Trabalhar 12 horas por dia, seis dias por semana é “uma bênção” para a geração mais jovem. Esta foi a posição defendida em abril por Jack Ma, co-fundador do grupo chinês Alibaba.
Quatro meses depois, Jack Ma sustenta que, no futuro, os seres humanos apenas vão precisar de trabalhar quatro horas por dia, três vezes por semana, completando uma semana de 12 horas de trabalho – e a culpa é da inteligência artificial.
“Nos próximos 10, 20 anos, todos os seres humanos, países e governos devem focar-se em reformar o sistema educativo, garantir que os nossos filhos encontram um emprego, com trabalho três vezes por semana, quatro horas por dia”, sustentou o gestor chinês numa conferência internacional sobre inteligência artificial que decorreu em Xangai, na China.
Sem esta mudança, contudo, “todos vamos ter um problema”, alerta Jack Ma, citado pela Bloomberg. O líder chinês entende que o sistema educativo está ultrapassado e moldado para o período industrial. Num futuro em que as máquinas poderão ser melhores do que os humanos nas tarefas repetitivas e que exigem memória, as escolas têm de ajudar as pessoas a serem mais criativas.
Jack Ma diz também que não está preocupado com o eventual desemprego criado pelas máquinas: os computadores só têm chips, mas os seres humanos têm o coração. “É no coração que está a sabedoria.”
As declarações desta quarta-feira de Jack Ma são um contraponto àquilo que foi dito em meados de abril. “Pessoalmente, penso que ter a possibilidade de trabalhar 996 é uma grande bênção”, disse Jack Ma, referindo-se ao horário das nove horas da manhã às nove horas da noite, seis dias por semana, numa mensagem dirigida aos funcionários da sua empresa. “Se trabalhas na Alibaba tens de estar pronto para trabalhar 12 horas por dia. De outra forma porque é que vieste para a Alibaba? Não precisamos daqueles que trabalham confortavelmente durante oito horas”, escreveu num chat da empresa nessa altura.
A declaração do homem mais rico da China deu a várias críticas nas redes sociais, onde alguns trabalhadores trocaram exemplos do excesso de trabalho suplementar a que eram sujeitos nas suas empresas.
A polémica foi tanta que o fundador da gigante tecnológica teve de esclarecer que a decisão de trabalhar horas extra deve ser do funcionário – e que não se trata de uma imposição das empresas.
Para além do “996”, existe outro horário mais penoso para os trabalhadores chineses. A Ant Financial, empresa também detida por Jack Ma, instituiu um horário “9106” — das nove da manhã às dez da noite, seis dias por semana.