Após a descoberta de mais um conjunto de documentos confidenciais que Biden guardou na garagem de casa, surgem muitas questões sobre qual o impacto legal e político do caso para o Presidente.
A Casa Branca confirmou oficialmente que foi encontrado um segundo conjunto de documentos confidenciais que estavam na posse de Joe Biden. Se o primeiro grupo estava num escritório antigo seu, o segundo estava na garagem numa das casas do chefe de Estado no Delware, o seu estado de origem.
Os advogados do Presidente confirmaram que foi encontrado “um pequeno número de documentos confidenciais da administração Biden-Obama” e que “todos, à excepção de um” estavam na garagem, estando o outro num quarto de arrumos adjacente à garagem.
Tal como após a descoberta do primeiro conjunto de ficheiros, o Departamento de Justiça foi alertado imediatamente e os documentos já estão na sua posse. O procurador-geral Merrick Garland, que foi nomeado por Biden, também anunciou a criação de um conselho especial que vai avaliar a conduta do Presidete, tal como o fez com Trump.
Biden já reagiu às descobertas. “As pessoas sabem que eu dou grande importância no que diz respeito aos documentos confidenciais. Como parte deste processo, os meus advogados fizeram buscas nas minhas casas e encontraram um pequeno número de documentos”, relata, garantindo que está a colaborar com as autoridades.
🇺🇸 — FOX REPORTER DOOCY: “Classified materials next to your Corvette? What were you thinking?!”
PRES. BIDEN: “My Corvette’s in a locked garage so it’s not like it’s sitting on the street.”
— Belaaz News (@TheBelaaz) January 12, 2023
“Materiais confidenciais ao lado do seu Corvette. O que é que lhe passou pela cabeça?”, confrontou um jornalista numa conferência de imprensa, ao que Biden respondeu que os documentos estavam “numa garagem trancada”. “Não é como se estivessem no meio da rua”
O que foi encontrado?
O primeiro conjunto de documentos foi descoberto a 2 de Novembro de 2022 pelos advogados de Joe Biden, apesar de a notícia só ter sido conhecida esta semana. Os ficheiros estavam num armário trancado num escritório que o chefe de Estado usou entre 2017 e 2020 num think tank em Washington D.C.
A CNN avança que estes ficheiros continham informações dos serviços de inteligência norte-americanos sobre o Irão, a Ucrânia e o Reino Unido, mas esta informação ainda não foi confirmada oficialmente.
Os documentos foram prontamente entregues ao Departamento de Justiça e Biden mostrou-se disponível para prestar esclarecerimentos às autoridades. Os seus advogados decidiram fazer buscas nas duas casas de Biden no Delaware para se certificarem de que não existiam mais ficheiros esquecidos, tendo aí encontrado um segundo conjunto na garagem a 20 de Dezembro
Pode Biden estar em sarilhos com a justiça?
Dada a colaboração activa de Biden com as autoridades e não havendo razões para suspeitar de que estes documentos possam ter chegado às mãos erradas, pelo menos por enquanto, é pouco provável que o chefe de Estado venha a ser acusado de algum crime.
Esta quinta-feira, Richard Sauber, um dos advogados de Biden, deu a entender que a situação está controlada do ponto de vista legal: “Temos cooperado de perto com o Departamento de Justiça na sua revisão dos documentos e vamos continuar a cooperar com o conselho especial. Estamos confiantes de que a análise vai mostrar que estes documentos foram deixados naqueles lugares por acidente e que o Presidente e os seus advogados agiram prontamente após a descoberta do erro”.
Dores de cabeça políticas
O problema parece então ser mais político. Se os Republicanos estão sempre sedentos de mais munições para atacar os Democratas, este caso dá-lhes precisamente isso, especialmente no contexto dos problemas legais de Trump por também ter guardado inadvertidamente documentos confidenciais.
Apesar das aparentes semelhanças, as circunstâncias dos casos de Trump e Biden são bastante diferentes. Primeiramente, o próprio número de documentos é bastante diferente — o número de documentos que Trump tinha em sua posse ultrapassava os 300, enquanto que Biden tinha cerca de 10.
Outra diferença é o facto de Biden estar a colaborar de perto com as autoridades, enquanto que Trump recusou repetidamente devolver os ficheiros, o que obrigou o FBI a fazer uma rusga sem precedentes à sua casa na Flórida para os reaver. Durante a sua presidência, Trump também tinha o hábito de rasgar documentos oficiais e descarregá-los pela sanita.
Há ainda mais preocupações sobre se os documentos que Trump guardava em casa — onde se incluíam informações sobre o arsenal nuclear de vários países — nunca chegaram às mãos de espiões estrangeiros, já que a mansão de Mar-A-Lago era notoriamente um alvo para os inimigos dos EUA.
Mesmo assim, os Republicanos já estão a preparar os ataques ao chefe de Estado, especialmente depois de Biden ter repetidamente acusado Trump de ser “irresponsável” pela forma como lidou com estas informações sensíveis.
Há ainda várias questões sem resposta. Por que é que a Casa Branca só informou o público desta situação agora quando já o sabia desde 2 de Novembro, uma semana antes das intercalares? Foi parte da estratégia eleitoral do partido manter o caso em segredo? Quando é que Biden soube pela primeira vez deste problema?
As agências de inteligência estão também já a avaliar se estes documentos alguma vez estiveram em risco ou foram potencialmente acedidos por espiões estrangeiros, tal como fizeram no caso de Trump.
Kevin McCarthy, o recém-eleito novo Presidente da Câmara dos Representantes, que os Republicanos reconquistaram nas intercalares, já fez saber que o partido vai ordenar uma investigação a Biden. O caso pode ainda ser o pretexto ideal para unir os congressistas, que nos últimos dias estiveram muito ocupados com guerras internas sobre a nomeação de McCarthy.
Pode isto influenciar a acusação a Trump?
Desde Novembro, quando Garland nomeou o procurador Jack Smith para liderar o conselho especial que está a analisar a conduta de Trump com os ficheiros confidenciais e também o seu papel nos motins de 6 de Janeiro no Capitólio, que se tem gerado uma expectativa de que o Departamento de Justiça acuse oficialmente o ex-Presidente de vários crimes.
Trump pode enfrentar assim acusações de crimes graves, incluindo a violação do Acto de Espionagem, obstrução de justiça ou manuseio incorrecto de materais do Governo, relata o Finantial Times.
A investigação de Smith é, teoricamente, independente daquela que vai ser feita a Biden. No entanto, dada a natureza sensível de uma possível acusação a Trump, que pode ser interpretada como uma forma de o impedir de se recandidatar à presidência ou como um gesto político de um procurador-geral que foi nomeado por Biden, é provável que esta situação leve a que o Departamento de Justiça seja ainda mais cauteloso na hora de acusar Trump oficialmente.
E falavam que Trump tinha documentos secretos em casa! Os Republicanos devem estar a rir-se às gargalhadas. Andava-se a rir o roto do esfarrapado. As esquerdas são sempre de desconfiar.