Trump terá “vendido” a embaixada dos EUA em Israel e quis despedir Ivanka via tweet

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Donald Trump, ex-Presidente dos Estados Unidos

O mais recente livro sobre a administração Trump detalha os bastidores e trocas de favores em torno da polémica mudança da embaixada dos EUA em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

Um novo livro sobre Donald Trump, da autoria da jornalista do The New York Times Maggie Haberman dá mais detalhes sobre os bastidores da sua administração — e uma das revelações mais bombásticas é relativa à sua polémica decisão de mudar a embaixada dos EUA em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

Em 2018, a administração Trump anunciou que iria oficializar o seu reconhecimento de Jerusalém como a capital israelita mudando a sua embaixada, que antes estava em Tel Aviv, para esta cidade.

Visto ser uma cidade disputada entre Israel e a Palestina (com os dois lados a reclamarem-na como sua capital) a decisão motivou muitos protestos na Faixa de Gaza e pelo menos 58 palestinianos foram mortos nos confrontos com as forças israelitas. Os conflitos também causaram à volta de 2700 feridos.

Agora, o livro Confidence Man: The Making of Donald Trump and the Breaking of America revela que esta decisão terá resultado de uma troca de favores.

Sheldon Adelson, o bilionário que foi o maior doador do Partido Republicano na última década e que morreu em Janeiro de 2021, terá feito uma doação de 20 milhões de dólares a um comité político para que este pressionasse Donald Trump a avançar com a controversa mudança da embaixada.

“O único foco de Adelson era Israel. Com Trump, viu uma oportunidade de mudar as políticas americanas relativas a Israel e deu 20 milhões de dólares a um comité que estava a trabalhar para o eleger. Enquanto candidato, Trump prometeu que iria abrir uma embaixada em Jerusalém rápido e depois da sua vitória, Adelson pressionou-o a agir”, escreve Haberman no livro.

A jornalista relata ainda que Trump nomeou David Friedman, o seu advogado especialista em falências, para ser embaixador em Israel já com a intenção de mudar “a abordagem dos EUA na região”. Foi também para isto que o genro de Trump e marido de Ivanka, Jared Kushner, foi recrutado para ser o mediador do plano de paz entre Israel e a Palestina, apesar das suas ligações ao sector financeiro israelita.

“Ele (Friedman) e Kushner, ignorando as preocupações sobre tratar os palestinianos como se tivessem numa posição igual à de Israel na busca da paz, avançaram com um conjunto de medidas, como o corte do apoio financeiro aos palestinianos, força a Organização para a Libertação da Palestina a sair dos seus escritórios em Washington, e a mudança da embaixada”, acrescenta.

A influência de Adelson nas políticas de Trump em Israel era conhecida pelos israelitas. “Um confidente do primeiro-ministro de Israel creditou ‘o cérebro de David Friedman, o dinheiro de Sheldon Adelson e os tomates de Trump‘ pela decisão sobre a embaixada”, escreve Haberman.

No total, a família de Adelson investiu 133 milhões de dólares na campanha presidencial de Donald Trump em 2016 e nas campanhas de candidatos Republicanos ao Congresso. O então Presidente até condecorou Miriam Adelson, esposa de Sheldon, em 2018.

Os laços estreitos entre o bilionário e a administração ficaram ainda mais óbvios quando, nas semanas finais do seu mandato, Trump vendeu aos Adelsons a casa do embaixador norte-americano nos subúrbios de Tel Aviv pela módica quantia de 67 milhões de dólares, o que a tornou a casa mais cara alguma vez vendida em Israel. Este negócio terá servido para dificultar qualquer potencial tentativa de Joe Biden de reverter a mudança da embaixada.

Trump quis despedir Ivanka e Kushner via tweet

O livro aborda ainda outras revelações surpreendentes sobre os quatro anos de Trump na Casa Branca. De acordo com Haberman, o chefe de Estado queria despedir a filha Ivanka e o genro Jared Kushner dos cargos de conselheiros com um tweet. No entanto, o seu então chefe de gabinete John Kelly fê-lo voltar atrás.

O Presidente terá também várias vezes falado sobre querer bombardear laboratórios onde se produzem drogas no México. A ideia terá surgido após uma conversa de Trump com Brett Giroir, um responsável de saúde pública ligado às forças armadas.

Dado estar a usar o seu uniforme, Trump assumiu que Giroir era um responsável militar e recomendou bombardear os laboratórios para se evitar ao problema do tráfico de drogas transfronteiriço. A sugestão de Trump terá chocado o Secretário da Defesa, Mark Esper, e a Casa Branca disse depois a Geroir que deixasse de falar com o Presidente com a farda vestida.

No seu primeiro encontro com Theresa May, que na altura era primeira-ministra britânica, Trump também a terá pressionado a agir para bloquear um projecto de energia eólica na Irlanda do Norte que ia avançar perto da sua propriedade pessoal.

Durante a campanha eleitoral em 2016, Haberman escreve que os conselheiros de Trump estavam a discutir como lidar com as perguntas sobre a sua recusa de mostrar a documentação dos seus impostos.

Trump terá inventado uma desculpa logo no momento para se esquivar, sugerindo dizer que estava a ser alvo de uma “auditoria”: “Posso dizer ‘vou mostrá-los quando já não estiver sob uma auditoria’ porque eu nunca não vou estar sob auditoria”.

Um hábito recorrente de Trump, havendo até já fotografias que o comprovam, era rasgar documentos oficiais e descarregá-los para sanita abaixo. De acordo com Haberman, os funcionários da Casa Branca tiveram de desentupir várias vezes a sanita por causa disto.

Esta práctica de Trump está também agora a ser investigada no âmbito do caso relativo ao desaparecimento de documentos confidenciais — alguns até sobre armamento nuclear — e que motivou a rusga do FBI à sua casa.

Adriana Peixoto, ZAP //

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