fortuna de Helder Bataglia na Suíça, Michel Canals, diz não se lembrar do porquê do empresário luso-angolano ter, há uma década, mandado transferir 1,5 milhões de euros para uma sociedade, sediada no Panamá, controlada pelo ex-banqueiro.
Confrontado com um documento, enviado para a gestora de património Akoya, a solicitar a transferência de 1,5 milhões de euros a favor da Savoices, assinado por Helder Bataglia, o ex-gestor disse só ter visto esse documento antes da audição e que não havia nenhuma assinatura ou carimbo em seu nome — sendo incapaz de recordar a razão para a transferência.
“Não consigo ver a justificação no documento. Com certeza falou-se verbalmente desta justificação, mas não me lembro especificamente qual foi”, afirmou.
Ricardo Salgado ausente
O advogado de Ricardo Salgado manteve o silêncio sobre a eventual presença do ex-banqueiro no julgamento que começou esta terça-feira.
“Não vamos transmitir aqui, a vocês, as nossas questões processuais. É por respeito pelo tribunal. O Dr. Ricardo Salgado tem muito respeito pela justiça e pelo tribunal. Já explicámos ao tribunal as razões, tem suporte legal, foi autorizado pelo tribunal e mais não poderei dizer sobre o assunto”, afirmou o advogado Francisco Proença de Carvalho quando questionado por jornalistas sobre a ausência do seu cliente.
Os advogados de defesa já tinham avançado que Ricardo Salgado não deveria estar presente na primeira sessão devido à sua idade, 77 anos, e ao risco que corria perante a pandemia de covid-19.
No entanto, o advogado Adriano Squilacce disse posteriormente que a ausência de Salgado durante a audição das testemunhas poderia conduzir a nulidades e irregularidades, mas admitindo que tal opção estava justificada pela lei em tempo de pandemia.
“Tudo o que dissemos na sessão anterior e no processo fica no processo, o tribunal tomará as decisões e, como sempre disse, cada vez que não concordemos com alguma coisa agiremos nos termos legais”, acrescentou Francisco Proença de Carvalho.
Sobre Ricardo Salgado ter de estar presente na última sessão, Francisco Proença de Carvalho voltou a preferir o silêncio: “Não vou dizer mais nada sobre isso”.
“É a lei que dá esse direito a Ricardo Salgado e a todas as pessoas que estejam nas condições dele. Não fomos nós que inventámos a lei. Todos nós sabemos a situação em que o país está. O Tribunal considerou válidos os nossos argumentos e não faremos mais do que respeitar a lei”, acrescentou.
Daniel Costa, ZAP // Lusa
Bem…então agora lembraram-se de perguntar ao homem por trocos?! Tenham juízo
Eu também não me lembro do que fiz a um euro e meio que trazia na carteira.
É a clássica defesa.
Nem será um caso de memória curta, mas simplesmente como se há de o homem recordar de uma pechincha no meio de tantas centenas de milhões que levaram a volta! Até tem o direito para ficar calado e não comparecer em tribunal e pior ainda, andar à solta depois de tão grandes fraudes, é o paraíso para malfeitores de alta classe!
Como se lembrar de uma “coisa” tão insignificante ??????……… É como lembrar-me o que fiz aos cinco € que tinha no porta moedas após estes Anos todos !….Talvez uns tempos ao fresco de uma cela o faça recordar !
será que tomei o pequeno almoço? que país lindo é Portugal, se eu não me lembrar de deixar dinheiro para pagar minha casa e o carro, será que poço usar a falha de memoria? não digo deixar de querer pagar como esses ladrões