Republicanos preparam-se para dois anos de “guerra civil”

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gageskidmore / Flickr

Donald Trump, ex-Presidente dos Estados Unidos

Já se desenham conflitos internos na Câmara dos Representantes e um duelo aguerrido entre Donald Trump e Ron DeSantis que prometem aquecer o partido Republicano até 2024.

Tanto Republicanos como Democratas têm razões de queixa e razões para celebrar os resultados das eleições intercalares.

Se, por um lado, os Democratas perderam a Câmara dos Representantes e já não controlam o Governo em pleno, as sondagens tenebrosas que previam a perda do Senado não se confirmaram. Já os Republicanos recuperaram a câmara baixa do Congresso, mas a prometida “onda vermelha” nunca chegou a rebentar.

Mesmo antes de ser empossada, a maioria Republicana na Câmara dos Representantes já promete vir a causar muitas dores de cabeça dentro do partido. As sondagens antecipavam uma maioria confortável entre 20 e 40 lugares, mas os resultados indicam que a margem Republicana será muito menor.

Isto já adivinha causar conflitos internos. Quanto mais pequena é a margem, mais poder tem cada representante — os Democratas que o digam, após todos os impasses que Joe Manchin e Kyrsten Sinema lhes causaram no Senado controlado por uma unha negra — e há um grupo de representantes que já prepara as munições.

A Câmara dos Representantes raramente tem os seus 435 lugares ocupados simultaneamente. No caso de morte, reforma ou demissão de algum dos representantes, é convocada uma eleição especial para esse lugar.

Perante este cenário, os partidos com maiorias pequenas geralmente mostram-se unidos para passarem a imagem de competência e responsabilidade, já que podem perder o controlo a qualquer momento. Mas este não parece ser o plano do Freedom Caucus, o grupo de representantes mais radical dentro dos Republicanos.

Espera-se que Kevin McCarthy, o actual líder da minoria Republicana, suceda a  Nancy Pelosi na Presidência da Câmara dos Representantes, o terceiro cargo mais importante na política norte-americana, depois do Presidente e vice-presidente.

Desde 2014 que McCarthy tem sido líder ou da maioria ou da minoria do partido e o partido confirmou a sua vitória na primeira ronda de votações secretas para a nomeação. No entanto, a escolha de McCarthy não foi feita sem oposição — Andy Biggs, membro do Freedom Caucus que recentemente fez uma brincadeira com o ataque sofrido pelo marido de Pelosi, também foi candidato.

Ainda antes da nomeação, o Caucus, que ficará agora com 45 representantes quando a nova Câmara tomar posse, já tinha enviado uma lista de exigências a McCarthy onde falava da necessidade de um reforço do poder para os presidentes dos comités e anunciava que ia apresentar o seu próprio candidato, relata o Axios.

A votação secreta resultou em 188 votos para McCarthy e 31 para Biggs. No entanto, apesar de precisar apenas uma maioria simples para assegurar a nomeação dos Republicanos, McCarthy precisa de 218 votos para ser eleito Presidente da Câmara dos Representantes.

É aqui que estes 31 votos — que podem até vir a ser mais caso outros membros do caucus também virem as costas a McCarthy — são decisivos. Para ser eleito, McCarthy precisa de practicamente todos os votos dos membros Freedom Caucus. Este é apenas o primeiro sinal do braço de ferro que está para vir.

Até agora, McCarthy rejeitou categoricamente ceder às exigências, mas é provável que acabe por fazer concessões para garantir a eleição, uma tradição Republicana que já foi cumprida por John Boehner e Paul Ryan.

Trump vs DeSantis

A batalha na Câmara dos Representantes não é a única que se adivinha no seio do partido Republicano. No plano presidencial, já se adivinha um duelo entre Donald Trump e Ron DeSantis.

A especulação confirmou-se esta terça-feira — o “anúncio importante” que Trump prometeu foi mesmo a sua recandidatura à Casa Branca, prometendo “tornar a América grande e gloriosa novamente” e garantindo até que “nem haveria guerra” na Ucrânia caso ainda fosse o chefe de Estado.

 

Este anúncio do ex-Presidente surge dois anos antes do sufrágio de 2024. A escolha desta data não é por acaso; especula-se que o anúncio precoce será uma tentativa de Trump de garantir a imunidade enquanto candidato presidencial, o que impediria que fosse acusado pelo Departamento de Justiça nos vários processos onde está a ser investigado. Esta possibilidade foi levantada por um memorando polémico do procurador-geral dos EUA, Merrick Garland.

O timing também não é por acaso devido à proximidade com as intercalares. Trump contava que os candidatos que apoiou surfassem a “onda vemelha” prometida pelas sondagens, o que reforçaria ainda mais o seu perfil e influência dentro do partido.

No entanto, os resultados ficaram aquém do esperado e houve até boatos sobre um possível adiamento do anúncio de Trump, mas o ex-chefe de Estado decidiu avançar na mesma para não dar um sinal de fraqueza.

Muitos dos candidatos mais radicais apoiados por Trump perderam corridas decisivas, principalmente Mehmet Oz, que foi derrotado pelo Democrata John Fetterman na eleição para o Senado na Pensilvânia.

Depois de Trump ganhar a presidência em 2016, a grande maioria dos Republicanos seguiu dois caminhos — ou se tornaram bajuladores cegos do chefe de Estado ou esconderam a sua oposição por receio de serem penalizados eleitoralmente, na esperança de que o culto de personalidade a Trump desaparecesse com o tempo. Os poucos que ousaram opôr-se publicamente, como Liz Cheney ou Jeff Sessions, pagaram por isso ao serem derrotados nas primárias por candidatos trumpistas.

Mas agora que a associação a Trump parece ter custado as intercalares ao partido, os opositores estão todos a sair da toca e há já vários rostos Republicanos influentes a questionar se Trump deve continuar a ser o maior trunfo eleitoral do partido.

É aqui que entra em cena Ron DeSantis, o governador da Flórida que Trump apoiou no passado e que é agora o seu principal alvo a abater. DeSantis foi inicialmente eleito em 2018, com o apoio de Trump, e foi agora reeleito com uma margem de quase 20 pontos.

DeSantis tornou-se uma figura conhecida a nível nacional graças à sua abordagem polémica à pandemia, tendo a Flórida sido um dos primeiros estados a abolir todas as restrições. Desde então que se tornou uma estrela em ascenção nos Republicanos e surgiram boatos de que desafiara Trump e se candidataria à presidência em 2024, boatos esses que até agora DeSantis não negou.

Trump imediatamente partiu ao ataque, tendo já chamado “medíocre” a DeSantis e dando-lhe a alcunha “Ron DeSanctimonious” (RonDeHipócrita) . O governador da Flórida continua em silêncio e não respondeu aos ataques.

Adivinha-se já um duelo quente e muitas polémicas entre os Republicanos que vão continuar leais a Trump ou os que vão saltar para o barco de DeSantis, num partido em clima de guerra civil.

Adriana Peixoto, ZAP //

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1 Comment

  1. Os EUA vão em breve mudar de nome para Estados Desunidos da América – e o Trump vai criar o seu próprio partido (poderá chamar-se MAGA ou mesmo Trump Party).

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