Três semanas depois do desaparecimento de um casal de turistas franceses na Madeira, foram encontrados os corpos. Os padeiros Véronique e Laurent Blond terão sido vítimas de um acidente nas famosas, e perigosas, levadas da ilha.
O cadáver de um homem foi encontrado nesta sexta-feira em São Vicente, na Madeira, depois de na quinta-feira ter sido encontrado o de uma mulher, como indicou a PSP.
Não há grandes dúvidas de que sejam os corpos de Laurent e Véronique Blond, turistas franceses de 58 e 56 anos que estavam desaparecidos desde 16 de Março passado. Mas só os testes de ADN vão permitir confirmar oficialmente as identidades.
A descoberta dos corpos foi notícia também em França, onde se lamenta a morte do casal de padeiros residentes em Beaumont-de-Lomagne, no departamento de Tarn-et-Garonne na região da Occitânia, no sul de França.
Os cadáveres terão sido descobertos por um amigo da filha do casal e que vive na Madeira. Estariam perto da Fajã da Areia, zona situada no norte da ilha, em São Vicente, numa área de levadas que é muito popular entre os turistas, mas também muito perigosa.
Pista de acidente é a mais provável
O casal terá partido para uma caminhada sem a filha que estava cansada e, nesta altura, a pista do acidente é a mais plausível – até porque os passeios pelas levadas são tão bonitos como perigosos.
As levadas são canais de rega que captam a água das montanhas para ser usada nas aldeias. Trata-se de uma rede de quase 2.000 quilómetros que foi construída por escravos a partir do século XVI e que se estende por toda a Madeira, sendo essencial para a ilha.
Ao longo destas levadas existem caminhos que são, actualmente, uma importante atracção turística, sobretudo para quem gosta de caminhadas ao ar livre. Mas alguns destes caminhos são muito estreitos e há o risco de queda, especialmente em zonas muito íngremes na encosta da montanha.
Em algumas zonas, há passagens que criam uma sensação de vertigem com a perspectiva do vazio a alguns centímetros dos pés, o que pode fazer desequilibrar caminhantes mais inexperientes.
Além disso, o clima é muito húmido naquela zona do norte da Madeira, com caminhos escorregadios e lamacentos, o que pode acrescentar dificuldades a turistas menos habituados a caminhadas desta natureza.
O próprio resgate dos corpos foi complicado por se encontrarem em zonas de ravina. Estavam distanciados por “cerca de 10 metros”, de acordo com as autoridades nacionais, e tinham roupa que coincide com a descrição feita pela filha do casal aquando do desaparecimento.
Caíram na “armadilha das levadas”, diz-se em França
Em França, a trágica morte do casal também é notícia, com o editorial do jornal francês La Dépêche du Midi a salientar que Laurent e Véronique foram surpreendidos da pior forma numa “ilha paradisíaca” , “um pequeno mundo encantado”, onde “Cristóvão Colombo casou com a filha de um explorador” antes de encontrar “o caminho para a América”.
“Uma felicidade que termina em tragédia”, destaca o jornal que salienta a beleza e o perigo das levadas, frisando que o casal pode ter sido vítima das suas “armadilhas”. Mas deixa em aberto a possibilidade de crime, salientando que as dúvidas quanto ao que de facto aconteceu vão persistir devido à zona de difícil investigação.
Susana Valente, ZAP // Lusa
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