Fim do direito ao aborto nos EUA leva homens a apressarem-se para fazer vasectomias

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Erik S. Lesser / EPA

Os homens norte-americanos estão a entupir as marcações de vasectomias dos consultórios dos urologistas e a grande maioria cita a decisão do Supremo Tribunal como uma das razões para quererem avançar com a esterilização.

A decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos de reverter a decisão Roe v. Wade e acabar com o direito federal ao aborto não está a ser apenas sentida pelas mulheres — e há cada vez mais homens norte-americanos que estão a recorrer às vasectomias como uma forma de garantirem que não engravidam as parceiras.

Uma vasectomia é uma forma de esterilização masculina, sendo um procedimento relativamente simples que envolve o corte nos canais por onde passam os espematozóides, impedindo-se assim que estas células reprodutoras se misturem no resto do esperma.

Vários urologistas que são especializados no procedimento estão a sentir um grande aumento nas marcações, como é o caso de Doug Stein, um médico na Flórida que é conhecido como o “rei das vasectomias“.

Stein revela ao The Washington Post que recebia em média quatro ou cinco pedidos para vasectomias por dia antes de sexta-feira. Desde então, o número disparou para entre 12 e 18 marcações diárias.

“Foi muito, muito notório na sexta-feira. O número registado nesse fim de semana foi enorme e os valores que continuam a chegar excedem — e muito — o que notamos no passado. Muitos dos homens estão a dizer que já estavam a pensar em fazer uma vasectomia há algum tempo e que a decisão do Supremo foi o factor final“, explica.

Dada a maioria conservadora no Supremo e a divulgação em Maio de um rascunho confidencial que fazia adivinhar a decisão da semana passada, há já alguns meses que têm surgido campanhas que encorajam os homens, especialmente aqueles que já tiveram filhos, a fazer vasectomias.

Stein já tem a agenda cheia até ao final de Agosto e tem notado um aumento nos homens com menos de 30 anos e sem filhos a marcar o procedimento.

“Eu diria que pelo menos 60% ou 70% mencionam a decisão do Supremo Tribunal. E alguns deles têm opiniões tão sofisticadas para homens jovens que até estão a pensar na opinião do juiz Thomas onde este diz que a contracepção pode ser a seguir. E isso é chocante, é algo que não entrava nas conversas até esta semana”, explica John Curington, sócio de Stein.

Este aumento a pique não se limita só ao gabinete de Stein. Philip Werthman, um urologista de Los Angeles, também notou uma subida de “300 a 400%” nas marcações de vasectomias. Já Esgar Guarín, baseado no Iowa, deu conta de um disparo de “200 a 250%” no tráfego do seu site onde explica os detalhes específicos do procedimento.

Marc Goldstein, urologista e diretor do Centro para a Medicina da Reprodução Masculina no Centro Médico Weill Cornell, em Nova Iorque, afirma que geralmente recebe o dobro de pacientes que querem reverter vasectomias em comparação com aqueles que as vão fazer — mas, nos últimos dias, a tendência reverteu-se.

O clínico acrescenta que não é a primeira vez que um terramoto político, económico ou social causa um aumento nas vasectomias e que este também foi o caso em 2008, quando a crise económica causou uma maior preocupação entre os homens que não tinham meios para sustentar filhos que pudessem vir a ter.

Para além destas mudanças conjeturais, o crescimento da popularidade do procedimento também se explica com a mudança estrutural que está a acontecer sobre o papel dos homens no planeamento familiar. Hoje em dia, a contracepção já não é tão vista como unicamente uma responsabilidade feminina.

Werthman lembra que o aumento nas vasectomias está a ser notado mesmo em locais onde o direito ao aborto não está em risco, como é o caso da Califórnia, que é um dos estados mais progressistas do país.

“Se há algum estado no país que não vai permitir que o direito ao aborto seja revogado, acho que esse estado é a Califórnia”, afirma o clínico, que acredita que tem havido “uma mudança no espírito dos homens” e que estes levam cada vez mais a sério o seu papel no planeamento familiar.

Adriana Peixoto, ZAP //

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14 Comments

    • Se não quer a criança porque não pensa e não previne? Se ele e a parceira tivessem cuidado o aborto não era preciso. Por isso, a proibição do aborto tem lógica.

      • Porque os homens querem tudo “ao natural” e querem ter muitas relações ocasionais com muitas e variadas mulheres, de uma noite só. Não querem que a mulher lhe apareça passado um tempo a bater a porta a dizer que está grávida. Então lá nos USA , essa regra de relações ocasionais é o que mais se pratica.

    • Se não pode decidir, se alguém manda na vontade do homem!..
      Porque o homem apenas obdece a mulher é isso o progressismo, a opressão ao homem?!
      Misandria, vale tudo contra o homem e a sua livre escolha e vontade, tal como a mulher tem.. ou só as mulheres podem?!

  1. Entende-se por esta noticia que o aborto era/é praticado como método contraceptivo.

    O que é bastante grave, numa sociedade que se diz evoluída, com tanta tecnologia, tudo digital….
    Mas depois vai-se a ver e as cabeças são pré históricas…

    Uma questão … (só para pôr as gentes a pensar)

    Se os homens fazem uma vasectomia e as mulheres continuam férteis…
    Quem é que depois as vai engravidar?

    • Há muitos gajos que congelam o sémen e recebem, dinheiro por isso. Elas podem sempre recorrer a essas clínicas de armazenamento de sémen. Já há muitas que recorrem a essas clínicas, até cá em Portugal.

        • Tanto é o futuro como já existem outros futuros a serem desenvolvidos. Por exemplo uma cientista chinesa já conseguem aguentar o feto vivo durante 3 meses dentro de uma máquina que ela mesma inventou. Fez a fecundação in vitro e depois passa para a maquina. por isso o futuro da humanidade sabe-se lá qual vai ser. Até clones de humanos os cientistas querem fazer.

  2. O Supremo Tribunal dos Estados Unidos deu um poderoso exemplo ao mundo civilizado. O aborto é um assassínio. Espero que o exemplo seja seguido em Portugal.

    • Então vê lá se usas o preservativo ou a pílula para homens, que é para depois a mulher não andar por aí aflita caso a pílula dela não funcione. A ver se existe algum respeito pelas mulheres.

      • Sim, qual é o problema?
        Não havia vida antes dos contraceptivos?
        Acho que dantes havia muito mais respeito pelas mulheres.

        • Antes dos contraceptivos haviam era muitos abortos. Até já era normal as mulheres ou raparigas irem fazer abortos, principalmente quando já tinham muitos filhos e não era viável economicamente terem mais. E nessa altura eram muitos mais os abortos praticados do que hoje em dia, muito devido á falta de contraceptivos. Muitas mulheres morriam devido a abortos mal feitos….e muito mais haveria para dizer……..
          Você deve ser é casada com o José.

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