HAITHAM IMAD/EPA

Mercado negro tomou controlo das notas e moedas, em vias de extinção na Faixa, mas cada vez mais necessárias para obter bens essenciais. “Reparadores de dinheiro” tentam ajudar a população.
Sem multibancos (o último terá deixado de funcionar no final do ano passado) e com Israel a bloquear constantemente a entrada de novas notas e moedas no enclave, a Faixa de Gaza enfrenta um novo, grande problema.
Os palestinianos estão desesperados e começaram a restaurar as suas notas amarrotadas e rasgadas e moedas enferrujadas para poderem comprar bens essenciais, aponta o Financial Times.
A maioria dos bancos fechou devido à ofensiva israelita, e sem um sistema bancário tradicional, o poder económico está agora nas mãos de corretores do mercado negro.
A crise começa nos comerciantes de mercadorias, que negoceiam bens provenientes de Israel e do Egito e pagam o que compram através de transferências bancárias. Mas na hora de venderem os produtos aos compradores locais de Gaza, exigem pagamentos em dinheiro.
Quem aprendeu a lucrar com isto foram os corretores de dinheiro do mercado negro. Estes “homens de negócios de topo”, como descreve a CBC, compram dinheiro aos comerciantes importadores e vendem-no por transferência bancária a preços inflacionados ao povo, desesperado, que precisa de dinheiro físico para comprar os bens essenciais.
É um ciclo vicioso, e a margem de lucro das transações em numerário disparou nos últimos meses face aos bombardeamentos israelitas, com estes corretores a cobrarem até 30% do valor em taxas de câmbio, segundo o FT.
O caos económico não afeta só a população local palestiniana: os voluntários e funcionários das várias organizações humanitárias na Faixa também se veem forçados a depender dos comerciantes para receberem os seus salários: perdem até 40% do que ganham em comissões, e algumas organizações já estão a dar-lhes subsídios para os ajudar.
O desespero está a criar uma nova profissão na zona altamente afetada pelos bombardeamentos israelitas: “reparador de dinheiro”.
Um antigo joalheiro entrevistado em dezembro pelo Los Angeles Times repara cerca de 200 notas por dia. Cobra uma taxa simbólica, dependendo do estado da nota. E assim, tenta manter a economia a funcionar como devia, já que os comerciantes também não aceitam notas estragadas.
Guerra no Médio Oriente
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1 Abril, 2025 Gaza está a ficar sem dinheiro físico. Ciclo vicioso forçou nova profissão